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Traficantes de animais silvestres buscam clientes no Facebook

Kurt Wagner

11/07/2019 16h16

(Bloomberg) — A mochila preta de Ali Ahamed transbordava com tartarugas, com suas cabeças minúsculas tentando encontrar uma saída. A apenas alguns metros de distância, no chão do quarto do hotel, cerca de 20 tartarugas maiores, de casco marrom-escuro, eram retiradas de malas pretas e viradas de costas para evitar que se arrastassem para debaixo do sofá.

Ahamed embarcou na Índia e havia chegado em Kuala Lumpur, capital da Malásia e lugar muito procurado por traficantes de animais, poucos dias antes para se encontrar com seu cliente, que havia descoberto o corretor de tartarugas por meio da rede social do Facebook meses antes. Os dois negociaram a venda pelo Facebook Messenger. As 55 tartarugas das malas incluíam a espécie de telhado vermelho, conhecida por seu pescoço colorido, e tartarugas com manchas pretas e pequenos pontos amarelos nos cascos. Ambas as espécies estão ameaçadas de extinção e ambas se tornaram animais de estimação populares na China continental e em Hong Kong.

Ahamed sorriu enquanto mostrava a mercadoria para um homem de short e camiseta cinza, segundo um vídeo do encontro publicado on-line. A troca no quarto de hotel foi uma oportunidade de ganhar dinheiro - uma única tartaruga de teto vermelho pode valer US$ 1,5 mil no mercado negro. Para o cliente, um investigador disfarçado que trabalhava com autoridades locais e a Comissão de Justiça para a Vida Selvagem, foi uma oportunidade para resgatar dezenas de tartarugas de água doce e colocar um dos principais corretores de animais selvagens atrás das grades. Depois de inspecionar a mercadoria, o cliente saiu do quarto e voltou com a polícia, que prendeu Ahamed no local.

Agora, quando o Facebook começa a focar em comunicações mais pessoais e atividades em grupo privado, a situação pode piorar. A tendência cria um sentido de urgência entre defensores de animais para fazer com que a rede social reprima o comércio do mercado negro antes que o controle se torne ainda mais difícil.

Com a decisão de tornar uma política anterior que proibia a venda de animais em extinção ainda mais rígida, o Facebook vetou em maio a venda entre usuários de todos os tipos de animais, de tartarugas de água doce a filhotes de cachorro. "Esta política nos permite ser muito agressivos...", disse Max Slackman, gerente de políticas do Facebook. A política anterior foi tão difícil de aplicar que a empresa a descartou, disse. "Na escala em que atuamos, treinar nossas equipes de revisão para identificar cada animal em extinção é simplesmente impossível", disse.

A empresa, no entanto, não busca ativamente posts que promovam a venda de animais no Facebook ou no Instagram. A empresa utiliza machine learning para detectar mensagens que incluam crueldade contra animais ou imagens gráficas, o que pode levar à remoção de alguns posts para tráfico, disse Slackman. Mas a maioria dos posts que o Facebook elimina já foi marcada por usuários, pesquisadores ou organizações de defesa.