Homem mais rico da Europa perde US$ 30 bilhões em pandemia
Em seu escritório no 9º andar na Avenue Montaigne, em Paris, Bernard Arnault, o homem mais rico da Europa, passa longas horas planejando um futuro pós-vírus para a LVMH, seu império de artigos de luxo. Aos 71 anos, o bilionário passou por várias crises, mas nenhuma como esta, com sua armada de mais de 70 marcas - de Dior à Fendi - atingida por todos os lados.
A fortuna de Arnault despencou. As ações da LVMH acumulam queda de 19% neste ano, o que encolheu seu patrimônio líquido em mais de US$ 30 bilhões. Arnault perdeu mais dinheiro do que qualquer outra pessoa no mundo, segundo o Índice de Bilionários Bloomberg. Até 6 de maio, ele havia perdido a mesma quantia embolsada por Jeff Bezos, fundador da Amazon.com.
Sem se abalar, Arnault vai para sua sala de guerra todos os dias, onde batalha para dar seguimento a uma aquisição de peso e alguns projetos imobiliários faraônicos nos trilhos. O bilionário também realiza videochamadas com deputados em meio às medidas para reabrir fábricas e lojas em um mundo abalado pelo coronavírus.
"Ele está se colocando em posição de continuar ganhando participação assim que o mercado voltar ao crescimento", disse Mario Ortelli, sócio-fundador da consultoria de luxo Ortelli & Co., em Londres.
Desde o final da década de 1980, Arnault tem deslumbrado - e às vezes escandalizado - o rarefeito mundo dos negócios francês com seu talento prodigioso de transformar a criatividade e talento das marcas mais antigas da Europa em lucro cada vez maior.
A marca Louis Vuitton, carro-chefe da empresa, tem margem de lucro de até 45%, segundo estimativas de analistas. As margens nas malas e bolsas monogramadas dessa marca, bem como em outros produtos de luxo, como Hennessy Cognac e champanhe Dom Perignon ajudaram a consolidar a presença crescente de Arnault na maioria das coisas compradas por pessoas ricas: uma bolsa Fendi, um relógio Bulgari ou ficar no Hotel Cipriani, em Veneza, engordam os cofres de Arnault.
Mas como o surto de coronavírus e as medidas de contenção mergulham a economia global na pior crise desde a Segunda Guerra Mundial, ser o principal beneficiário de gastos discricionários de repente não parece tão vantajoso.
A maioria das boutiques de moda de Arnault no mundo todo ficou fechada por mais de um mês, causando perdas de bilhões em receitas em sua divisão mais rentável. A fabricante de 20% do champanhe do mundo está vendendo muito menos com festas e shows cancelados, e boates e restaurantes fechados. O perfume J'adore Dior é menos prioritário para pessoas com máscaras ao redor do mundo.
No meio de tudo isso, Arnault está disposto a pagar US$ 16 bilhões pela Tiffany & Co., no que foi anunciado como a maior aquisição de todos os tempos da indústria de luxo. A LVMH negou qualquer sugestão de que abandonaria o acordo ou renegociaria o preço devido à paralisação dos negócios da joalheria dos EUA.
"O que aconteceu com a covid-19 é um tempestade perfeita para o luxo", disse Ortelli. "Você tem uma retração no PIB, além de um aumento na incerteza."
Ainda assim, os investidores estariam dispensando Arnault por seu próprio risco. As ações da LVMH se saíram melhor do que as da Kering, dona da marca Gucci, e da fabricante de relógios Richemont, que acumulam queda de 25% e 30%, respectivamente. As marcas de Arnault, as altas margens e seu enorme caixa de cerca de 9 bilhões de euros (US$ 9,72 bilhões) lhe dão flexibilidade não apenas para enfrentar a crise, mas para continuar em expansão.
"Somos muito orientados a longo prazo", disse o diretor financeiro da LVMH, Jean-Jacques Guiony, em entrevista. "Em uma crise, muitas pessoas dizem que as coisas nunca mais serão as mesmas, mas ainda estamos confiantes."
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