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Sequelas de Covid-19 podem durar anos após recuperação

Lisa Du

13/05/2020 14h37

(Bloomberg) -- Mais de um milhão de pessoas foram consideradas recuperadas do coronavírus, mas vencer a doença pode ser apenas a primeira de muitas batalhas para sobreviventes.

Alguns pacientes recuperados se queixam de falta de ar, fadiga e dores no corpo meses após a primeira infecção. Estudos em pequena escala conduzidos em Hong Kong e Wuhan, na China, mostram que os pulmões, coração e fígado dos sobreviventes funcionam pior. E essa pode ser a ponta do iceberg.

Sabe-se agora que o coronavírus ataca muitas partes do corpo além do sistema respiratório e também causa danos nos globos oculares, dedos dos pés, intestino e rins. O sistema imunológico dos pacientes pode entrar em ação para combater a infecção, agravando os danos causados.

Embora pesquisadores estejam apenas começando a pesquisar a saúde a longo prazo dos sobreviventes, epidemias passadas causadas por vírus semelhantes mostram que as sequelas podem durar mais de uma década. Segundo um estudo, os sobreviventes da Síndrome Respiratória Aguda Grave (SARS, na sigla em inglês) sofreram infecções pulmonares, níveis mais altos de colesterol e adoeceram com mais frequência do que outras pessoas por até 12 anos após a epidemia se propagar pela Ásia, matando quase 800 pessoas.A SARS infectou 8 mil pessoas. Com mais de 4 milhões de casos do novo coronavírus, os danos a longo prazo à saúde podem sobrecarregar as redes de segurança social e a infraestrutura de assistência médica nos próximos anos, além de ter implicações para economias e empresas.

A perspectiva levou Nicholas Hart, o médico britânico que tratou o primeiro-ministro Boris Johnson, a chamar o vírus de "poliomielite desta geração", uma doença que poderia deixar muitos marcados por suas cicatrizes e remodelar a assistência médica global.

"O panorama final desses problemas crônicos - e quantos pacientes passarão por eles - terá implicações enormes para pacientes, médicos que os tratam e sistemas de saúde ao seu redor", disse Kimberly Powers, epidemiologista da Universidade da Carolina do Norte. em Chapel Hill, que desenvolve modelos sobre a propagação do vírus para agências de saúde pública.

Pesquisas preliminares

A autoridade hospitalar de Hong Kong acompanhou um grupo de pacientes de Covid-19 por até dois meses desde que tiveram alta. Os pesquisadores descobriram que cerca de metade dos 20 sobreviventes tinha função pulmonar abaixo da faixa normal, disse Owen Tsang, diretor médico do centro de doenças infecciosas do Hospital Princess Margaret.

A capacidade de difusão dos pulmões - quão bem o oxigênio e o dióxido de carbono são transferidos entre os pulmões e o sangue - permaneceu abaixo dos níveis saudáveis, observou Tsang.

Um estudo de amostras de sangue de 25 pacientes recuperados em Wuhan, a cidade onde o vírus surgiu, revelou que estes não haviam recuperado completamente o funcionamento normal, independentemente da gravidade dos sintomas de coronavírus, de acordo com artigo publicado em 7 de abril.

©2020 Bloomberg L.P.