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Um beijo é apenas um beijo, exceto quando transmite coronavírus

Thomas Mulier e Marthe Fourcade

26/02/2020 12h29

(Bloomberg) -- O rei Henrique VI da Inglaterra proibiu o beijo em 1439 para combater a praga. Agora que o mundo enfrenta o coronavírus que se espalha fora da China, algumas autoridades de saúde novamente pedem às pessoas que se abstenham de demonstrações físicas de afeto.

Epidemiologistas dizem que limitar o contato pode ajudar a retardar a marcha de uma doença que atingiu dezenas de países em apenas dois meses e matou mais de 2.700 pessoas. Nos Estados Unidos, autoridades recomendam pensar duas vezes antes de dar abraços e "high fives" (um "toca aqui" com as palmas das mãos), enquanto franceses e italianos devem reconsiderar os beijinhos tradicionais na bochecha.

"Se o coronavírus estiver circulando em sua comunidade, é algo muito prudente", disse Michael Osterholm, especialista em doenças infecciosas da Universidade de Minnesota. "É uma das poucas coisas que você pode fazer para reduzir ativamente seu risco."

Na Itália, onde as infecções aumentam e 11 pessoas morreram contaminadas pelo vírus que se espalha através de gotículas contidas em tosses e espirros, a população começa a seguir o conselho. Giorgia Nigri, economista de 36 anos que mora em Roma, disse que as pessoas estão menos dispostas a dar beijos.

"As pessoas em grupos começaram a sugerir que não nos beijemos nas bochechas como saudação ou adeus", disse Nigri. "Fui pega de surpresa e me chateei no começo. Mas suponho que em grupos maiores, especialmente com estranhos, faça sentido."

Dia dos Namorados

Em outras partes da Europa, essas sugestões provocaram surpresa ou escárnio: no Reino Unido, no Dia dos Namorados, tabloides como Daily Mail e Sun criticaram o conselho do virologista John Oxford para que britânicos permanecessem "distantes" em vez de se tocarem livremente.

Algumas igrejas na Itália pararam de colocar hóstias de comunhão na língua, deixando-as nas mãos das pessoas. Outras cancelaram totalmente as missas. Autoridades de saúde pública de Cingapura, Índia, Rússia e Irã fizeram apelos públicos para que a população evite abraços, beijos e apertos de mão.

"Não precisamos alterar nossos hábitos para o resto de nossas vidas", disse Oxford, que leciona na Universidade Queen Mary, em Londres. "Tudo o que estou sugerindo é até que esta crise seja resolvida", afirmou em entrevista por telefone.

Isso pode ser mais fácil em países como o Japão, onde a saudação tradicional é um ato de curvar-se em reverência e o contato físico entre colegas ou parceiros de negócios é evitado. Alguns historiadores sociais dizem que as cortesias também podem ter evoluído na Europa como resposta à queda da popularidade de cumprimentar as pessoas com beijos.

O presidente chinês Xi Jinping divertiu uma multidão em Pequim durante rara visita pública no início deste mês, dizendo que seria melhor não apertar as mãos.

A Organização Mundial da Saúde não chega a recomendar a suspensão geral de abraços e beijos, mas as diretrizes da agência sugerem que pode não ser uma má ideia.

--Com a colaboração de Rachel Chang, Manuel Baigorri, Jason Gale, Chiara Remondini e Corinne Gretler.

Para contatar o editor responsável por esta notícia: Daniela Milanese, dmilanese@bloomberg.net

Repórteres da matéria original: Thomas Mulier em Geneva, tmulier@bloomberg.net;Marthe Fourcade Paris, mfourcade@bloomberg.net