IPCA
0,83 Abr.2024
Topo

Empresas de telecom perdem espaço em setor onde foram pioneiras

Thomas Pfeiffer e Angelina Rascouet

27/09/2019 10h53

(Bloomberg) -- Operadoras de telefonia estão no coração das redes de computadores desde seu nascimento há meio século. Agora, as empresas de telecomunicações começar uma retirada tática.

Empresas como AT&T e Telefónica não são amplamente conhecidas como as guardiãs da Internet da mesma maneira que Google ou Facebook, mas essas operadoras construíram - e ainda possuem - muitos dos centros de dados que alimentam aplicativos de celulares, serviços de streaming e redes corporativas.

Como gigantes de tecnologia e especialistas em centros de dados, como a Equinix, implementam uma nova geração de servidores enormes e eficientes, o setor de telecomunicações enfrenta uma escolha: investir pesado para permanecer competitivo ou vender ativos. Muitos estão escolhendo a segunda alternativa.

"Os centros de dados não são o principal negócio das empresas de telecomunicações, portanto, elas terão que investir muito capital para obter um retorno relativamente baixo em comparação com a compra de um roteador ou switch", disse Andrew Jay, diretor soluções para centros de dados na empresa de serviços imobiliários CBRE. "Como CEO de uma empresa de telecomunicações, por que eu faria isso? Seria louco."

A venda de centros antigos para operadores especializados faz sentido, uma vez que o custo de capital dos compradores está caindo, pois fundos de infraestrutura assumem uma participação crescente no novo setor.

Os centros sendo vendidos são geralmente instalações de "colocation" (aluguel de infraestrutura de data center), onde o proprietário usa um pouco da capacidade disponível e aluga o restante para terceiros. Transferir a propriedade para empresas independentes pode resolver conflitos de interesse que poderiam afastar alguns clientes, aumentando as taxas de uso.

"As empresas de telecomunicações têm alguns centros de dados bonitos que seriam mais eficientes se fossem transferidos de um único proprietário para hospedar vários inquilinos", disse Michael Winterson, diretor-gerente de serviços gerenciados da Equinix.

Há uma grande oportunidade comercial - a receita global dos centros de dados de hospedagem foi de US$ 22,8 bilhões no ano passado e deve dobrar em 2023, de acordo com o fornecedor de dados de mercado e consumidor Statista.

No entanto, esses investimentos podem levar de 10 a 15 anos para serem pagos e "o retorno sobre o capital é algo com o qual as empresas de telecomunicações enfrentam grandes dificuldades por esse motivo", disse Jay, da CBRE.

Pegada de carbono

Até agora, fazia sentido que as empresas de telecomunicações possuíssem cabos de dados e computadores para se conectar. Controlar todo o hardware significava que poderiam oferecer serviços de rede personalizados para grandes corporações. Mas o crescimento da computação em nuvem e das chamadas redes definidas por software facilitou o design de uma rede corporativa sem a necessidade de possuir switches, roteadores e servidores.

Data centers ineficientes também se tornam um passivo à medida que suas contas de energia elétrica aumentam e o setor enfrenta pressão para diminuir sua pegada de carbono.

Mais consumidores estão percebendo que os servidores que alimentam seus aplicativos móveis e programas da Netflix são responsáveis por tantas emissões de dióxido de carbono quanto o setor aéreo. Fundos de investimento ético pressionam operadoras a usar mais energia renovável e a reduzir o uso de eletricidade.

Quando a Telefónica vendeu 11 de seus centro de dados para a Asterion Industrial Partners este ano, foi parcialmente com a condição de que o gestor de fundo de infraestrutura melhorasse sua eficiência energética e usasse mais fontes de energia renováveis.

"Os novos proprietários podem aumentar a ocupação e, portanto, a eficácia do uso de energia dos centros", disse a Telefónica em respostas por e-mail.

--Com a colaboração de Rodrigo Orihuela e Daniele Lepido.

Para contatar a editora responsável por esta notícia: Daniela Milanese, dmilanese@bloomberg.net

Repórteres da matéria original: Thomas Pfeiffer em Londres, tpfeiffer3@bloomberg.net;Angelina Rascouet em Londres, arascouet1@bloomberg.net