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Apostas no petróleo ignoram sinais de fraca demanda nos EUA

Lucia Kassai e Michael Jeffers

29/05/2020 14h43

(Bloomberg) -- Investidores otimistas do mercado de petróleo, incentivados pelo retorno da China depois do confinamento causado pelo coronavírus, talvez ignorem as perspectivas mais pessimistas nos Estados Unidos.

O avanço do petróleo neste mês foi impulsionado por cortes da produção de grandes produtores, mas a recuperação da demanda será fundamental para que os ganhos sejam sustentados. Agora, em meio à pandemia de Covid-19, surgem diferentes quadros para os dois maiores países consumidores de petróleo.

A demanda chinesa por petróleo parece estar perto dos níveis antes de o governo de Pequim impor um confinamento nacional. Nos EUA, no entanto, os casos de vírus continuam a aumentar, com a marca 100 mil mortes, o número mais alto do mundo. A demanda por gasolina caiu entre 25% e 35% durante o fim de semana do feriado Memorial Day nos EUA, e os retornos do refino estão bem abaixo dos níveis normais.

O otimismo de que a demanda por combustível nos EUA vai se recuperar no mesmo ritmo que o da China é precipitado, pois restaurantes ainda estão fechados e cortes nos gastos com saúde e férias devem pesar sobre a economia dos EUA, apoiada no setor de serviços, de acordo com diretor-presidente da BB Energy, trading trading de petróleo que lucrou muito quando os preços da commodity caíram abaixo de zero no mês passado.

"A China é uma economia centralizada e baseada na manufatura" e o ritmo de recuperação mais rápido não poderá ser alcançado pelos EUA, disse o CEO Mohamed Bassatne em entrevista por telefone de Londres. "Nos Estados Unidos, as empresas fecharam e mais de 30 milhões de pessoas perderam o emprego", disse. "A recuperação nos EUA será muito mais lenta."

Isso não impediu que hedge funds aumentassem as apostas de alta do petróleo WTI para o maior nível em 20 meses, segundo dados da CFTC dos EUA sobre futuros e opções.

Os fundos redobram as apostas mesmo quando os dados da Administração de Informação de Energia mostram que a demanda por gasolina nos EUA, medida pelo produto fornecido, permanece próxima de mínimas históricas. Enquanto isso, os retornos do refino de petróleo em combustível estão bem abaixo dos ganhos da commodity. Com isso, processadores têm pouco incentivo para comprar cargas.

"O rali do petróleo permanece vulnerável ao enfraquecimento das margens, a menos que os produtos armazenados e a demanda do usuário final possam sustentar mais rapidamente", disse Stephen Wolfe, analista da consultoria Energy Aspects.

As milhas de veículos de passageiros percorridas em todas as rodovias interestaduais na semana encerrada em 24 de maio diminuíram 29% em relação ao ano anterior, de acordo com o Departamento de Transportes dos EUA.

©2020 Bloomberg L.P.