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Cargill vê margens maiores no Brasil com dólar e demanda em alta

Tatiana Freitas

29/04/2020 12h50

(Bloomberg) -- A alta do dólar em relação ao real e a forte demanda pela soja brasileira estão beneficiando as margens da Cargill, maior exportadora de grãos do Brasil, segundo Paulo Sousa, presidente da empresa no país.

O real tem um dos piores desempenho neste ano entre as principais moedas. A alta do dólar eleva as receitas dos produtores em reais e tem incentivado os agricultores a vender o que ainda tinham em estoque e antecipar a comercialização da safra futura. O movimento coincidiu com uma maior demanda de importadores, que procuraram assegurar suprimentos diante das preocupações com interrupções nas cadeias de suprimentos globais devido ao surto de coronavírus, de acordo com Sousa.

"Os volumes foram tão altos que tivemos de buscar demanda no mundo", disse Sousa em entrevista. "Como consequência do cenário atual, com o risco de a cadeia de suprimentos da China ser interrompida e preocupações com interrupções na América do Sul, houve interesse muito grande de compra agora como também em posições futuras para garantir esse acesso (aos suprimentos)."

"Este ano está sendo positivo e melhor em termos de rentabilidade", disse. Em 2019, a receita líquida da Cargill no Brasil aumentou 7%, para um recorde de R$ 50 bilhões, enquanto o lucro líquido caiu 48%, para R$ 350 milhões, em meio a margens de originação apertadas, disse Sousa. A base de comparação com 2018 é prejudicada porque créditos fiscais inflaram o resultado naquele ano, acrescentou.

Com medidas protecionistas em algumas partes do mundo devido à pandemia, importadores estão buscando fornecedores confiáveis, e o Brasil deve aproveitar a oportunidade para se apresentar como um "fornecedor com fronteiras abertas", disse.

Nem mesmo as expectativas de um crescimento nas compras de soja norte-americana pela China, com o objetivo de cumprir os compromissos da fase 1 do acordo comercial, são uma preocupação para os números da Cargill no Brasil, o principal rival dos Estados Unidos nesse mercado.

"Não acredito que teremos um problema de perda de demanda porque a soja brasileira é muito competitiva", afirmou Sousa, acrescentando que a China pode aumentar as compras de produtos de maior valor agregado dos EUA para cumprir o acordo, como carnes.

Margens de esmagamento

Enquanto os lucros de originação aumentam, as margens de esmagamento começam a cair, disse Sousa, que assumiu o comando das operações brasileiras em janeiro. Possíveis paralisações de frigoríficos no Brasil são uma preocupação para a empresa, que produz farelo de soja usado na ração animal.

A demanda por biodiesel já apresenta queda devido ao menor consumo de diesel, o que afeta as perspectivas para o óleo de soja brasileiro. A Cargill paralisou a usina de biodiesel em Três Lagoas, em Mato Grosso do Sul, por "alguns dias" devido ao excesso de estoques de biodiesel, segundo Sousa.

"As margens de esmagamento do Brasil estavam muito boas de janeiro até agora, mas começam a sofrer", afirmou.

A demanda por farelo de soja brasileiro permanece estável e pode até subir devido a problemas logísticos na Argentina, onde os baixos níveis do Rio Paraná podem prejudicar a competitividade do setor, disse.

No Brasil, o aumento nas receitas no campo pode resultar em maior área plantada de soja na safra 2020-21, com a taxa de crescimento seguindo a linha de tendência dos últimos anos. Algumas restrições ambientais e de crédito podem impedir uma maior expansão, disse Sousa.

O presidente da maior exportadora de soja e milho do Brasil disse que o país enfrenta um grande desafio para reduzir o desmatamento, o que também exige compromisso do governo federal.

"É uma ação estrutural necessária que só pode ser feita pelo governo para ter uma solução definitiva para esse problema", disse. "O grande desafio da agricultura brasileira é se tornar mais verde."

©2020 Bloomberg L.P.