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Eduardo Bolsonaro cacifa-se p/ embaixada após fritar hambúrguer

Mario Sergio Lima

14/07/2019 18h37

(Bloomberg) -- Eduardo Bolsonaro, filho do presidente e deputado federal eleito pelo maior número de votos nas eleições parlamentares, fez lobby por um cargo de alto nível em política externa ao divulgar sua experiência de fritar hambúrgueres quando era estudante de intercâmbio nos EUA.

O pai, Jair Bolsonaro, está enfrentando uma onda de críticas, mesmo de seus partidários, depois de mencionar que considera nomear seu filho para ser embaixador dos EUA. Os parlamentares criticaram a ideia, a associação de diplomatas do Brasil registrou sua oposição e piadas e memes a respeito inundaram as mídias sociais. Qualquer questionamento sobre o que alguns entendem como nepotismo terá que ser tratado pelo Supremo Tribunal.

A oposição à nomeação de Eduardo Bolsonaro pode colocar em risco a agenda legislativa do presidente.

Jair Bolsonaro prometeu mudar a política do Brasil para a direita, uma promessa mais evidente na política externa. O Brasil tem procurado fortalecer seus laços com os EUA, apoiando o presidente Donald Trump em várias frentes. Desde janeiro, o Brasil assumiu uma posição de maior confronto com o presidente da Venezuela, Nicolas Maduro, e Bolsonaro prometeu transferir a embaixada em Israel para Jerusalém, uma medida que Eduardo disse ser uma questão de "quando, e não se". Trump levou a embaixada dos EUA para Jerusalém em maio de 2018.

Eduardo Bolsonaro, 35 anos, é presidente da Comissão de Relações Exteriores da Câmara dos Deputados. Ele se aproximou do ex-estrategista de Trump Steve Bannon e ingressou no seu grupo global de direita conhecido como The Movement. Eduardo Bolsonaro é visto, na prática, como o ministro das Relações Exteriores depois de recente encontro com Trump.

Ao falar a repórteres na sexta-feira, o jovem Bolsonaro defendeu suas qualificações, citando a presidência da comissão da Câmara.

Disse ter viajado pelo mundo, passado por programas de intercâmbio de estudantes e fritado hambúrgueres nos EUA, citando o Maine e o Colorado. Eduardo disse ainda ter melhorado suas habilidades em inglês e visto como os americanos são receptivos aos brasileiros.

O clamor contra uma possível indicação foi imediato. O ex-ministro da Cultura Marcelo Calero propôs uma lei para exigir que apenas diplomatas de carreira possam ser nomeados para embaixadas do Brasil. O filósofo de extrema direita Olavo de Carvalho, citado por Eduardo como um de seus gurus ideológicos, disse em um vídeo no YouTube que o deputado não deveria abandonar seu posto atual.

Outros parlamentares criticaram a indicação, logo após a Câmara ter aprovado, em 1º turno, a reforma da Previdência, carro-chefe das propostas econômicas do governo, com o objetivo de economizar R$ 900 bilhões em 10 anos. Se aprovada em 2º turno, a proposta de reforma vai para o Senado para nova votação de dois turnos. É justamente o Senado que precisa aprovar qualquer indicação para chefiar embaixadas estrangeiras.

Mesmo que ainda não seja oficial, Bolsonaro criou um fato político que pode dificultar a aprovação de propostas como a reforma, disse Andre Cesar, analista político da Hold Consultoria. Segundo ele, o momento foi péssimo, já que as duas questões vão chegar ao Senado quase ao mesmo tempo e uma pode contaminar a outra, colocando ambas em risco.