Agricultores da Europa alertam para falta de frutas e verduras
Depois de três décadas cultivando morangos e mirtilos, Cristóbal Picón aprendeu a lidar com problemas como secas, ventanias, inundações e geadas. Mas o surto de coronavírus trouxe um desafio ainda maior.
Toda primavera, as plantações de Picón em Huelva, na costa atlântica da Espanha entre Sevilha e a fronteira com Portugal, normalmente contam com cerca de 200 trabalhadores, a maioria de Marrocos e da Romênia, que colhem as delicadas frutas e as embalam para o transporte. Mas, neste ano, Picón conta com menos de 100, em grande parte locais, e não tem ideia de como fará a colheita.
"Você pode amortecer uma safra ruim, mas quando tem 80% da produção pronta para ser colhida e ninguém para fazer isso, se sente impotente", disse Picón. "Não sabemos como isso vai acabar."
Agricultores em toda a Europa tentam encontrar pessoas para colher frutas e legumes que amadurecem rapidamente, um trabalho que normalmente precisa ser manual, geralmente dentro de uma janela de apenas alguns dias. Os fazendeiros normalmente contam com trabalhadores sazonais do leste da Europa ou do norte da África, mas o temor do coronavírus impede que centenas de milhares de migrantes saiam de casa, e controles nas fronteiras, antes sem restrições, bloqueiam muitos dos que estão dispostos a fazer a viagem.
Morangos e aspargos já apodrecem na Espanha, Itália e sul da França. Mais ao norte, produtores de uma ampla variedade de verduras e legumes estão preocupados sobre o que fazer, já que a temporada de cultivo da primavera e verão se aproxima.
Problemas relacionados à mão de obra despertam o receio de que consumidores urbanos possam enfrentar escassez de produtos. A preocupação é que, mesmo que os alimentos sejam colhidos, estes não cheguem aos consumidores porque os mercados ao ar livre estão fechados e as conexões de transporte irregulares.
"As cidades poderão em breve começar a enfrentar falta de frutas e legumes frescos", disse Sebastien Heraud, agricultor da região de Dordogne, no sudoeste da França, e líder da Coordination Rurale, um sindicato agrícola. "Mesmo os que podem colher têm problemas para vender."
A França estima que cerca de 200 mil trabalhadores não apareçam este ano. A Coldiretti, uma associação de agricultores italianos, estima que o número de trabalhadores estrangeiros deve cair em 100 mil. A Alemanha normalmente recebe 30 mil trabalhadores agrícolas migrantes em março e 80 mil em maio, mas, neste ano, apenas uma fração desse número apareceu, segundo a ministra da Agricultura, Julia Kloeckner. Na quinta-feira, o país fechou as fronteiras a trabalhadores migrantes que não pertencem à União Europeia.
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