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Chile desiste de polêmicos 'cartões de imunidade'

Philip Sanders

11/05/2020 11h51

(Bloomberg) -- O Chile desistiu do plano de liderar um sistema de cartões de imunidade para pessoas que se recuperaram do Covid-19. O governo cedeu às advertências de que os chamados passaportes poderiam incentivar a discriminação e mais infecções.

O sistema, que seria o primeiro desse tipo no mundo, foi oficialmente suspenso por um dos motivos pelos quais foi considerado inicialmente: evitar a criação de um mercado de trabalho dividido, disse no domingo o ministro da Saúde, Jaime Mañalich.

O objetivo de um plano desse tipo, contemplado em vários países, como nos EUA, era liberar indivíduos que não estão mais sob risco ou ofereçam risco para os outros, de modo que possam retornar à plena integração social. Mas, após uma reflexão mais cuidadosa, chegou-se à conclusão de que o passaporte proporcionaria uma vantagem sobre os demais no mercado de trabalho em um momento de forte crise econômica. Também não há evidências suficientes para provar que uma pessoa não pode ser infectada novamente ou espalhar o vírus após a recuperação.

"Fomos alertados de que os cartões podem desencadear um grave problema de discriminação", disse Mañalich. Os passaportes dariam privilégios a uma minoria de pessoas ao serem contratadas, recontratadas ou simplesmente para entrarem em edifícios públicos, disse.

Para muitos, o problema era mais científico do que social. As Nações Unidas e a Organização Mundial da Saúde têm questionado por quanto tempo as pessoas permanecem imunes depois de se recuperarem da doença e alertaram que os cartões podem prejudicar as medidas de quarentena.

O anúncio de não avançar com o plano ocorreu no mesmo dia em que o Chile registrou número recorde de novos casos - 1.647 em um dia - no que o governo começou a chamar de "batalha por Santiago".

Em meio a crescentes críticas, Mañalich tem estreitado o escopo das propostas desde que foram anunciadas em 16 de abril. O projeto foi repetidamente adiado e a duração dos cartões limitada a apenas três meses. Querendo enfatizar que não constituíam "passaportes de imunidade", Mañalich disse que os cartões apenas indicariam que alguém havia se recuperado da doença, levantando questões sobre se deveriam ser entregues.

O Chile adotou uma abordagem única para combater o coronavírus, como confinamentos de bairro a bairro. Agora, apenas três semanas após a impressão de que o pior havia passado, os novos casos diários triplicaram.

Rápida propagação

A doença agora se propaga rapidamente no centro de Santiago, famosa por seus arranha-céus, conhecidos localmente como guetos verticais. O governo respondeu com o aumento do número de bairros sob confinamento, particularmente áreas mais pobres de Santiago, e reforçando restrições nessas regiões.

"Após a implementação de confinamentos locais e temporários em bairros de alta renda, os casos diminuíram significativamente, então realmente pensamos que as medidas estavam sendo eficazes", disse Marcela Garrido, chefe do Departamento de Saúde Pública e Epidemiologia da Universidade de Los Andes, em Santiago. "Mas, quando as mesmas medidas foram implementadas em áreas mais pobres, não tivemos o mesmo resultado. Os casos não caíram como o esperado."

O número total de casos no Chile, com população de 18 milhões de pessoas, agora é de mais de 28 mil, com 312 mortes, o quinto e sétimo maiores, respectivamente, na América Latina e no Caribe.

©2020 Bloomberg L.P.