Modelos climáticos estão em brasa e os cientistas não sabem o porquê
(Bloomberg) -- Existem dezenas de modelos climáticos e, por décadas, estes estavam de acordo com o que seria necessário para aquecer o planeta em cerca de 3° Celsius. O resultado seria desastroso - cidades inundadas, safras reduzidas, calor mortal -, mas houve consistência no sombrio consenso entre essas simulações climáticas complicadas.
Então, no ano passado, despercebidos à primeira vista, alguns dos modelos começaram a ficar muito quentes. Cientistas que aprimoraram esses sistemas usaram as mesmas suposições sobre as emissões de gases de efeito estufa de antes e obtiveram resultados muito piores. Alguns produziram projeções acima de 5° C, um cenário de pesadelo.
Os cientistas envolvidos não chegaram a um consenso sobre a causa ou se os resultados eram confiáveis. Os climatologistas começaram a se perguntar 'o que você conseguiu?', o que você conseguiu?', disse Andrew Gettelman, cientista sênior do Centro Nacional de Pesquisa Atmosférica em Boulder, Colorado.
Os pesquisadores começam a reunir respostas, uma tarefa que levará meses na melhor das hipóteses, e ainda não há acordo sobre como interpretar os resultados com temperaturas mais elevadas. O motivo da preocupação é que esses mesmos modelos projetaram com sucesso o aquecimento global por meio século. A produção continua a basear todos os principais objetivos e debates científicos, políticos e do setor privado, incluindo a sexta avaliação enciclopédica do Painel Intergovernamental das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, prevista para o próximo ano. Se a mesma quantidade de poluição climática trará um aquecimento mais rápido do que se pensava anteriormente, a humanidade teria menos tempo para evitar os piores impactos.
Por enquanto, no entanto, existem dúvidas e preocupações. Uma estimativa de aquecimento mais alta "provavelmente não é a resposta certa", disse Klaus Wyser, pesquisador sênior do Instituto Meteorológico e Hidrológico da Suécia. Seu modelo produziu um resultado de 4,3° C de aquecimento, um salto de 30% em relação à atualização anterior. "Esperamos que não seja a resposta certa."
Essa incerteza sobre como ler os modelos destaca um dos principais desafios da mudança climática. Por um lado, governos e membros da sociedade se voltam para os cientistas como nunca antes para explicar incêndios históricos, secas devastadoras e temperaturas de primavera no meio do inverno. E a base da ciência nunca foi tão sólida. Mas as perguntas que incomodam especialistas agora são provavelmente as mais importantes de todas: quão ruim será e em quanto tempo?
Para contatar o editor responsável por esta notícia: Daniela Milanese, dmilanese@bloomberg.net
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