Vietnã mira mercado de café instantâneo e desafia Nestlé
(Bloomberg) -- Depois de garantir por décadas as doses diárias de café aos viciados na bebida, o Vietnã se prepara para enfrentar a Nestlé e seus rivais asiáticos de forma mais direta.
Em vez de vender grãos robusta para que empresas estrangeiras os transformem em café instantâneo, o maior fornecedor do Vietnã quer oferecer seu próprio pó solúvel no início de 2020. A mudança tem como objetivo aproveitar a crescente demanda asiática por café instantâneo e amortecer o impacto de grandes oscilações dos preços internacionais das commodities.
"Não queremos perder o bonde do café instantâneo", disse Do Ha Nam, presidente do conselho da Intimex, que exporta cerca de 30% dos grãos robusta do Vietnã, variedade geralmente usada no café instantâneo. "Isso traz mais lucro e menos risco, pois significa que não precisaremos depender do preço estabelecido pelo mercado de Londres."
Os contratos futuros da variedade robusta negociados em Londres acumulam baixa de 11% em 2019, após registrarem queda em três dos quatro anos anteriores devido à crescente produção do Vietnã, o maior produtor e exportador mundial. A indústria cafeeira do país considera a expansão da produção doméstica de café instantâneo uma proposta de crescimento mais rentável do que simplesmente continuar plantando mais pés de café.
A Índia deve liderar o crescimento do mercado de varejo de café instantâneo na Ásia, com expansão de quase 12% ao ano, chegando a US$ 850 milhões em 2024, segundo a Euromonitor International. A empresa de pesquisa projeta forte crescimento também na Indonésia, Malásia, Filipinas, Tailândia e Vietnã.
Mercado em expansão
"A Ásia é a região onde o consumo de café mais cresce no mundo, e muitos consumidores ainda começam a criar o hábito de tomar café", disse José Sette, presidente da Organização Internacional do Café, em Londres.
A Intimex, com sede na cidade de Ho Chi Minh, uma antiga estatal que foi vendida a investidores do setor privado em 2006, pretende ultrapassar a Nestlé como a maior fornecedora de café instantâneo puro do Vietnã nos próximos cinco anos, expandindo a capacidade anual em cinco vezes, para 20 mil toneladas.
'Competição feroz'
Com sede em Vevey, na Suíça, a fabricante do Nescafé competirá com empresas locais e internacionais "alavancando nossa escala de tamanho, nossa experiência em tecnologia e manufatura, com mais de 75 anos de experiência em café e crescendo junto com cafeicultores vietnamitas", disse Ganesan Ampalavanar, diretor-geral da Nestlé Vietnã.
"Existem muitas empresas de pequeno e médio porte muito focadas, que competem ferozmente com grandes players, e a concorrência está fortalecendo a categoria", afirmou.
Mercado de US$ 6 bilhões
O Vietnã pretende dobrar o valor das exportações anuais de café, para US$ 6 bilhões na próxima década, de acordo com Nguyen Do Anh Tuan, responsável pelo departamento de cooperação internacional do Ministério da Agricultura.
O plano inclui aumentar o volume dos grãos verdes usados pelas processadoras de café para 30% a 40% da produção total do país em relação aos atuais 10%, deixando uma quantidade menor disponível para exportação, como grãos não torrados.
O Vietnã embarcou 1,56 milhão de toneladas de café, que incluem mais de 36 mil toneladas de café processado, na temporada 2018-19 encerrada em 30 de setembro, segundo análise da Bloomberg de dados aduaneiros.
--Com a colaboração de Corinne Gretler.
Para contatar o editor responsável por esta notícia: Daniela Milanese, dmilanese@bloomberg.net
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