Squadra aposta contra IRB e provoca disputa rara no Brasil
(Bloomberg) -- Nos últimos três anos, a empresa de resseguros IRB Brasil Resseguros tem sido uma 'queridinha' dos analistas do sell-side e uma dádiva para os investidores. Foi quando chegou a Squadra Investimentos.
Em um relatório de cerca de 150 páginas divulgado em 2 de fevereiro, a gestora de recursos afirmou que possui uma posição vendida nas ações do IRB, desencadeando uma queda de 24% do papel e travando uma disputa que domina as rodas de conversa do mercado financeiro. A iniciativa da Squadra levou a um tombo de cerca de R$ 10 bilhões no valor de mercado do IRB.
Embora seja bastante comum em outras partes do mundo, com casas incluindo Muddy Waters e Spruce Point Capital conhecidas por defender suas apostas pessimistas, no Brasil é raro que quem aposte contra aponte publicamente o dedo para uma empresa específica e detalhe os pontos que fundamentam a sua tese de maneira tão minuciosa.
O IRB contra-atacou ao registrar uma reclamação na CVM, acusando a Squadra de manipulação de preços das ações e informação privilegiada, disse uma pessoa com conhecimento direto do assunto. A CVM confirmou que processos administrativos estão em andamento, sem divulgar o conteúdo.
A Squadra, que tem R$ 3,7 bilhões sob gestão e foi fundada por Guilherme Aché, disse que o IRB considerou itens não-recorrentes como parte do resultado ajustado antes de impostos. O IRB rebateu e planeja contratar um auditor adicional para revisar seus números. O IRB já afirmou que é a companhia mais rentável do mundo no setor de resseguros e, nos últimos 12 dias, realizou teleconferências com bancos como Morgan Stanley e Santander Brasil para explicar como seu retorno sobre o patrimônio acima da média é sustentável.
Disputa sobre números
A diferença nos cálculos não é pouca: enquanto o IRB divulgou lucro gerencial antes de impostos de R$ 1,39 bilhão nos primeiros nove meses de 2019, a Squadra diz que, na verdade, a empresa teve prejuízo de R$ 112 milhões no período.
"A rentabilidade normalizada do negócio do IRB é muito menor do que grande parte do mercado acredita ser", escreveu a Squadra. "Há uma grande disparidade entre preço e valor nas ações do IRB."
Os comentários marcam uma mudança de tática - e de sorte - para a Squadra. Embora tivesse escrito em carta anterior que estava 'short' em uma empresa do setor de seguros, a gestora nunca havia divulgado o nome da companhia.
Mas, com a divulgação do relatório neste mês, a Squadra revelou que começou a apostar contra o IRB em maio de 2018, aumentando a posição até a resseguradora se tornar a maior aposta vendida de seu fundo Squadra Master Long Bias Fund, de US$ 330 milhões. Até o começo deste mês, o tiro havia saído pela culatra, já que o preço das ações quase triplicou entre meados de 2018 e o fim de janeiro.
Em uma teleconferência anunciada no último minuto na terça-feira, o presidente do IRB, José Carlos Cardoso, disse que ficou "chocado" com os eventos recentes e prometeu divulgar mais informações no balanço que deve ser publicado em 19 de fevereiro. A empresa, que não quis comentar citando período de silêncio, disse que o relatório da Squadra trazia imprecisões técnicas. A Squadra não respondeu a pedido de comentário. O jornal Valor Econômico foi o primeiro a reportar a reclamação do IRB contra a Squadra na CVM.
Opiniões divididas
Não há unanimidade entre os analistas. O Citi e o Morgan Stanley reiteraram suas recomendações de compra, enquanto a XP Investimentos colocou a recomendação do papel sob revisão, alegando falta de visibilidade. O IRB tem 13 recomendações equivalentes à compra e quatro de manutenção, segundo dados compilados pela Bloomberg. A empresa nunca recebeu uma recomendação de venda desde a oferta pública inicial em 2017.
"O que ouvimos sugere uma oportunidade de compra", escreveu a equipe de analistas do Morgan Stanley liderada por Jorge Kuri em nota na semana passada, depois de conversar com a administração da empresa.
A Squadra mantém sua posição. Em uma segunda carta para investidores, a gestora afirmou que novos dados fornecidos pelo IRB para contestar suas alegações não mudaram sua visão.
Para contatar o editor responsável por esta notícia: Daniela Milanese, dmilanese@bloomberg.net
Repórteres da matéria original: Vinícius Andrade em Sao Paulo, vandrade3@bloomberg.net;Felipe Marques em São Paulo, fmarques10@bloomberg.net
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