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Desafio da Califórnia para combater poluição esbarra em Trump

Jennifer A. Dlouhy e Jeffrey Taylor

02/10/2019 11h26

(Bloomberg) -- A Califórnia tem as leis ambientais mais rígidas do país, mas a poluição ainda cobre os céus de Los Angeles em muitos dias, o que provoca críticas tanto do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, quanto de ambientalistas.

Mas as afinidades não vão além disso.

O presidente dos EUA transformou a Califórnia em um saco de pancadas político, atacando incansavelmente o estado por liberar uma "tremenda poluição" no ar e na água. Ambientalistas dizem que o governo Trump, que tenta eliminar duas das armas do estado para combater o problema, tem parte da culpa.

"A Califórnia precisa fazer mais e, para atender aos padrões de ar limpo, teremos que fazer de tudo", disse Adrian Martinez, advogado do grupo ambiental Earthjustice. "Mas o governo federal também tem um grande papel a desempenhar e, sob a administração atual, a EPA não tem ajudado a qualidade do ar - na verdade, está prejudicando", disse Martinez sobre a Agência de Proteção Ambiental dos EUA (EPA, na sigla em inglês).

A qualidade do ar é tão ruim que o estado possui sete das dez cidades mais poluídas por ozônio, de acordo com a Associação Americana de Pneumologia, com Los Angeles-Long Beach liderando a lista. Seis das dez piores cidades americanas em termos de poluição por partículas durante todo o ano também estão na Califórnia, segundo o grupo.

A Califórnia tem combatido a poluição do ar de maneiras criativas há décadas, políticas pioneiras que foram adotadas por outros estados. Mas a batalha é dificultada pela geografia, especialmente no sul da Califórnia, onde os ventos costeiros prendem a poluição contra montanhas e um teto de ar quente frequentemente a mantém perto do chão. Os incêndios florestais também bombeiam monóxido de carbono e partículas de fuligem no ar.

Reconhecendo o peculiar desafio da Califórnia, em 1967 o Congresso concedeu uma licença para que o estado possa impor suas próprias regras para reduzir as emissões. Os reguladores da Califórnia visaram primeiro as emissões de tubo de escape - os compostos orgânicos voláteis e o óxido de nitrogênio expelidos pelos veículos e que depois são transformados pelo sol em ozônio ou poluição atmosférica. Depois, o estado exigiu que as montadoras empregassem conversores catalíticos e obrigou postos a manter os vapores de gasolina sob controle.

No entanto, décadas de progresso constante estagnaram com o aumento do tráfego e mais caminhões que transportam mercadorias entre os portos e depósitos em expansão do estado.

Os problemas de poluição da Califórnia se tornaram um alvo fácil para Trump, cuja Agência de Proteção Ambiental ameaçou em 24 de setembro suspender os fundos para rodovias federais caso o estado não enviasse novos planos para a qualidade do ar. Dois dias depois, a EPA acusou a Califórnia de permitir a poluição supostamente causada por pessoas sem-teto que sujam hidrovias próximas - uma alegação que as autoridades estatais contestam.

O Conselho de Recursos Aéreos da Califórnia tem se concentrado em carros e caminhões - a principal fonte dos problemas de poluição do estado. E os distritos locais de gestão da qualidade do ar já atacaram poluentes em usinas de energia, refinarias e outras fontes estacionárias de poluição. Os reguladores estaduais, no entanto, têm pouca autoridade para exigir reduções semelhantes de aviões, trens e navios, que geralmente estão sob controle do governo federal.

"As principais fontes de poluição sobre as quais temos controle estão ficando mais limpas", disse Stanley Young, porta-voz do conselho de recursos aéreos que regula carros, caminhões e outras fontes móveis de poluição. Mas, acrescentou, os principais responsáveis pela poluição em Los Angeles "são fontes sobre as quais apenas agentes federais têm autoridade, e não fizeram nada para nos ajudar".

Para contatar o editor responsável por esta notícia: Daniela Milanese, dmilanese@bloomberg.net

Repórteres da matéria original: Jennifer A. Dlouhy em Washington, jdlouhy1@bloomberg.net;Jeffrey Taylor San Francisco, jtaylor48@bloomberg.net