Armadilha de liquidez levará BC a comprar títulos, diz Werlang
(Bloomberg) -- O Banco Central deverá partir para a compra de títulos no mercado de forma a contornar a "armadilha de liquidez" depois que a Selic atingir o piso na crise do coronavírus, diz Sérgio Werlang, professor da FGV e ex-diretor do Banco Central.
Diante do cenário recessivo e da inflação abaixo da meta, ele acredita que o BC deverá cortar a Selic em pelo menos mais 0,75 ponto porcentual, o que levaria a taxa a nova mínima histórica de 2,25%, um patamar em que a política monetária tradicional já começaria a perder a capacidade de aliviar a recessão.
A "armadilha da liquidez" foi o que levou os grandes bancos centrais a adotar o desaperto quantitativo (QE, na sigla em inglês) para combater a crise financeira global iniciada em 2008, depois que as taxas de juros já tinham sido totalmente derrubadas. Ao comprar títulos no mercado, BCs como o Federal Reserve na prática imprimiram dinheiro novo para estimular a economia.
A diferença é que, no Brasil, o piso do juro não é necessariamente zero, mas sim um patamar no qual seu efeito seja indiferente para muitos aplicadores, diz Werlang. A maioria dos membros do Copom também avalia que o limite mínimo para os juros pode ser maior no Brasil, em razão da fragilidade fiscal, como mostrou a ata da última reunião.
É a partir desse piso que o BC poderia passar a usar a nova ferramenta trazida pela PEC do chamado orçamento de guerra. A medida permite a compra de títulos públicos para injetar liquidez e de títulos privados para destravar o crédito e evitar que empresas de boa qualidade desapareçam, afirma Werlang.
O ex-diretor do BC reconhece que a adoção de prática similar ao QE no Brasil poderá trazer alguns riscos, inclusive fiscais e na adição de pressão ao câmbio, mas deverá ser necessária diante do agravamento da recessão e da crise de liquidez. "Estamos entrando em águas nas quais nunca nadamos antes. Por isso, vai haver bastante tentativa e erro", diz Werlang.
©2020 Bloomberg L.P.
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