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Volume de negócios com ações e títulos evapora na Argentina

Derrota de Mauricio Macri (foto) nas eleições primárias argentinas afetou o mercado, que começaram a despencar em meio à preocupação de que as políticas do oposicionista Alberto Fernández atrasariam o crescimento econômico - Ronaldo Schemidt/AFP
Derrota de Mauricio Macri (foto) nas eleições primárias argentinas afetou o mercado, que começaram a despencar em meio à preocupação de que as políticas do oposicionista Alberto Fernández atrasariam o crescimento econômico Imagem: Ronaldo Schemidt/AFP

Ignacio Olivera Doll e Carolina Millan*

07/10/2019 13h27

Apenas três anos depois da ressurreição dos mercados locais da Argentina, agora estes mal conseguem sobreviver.

Os preços dos ativos sob gestão em bancos e corretoras no mercado argentino despencaram 25% desde o surpreende resultado das eleições primárias de agosto, que sinalizaram poucas chances de reeleição este mês do presidente pró-mercado Mauricio Macri. O volume de negócios no mercado acionário caiu pela metade, enquanto as operações com títulos de dívida encolheram cerca de 65%.

Além disso, os argentinos enviaram uma quantidade recorde de dólares ao exterior em agosto, quando o governo atrasou os pagamentos da dívida, disse que tentaria impor uma reestruturação dos títulos estrangeiros e voltaria a estabelecer controles de capital para tentar proteger o peso. Por alguns dias, as medidas de emergência impediram muitos investidores de realizar saques de fundos mútuos.

Um cenário desastroso para bancos de investimento, consultores e corretoras que abriram escritórios em Buenos Aires ou se apressaram em expandir as operações com a expectativa de maior atividade depois da posse de Macri no fim de 2015. Agora, todas essas apostas caíram por água abaixo. Poucas horas depois da chapa liderada pelo candidato da oposição Alberto Fernández ter vencido as primárias com uma vantagem de mais de 15 pontos percentuais, os mercados começaram a despencar em meio à preocupação de que suas políticas de esquerda atrasariam o crescimento econômico.

"Há uma grande incerteza, e isso dificulta bastante o processo de tomada de decisão", disse Pablo de Gregorio, sócio da Ernst & Young, durante evento na semana passada quando apresentou uma pesquisa com executivos de negócios realizada após as primárias. "E todos sabemos o impacto em nossas empresas quando as decisões atrasam."

Agora, o volume de negócios diário na bolsa argentina é de apenas US$ 15 milhões, abaixo dos US$ 30 milhões em 2016 e 2017. Expectativas de enorme entrada de capital e de uma onda de IPOs alimentadas pela decisão da MSCI, em junho de 2018, de melhorar a classificação da Argentina de mercado de fronteira para emergente, foram frustradas.

A negociação de títulos encolheu de US$ 1 bilhão antes das eleições primárias para US$ 300 milhões por dia. As chamadas "cuevas", ou cavernas ilegais de câmbio, onde os argentinos que tentam contornar os controles de capital compram dólares, no entanto, estão novamente em expansão. Essas operações haviam desacelerado nos últimos dois anos, quando os controles foram removidos, mas a demanda no varejo está de volta.

É uma reviravolta em relação a junho de 2016, quando Macri dizia a uma sala cheia de executivos financeiros reunidos na bolsa: "Precisamos voltar a ter mercados de capitais dentro dos padrões internacionais". O valor de mercado das ações argentinas agora é de US$ 27,6 bilhões, metade do nível de quando Macri assumiu o cargo.

"Muitas corretoras pequenas que abriram nos últimos anos desaparecerão", disse Alejo Costa, estrategista-chefe para a Argentina do BTG Pactual, em Buenos Aires. "É difícil manter uma estrutura em funcionamento se não houver volume de mercado. O mercado terá que se consolidar e encolher em termos reais e em dólares."

* Com a colaboração de Patrick Winters

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