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Usinas de açúcar fixam preços e se protegem contra turbulência

Fabiana Batista, Manisha Jha e Isis Almeida

10/03/2020 08h28

(Bloomberg) -- Ações de usinas brasileiras estavam entre as mais atingidas pela queda do mercado liderada pelo petróleo na segunda-feira. A perspectiva de menor demanda por etanol pode fazer com que mais cana seja transformada em açúcar. No entanto, as usinas podem estar mais protegidas do que parece.

As empresas já venderam a maior parte do açúcar que será produzido na próxima temporada. A valorização dos preços em Nova York e a alta do dólar em relação ao real tornaram a commodity mais rentável do que o etanol pela primeira vez nos últimos anos. As vendas antecipadas para 2020-21 já atingem 70% das exportações, de acordo com a INTL FCStone. Isso significa que a perspectiva de maior oferta de açúcar do Brasil já foi precificada.

"Embora o colapso do petróleo possa trazer algum impacto, o hedge de açúcar mais avançado deste ano pode limitar a desvantagem da commodity", disse Ricardo Dell Aquila Mussa, vice-presidente de logística e distribuição da Raízen, produtora de açúcar e etanol controlada pela Cosan e Royal Dutch Shell.

A Raízen espera que as usinas brasileiras aumentem a produção de açúcar em cerca de 6 milhões de toneladas na temporada iniciada em abril, em comparação com as expectativas do mercado de cerca de 3 milhões de toneladas antes do colapso do petróleo, disse Mussa.

"Porém, não será suficiente para reverter o déficit global", disse, acrescentando que o dólar, em máxima histórica em relação ao real, também oferece às usinas brasileiras vantagem sobre as indianas.

Como no Brasil o etanol e a gasolina competem diretamente nas bombas, os preços mais baixos do petróleo podem pressionar a demanda pelo biocombustível.

O mercado global de açúcar pode voltar a mostrar superávit na safra 2020-21, se as usinas da principal região produtora do Brasil transformarem mais de 42% da cana em açúcar, disse John Stansfield, analista do Group Sopex.

Ainda assim, o impacto no setor de açúcar do Brasil pode ser atenuado pelo novo programa de combustíveis renováveis do país, bem como pelo apoio indireto da próxima temporada de viagens de carro nos EUA, disse Luiz Gustavo Figueiredo, diretor comercial da Usina Alta Mogiana. Além disso, a queda dos preços globais de energia pode não ser repassada totalmente ao mercado doméstico e, mesmo que isso aconteça, pode levar algum tempo.

Para contatar o editor responsável por esta notícia: Daniela Milanese, dmilanese@bloomberg.net

Repórteres da matéria original: Fabiana Batista em Sao Paulo, fbatista6@bloomberg.net;Manisha Jha London, mjha13@bloomberg.net;Isis Almeida em Chicago, ialmeida3@bloomberg.net