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Há muita comida no mundo, mas não onde é necessário

Millie Munshi, Megan Durisin e Corinne Gretler

20/03/2020 14h59

(Bloomberg) -- Os armazéns globais estão repletos de cortes congelados de carne de porco, queijo e sacos de arroz. Mas, com a interferência do coronavírus nas operações logísticas, cabe a pergunta: como todos esses alimentos realmente chegam às pessoas?

Apesar dos estoques, os supermercados parecem quase apocalípticos com prateleiras vazias. A compra motivada pelo pânico tornou quase impossível para varejistas e fornecedores acompanharem o aumento sem precedentes da demanda. Em apenas um exemplo das restrições, há um número finito de caminhões que podem ser carregados em armazéns para transportar frango, sorvete ou papel higiênico.

Há limites para o tempo que pode ser gasto na reposição de produtos nas prateleiras ou preenchendo vagões. Além disso, há o impacto do surto da China: menos mercadorias foram enviadas da Ásia no mês passado e agora não há contêineres vazios suficientes em países como Canadá para exportar ervilhas para o mundo.

"Existe uma teia complicada de interações em que nem sempre pensamos que faz parte da cadeia de suprimentos de alimentos: caminhoneiros, vagões, remessas, trabalhadores de fábricas", disse Jayson Lusk, chefe do departamento de economia agrícola da Universidade Purdue.

Este é apenas o começo. À medida que o vírus se espalha e os casos aumentam, existem inúmeras maneiras de o sistema alimentar ser testado e colocado sob pressão nas próximas semanas e meses.

Existe a possibilidade de falta de mão de obra, pois trabalhadores precisam ficar em casa porque estão doentes ou entraram em contato com alguém que está. Com escolas fechadas, as fábricas podem diminuir a produção porque os pais precisam priorizar o cuidado das crianças. As restrições ao trabalho migrante aumentam em todo o mundo, reduzindo o número de trabalhadores, essenciais para garantir que tomates sejam colhidos e abatedouros funcionem com eficiência. O fechamento de portos e restrições ao comércio podem atrasar o fluxo de suprimentos e ingredientes.

"Não vemos um choque de oferta no sentido de disponibilidade", disse Abdolreza Abbassian, economista sênior da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura. "Mas poderia haver um choque de oferta em termos de logística, não sendo possível mover o produto do ponto A para o ponto B. Isso é algo novo e muito difícil de prever. Agora, essa incerteza é o maior perigo."

Grupos de agricultores, varejistas e caminhoneiros de países como Brasil, EUA e França soam o alarme devido às grandes interrupções que podem ocorrer devido às condições de quarentena e de bloqueio, além da possibilidade de uma crise de mão de obra. Autoridades de governos na Austrália, Alemanha e Cazaquistão estão preocupadas com as tensões em meio à compra motivada por pânico e aos obstáculos logísticos.

©2020 Bloomberg L.P.