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Pacote de resgate de Trump superestima perdas de agricultores

Anna Moneymaker/The New York Times/POOL/Getty Images
Imagem: Anna Moneymaker/The New York Times/POOL/Getty Images

Mike Dorning

08/05/2020 12h14

O resgate do governo Donald Trump para o setor de comércio, de US$ 28 bilhões, superestimou pagamentos a agricultores pelas perdas. Produtores de algodão do Sul foram os que mais receberam, segundo pesquisadores da Universidade Estadual do Kansas.

O pagamento a produtores de algodão na segunda rodada do resgate foi 33 vezes maior do que o impacto financeiro estimado das disputas tarifárias com a China e outros países, de acordo com o estudo publicado nesta semana em uma revista acadêmica.

O Departamento de Agricultura dos EUA não comentou imediatamente os resultados. Uma porta-voz do Conselho Nacional de Algodão disse que as estimativas da associação indicam que as indenizações pelas perdas comerciais ficaram abaixo do necessário.

O estudo certamente deve reforçar críticas antigas sobre o resgate e a maneira como os fundos foram distribuídos quando o governo Trump avança com o pacote do coronavírus para o setor agrícola de US$ 19 bilhões. O USDA ainda não divulgou como os pagamentos de resgate relacionados ao vírus serão calculados, mas autoridades dizem que um anúncio é iminente.

Agricultores e comunidades rurais são elemento-chave da base eleitoral de Trump em sua busca pela reeleição. O presidente dos EUA tem cortejado assiduamente agricultores, elogiando-os e vangloriando-se da ajuda fornecida. No ano passado, Trump mencionou agricultores em média três vezes por semana em seus posts no Twitter.

O estudo encontrou grandes diferenças por commodity na relação entre perdas comerciais e pagamentos de resgate. Na segunda rodada, quando os pagamentos foram maiores, a indenização foi 1,4 vez maior do que as perdas comerciais para o milho, 2,4 vezes acima para a soja, 7,1 vezes para o trigo e 7,3 vezes para o sorgo, segundo os autores Joseph Janzen e Nathan Hendricks, ambos economistas do estado do Kansas.

Os autores também compararam os pagamentos ao aluguel que os agricultores pagam pelas propriedades - que refletem a produtividade da terra - e descobriram que as fazendas do Sul se beneficiavam desproporcionalmente. Na segunda rodada, os pagamentos de resgate no Sul foram maiores do que os preços do aluguel, enquanto no cinturão do milho do Centro-Oeste correspondiam a cerca de 30% dos níveis do aluguel.

Janzen disse que as discrepâncias nos pagamentos de ajuda decorrem do método usado pelo USDA para prever perdas comerciais. A agência baseou o pagamento apenas nas perdas projetadas com vendas na China e em outros países envolvidos em disputas tarifárias sem contabilizar o inevitável aumento das vendas em outros lugares devido ao ajuste dos fluxos comerciais globais.

Esse método resultou em indenização menor para produtores de milho na primeira rodada, uma vez que a colheita foi indiretamente impactada. Muitos agricultores alternam entre milho e soja, e os suprimentos de milho aumentaram à medida que os preços da soja caíam. Produtores de algodão receberam indenizações maiores porque têm muitos outros clientes no exterior que absorveram facilmente as vendas perdidas na China.