Médicos sob ataque na Índia diante de estigma de coronavírus
(Bloomberg) -- Trupti Katdare estava em uma favela na cidade de Indore, na região central da Índia, quando a multidão atacou.
Ela e um grupo de outros profissionais de saúde estavam rastreando um homem que poderia ter tido contato com um caso recentemente confirmado de coronavírus. Quando o encontraram, ele os xingou, perguntando por que queriam suas informações e acusando-os de tentar levá-lo.
Quase imediatamente, pelo menos 100 pessoas cercaram a equipe, atirando pedras e outros objetos. Felizmente, conseguiram escapar.
"Naquela hora, apenas pensava em como podíamos salvar nossas vidas", disse Katdare. "Meu marido, meus filhos, meus familiares estavam diante dos meus olhos, enquanto eu me perguntava se os veria novamente."
A experiência de Katdare é uma das mais dramáticas em um fenômeno que se torna comum na Índia: profissionais de saúde sofrem violência e abuso enquanto tentam conter o vírus. Ataques foram relatados em todo o país, quando pessoas entram em pânico por medo de se contagiar no contato com profissionais médicos ou serem estigmatizadas por terem contraído a doença.
Na cidade de Bengaluru, no sul do país, profissionais de saúde foram atacados quando passavam de porta em porta, checando se moradores tinham sintomas. Na cidade central de Bhopal, médicos que retornavam de um turno de emergência foram detidos pela polícia, acusados de espalhar o vírus e espancados com cassetetes. E, em Nova Déli, uma médica foi agredida por um consumidor em um mercado local de frutas, enquanto vizinhos de uma colega tentaram forçar a mulher a deixar o prédio.
Profissionais de saúde também foram atacados em países como Austrália e Filipinas, mas a situação é particularmente problemática na Índia. Tanto que o governo divulgou um anúncio na semana passada pedindo o fim da estigmatização.
"Quando você se torna médico, sabe que há risco de se contagiar", disse Nirmalya Mohapatra, médico sênior de um hospital público de Nova Déli e vice-presidente da associação de médicos residentes da instituição. "Não temos medo de infecções, estávamos mentalmente preparados para isso como um risco ocupacional. Mas ser espancado não foi algo para o qual nos preparamos mentalmente. Não é um risco ocupacional para o qual nos inscrevemos."
©2020 Bloomberg L.P.
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