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BID estuda redirecionar empréstimos para medidas contra vírus

Eric Martin

13/03/2020 10h30

(Bloomberg) -- O Banco Interamericano de Desenvolvimento estuda o redirecionamento de alguns empréstimos aprovados no total de US$ 26 bilhões, em uma medida para ajudar países da América Latina a aliviar o impacto do coronavírus.

Governos enfrentam o desafio de elevar gastos com sistemas de saúde ao mesmo tempo em que alguns dos cidadãos mais pobres sofrem com o duplo golpe da pandemia e desaceleração econômica. As medidas teriam várias frentes, desde a compra de mais equipamentos médicos e kits para testes até maiores gastos no combate à pobreza, disse o presidente do BID, Luis Alberto Moreno.

Moreno disse que a maneira mais rápida de o BID reagir é trabalhar com os países para redirecionar os empréstimos existentes ou acelerar os desembolsos, caso as medidas sejam aprovadas pelo conselho do banco.

"Os exemplos do que aconteceu na Europa despertaram muitos de nossos países para aprender as lições do que não fazer e de como reagir de maneira muito agressiva" o quanto antes para impedir a propagação do vírus, disse Moreno em entrevista na sede do banco, em Washington. "Este é mais um momento para a política fiscal do que para a política monetária. Você verá muitas despesas redirecionadas nos países."

'Países mais vulneráveis'

Todos os principais países da região, exceto a Venezuela, confirmaram casos de coronavírus, e o Brasil lidera com mais de 70 pessoas infectadas. Na quarta-feira, a Colômbia ordenou que pessoas vindas da China, Itália, Espanha e França fiquem em quarentena por 14 dias após a chegada. O Peru atrasou o início do ano letivo e impôs quarentenas aos viajantes.

Na quinta-feira, a Argentina tomou amplas medidas para conter a pandemia de coronavírus ao suspender temporariamente voos internacionais e grandes eventos. El Salvador impôs alguns dos controles mais rígidos do mundo, mesmo sem nenhum caso confirmado da doença, e proibiu a entrada de todos visitantes que não sejam residentes ou diplomatas.

Moreno disse que está mais preocupado com nações como Venezuela, Haiti, Honduras, "os países mais vulneráveis, onde atualmente não há casos relatados", mas que podem muito bem existir e ainda não terem sido detectados devido às ineficiências do sistema, disse.

Venezuela, juntamente com México, Colômbia, Argentina e Brasil, entre outros importantes produtores de petróleo, enfrentarão impacto econômico com a queda dos preços, o que deve afetar as exportações e pressionar os saldos em conta corrente, disse Moreno. A região deve crescer 1,8% este ano, menos da metade da projeção para economias emergentes, segundo analistas consultados pela Bloomberg.

O coronavírus é o mais novo obstáculo para uma região já desafiada por economias marcadas por produtividade relativamente baixa e dependentes de exportações de commodities, o que tem limitado o crescimento nos últimos anos, disse Moreno. A América Latina é a única região do mundo em desenvolvimento cujos padrões de vida caíram nos últimos cinco anos, de acordo com dados do Fundo Monetário Internacional.

O BID adiou a própria reunião anual em Barranquilla, Colômbia, programada para a próxima semana até a primeira quinzena de setembro devido às preocupações com o coronavírus. Moreno, que comanda o BID desde 2005 e cujo mandato termina neste ano, disse que o banco vai trabalhar em conjunto com o FMI e com o Banco Mundial para coordenar a resposta ao vírus.

Para contatar o editor responsável por esta notícia: Daniela Milanese, dmilanese@bloomberg.net