Pesca com explosivos, ou como dinamitar o futuro para não passar fome
Belén Delgado.
Roma, 17 mai (EFE).- Usar dinamite ou passar fome. Esse é o dilema que muitos pescadores ainda enfrentam em alguns países pobres que veem na pesca com explosivos sua única forma de sobreviver, apesar de comprometer seu futuro com os danos ambientais causados por essa prática.
Proibida em quase todos os países, esse tipo de pesca continua representando um caminho rápido, mas cheio de riscos, para obter peixes em regiões da África e do Sudeste Asiático.
A explosão dos artefatos caseiros se propaga através de ondas pela água que matam grandes quantidades de peixes, incluindo os menores.
Seu comércio e o tráfico ilegal de explosivos, vendidos a preços baixos em minas e fábricas, mantêm vivo o negócio, do qual se aproveitam contrabandistas e donos de barcos pesqueiros, segundo os investigadores.
Um dos casos mais famosos é o da Tanzânia, onde as explosões destroem os recifes de coral, um importante polo de atração turística, e com eles o habitat das populações de peixes.
"Acabar com esta pesca é cada vez mais difícil porque trata-se de algo ilegal, um mercado negro que continua operando devido à demanda por peixes da população, que depende desse recurso", disse à Agência Efe o especialista Johannes Dirk Kotze, do grupo Stop Illegal Fishing ("Parem com a Pesca Ilegal").
Organizações internacionais, ativistas e autoridades se uniram nos últimos 20 anos contra a pesca com explosivos na Tanzânia até quase erradicá-la, mas a falta de recursos levou a um relaxamento da fiscalização a partir de 2005, e o problema ressurgiu.
Desde 2011, o programa regional SmartFish, financiado pela União Europeia (UE) e implementado pela Comissão do Oceano Índico e pela Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), ajuda o governo tanzaniano a coibir os crimes relacionados à pesca.
As operações conjuntas permitiram a detenção de suspeitos e a apreensão de centenas de quilos de explosivos e dezenas de barcos de pesca, mas colocaram em evidência sua incapacidade de desmantelar uma rede que se mostrou muito mais complexa do que se acreditava.
Após várias mudanças, agora existe uma missão formada por agências e ministérios do país que trabalha com as comunidades locais.
Uma porta-voz do SmartFish evita falar sobre este assunto "delicado na África" e alega que o programa se limita a oferecer apoio técnico à nova estrutura criada.
Já Kotze traz mais detalhes, ao explicar que essa equipe "tenta educar os pescadores para que utilizem métodos sustentáveis de pesca e deem informação para deter os traficantes de explosivos", um trabalho que é impedido - segundo ele - pela falta de meios e pela corrupção.
Em paralelo, a ONG está tentando introduzir na Tanzânia a tecnologia GPS que já foi testada nas Filipinas e que avisa as detonações ocorridas na costa sem a necessidade do uso de patrulhas.
Mas, por mais que aumente a fiscalização e as punições fiquem mais severas, a falta de alternativas é o que leva cada vez mais os pescadores a lançarem dinamite ao mar.
"A única coisa que funciona é fazer com que os próprios pescadores vejam (essa prática) como algo contrário a seus interesses", opinou o especialista da FAO, Pedro Barros, ao acrescentar que, nessas regiões, a pesca em pequena escala representa "a última rede social de segurança para os pobres".
Sem terras para cultivar nem outros recursos, a única coisa que lhes resta é entrar nas águas para pescar e sobreviver, como fazem muitos dos 7,4 milhões de pequenos pescadores que vivem na África.
Uma cifra que pode aumentar devido ao crescimento esperado da população nesse continente e no sudeste da Ásia, que absorverão a maior parte dos jovens que existirão no mundo até 2050.
Frente à pressão demográfica, Barros insiste na necessidade de dar mais oportunidades de trabalho e destacou que, nesse contexto, os que dispõem de direitos tradicionais de pesca podem se opor a que os novos usuários destruam sua forma de vida.
"Frequentemente, em países com pesca tradicional como o Senegal, as comunidades são perfeitamente conscientes de que estão danificando seu próprio futuro, mas não veem alternativa", argumentou Barros.
Em Angola, as autoridades estão promovendo a construção de obras públicas e outras fontes de investimento para manter a população longe da tentação de destruir o meio ambiente com a pesca com dinamite, que lá recebe o nome de "muduco".
Sem informação completa sobre os lugares onde essa técnica continua sendo utilizada, os especialistas não descartam que a mesma ocorra em lugares que combinam altos índices de pobreza e desemprego, crescimento populacional, acesso fácil a materiais para fabricar bombas e sistemas com dificuldades para fazer com que as leis sejam cumpridas, criando um coquetel ainda mais explosivo.
Roma, 17 mai (EFE).- Usar dinamite ou passar fome. Esse é o dilema que muitos pescadores ainda enfrentam em alguns países pobres que veem na pesca com explosivos sua única forma de sobreviver, apesar de comprometer seu futuro com os danos ambientais causados por essa prática.
Proibida em quase todos os países, esse tipo de pesca continua representando um caminho rápido, mas cheio de riscos, para obter peixes em regiões da África e do Sudeste Asiático.
A explosão dos artefatos caseiros se propaga através de ondas pela água que matam grandes quantidades de peixes, incluindo os menores.
Seu comércio e o tráfico ilegal de explosivos, vendidos a preços baixos em minas e fábricas, mantêm vivo o negócio, do qual se aproveitam contrabandistas e donos de barcos pesqueiros, segundo os investigadores.
Um dos casos mais famosos é o da Tanzânia, onde as explosões destroem os recifes de coral, um importante polo de atração turística, e com eles o habitat das populações de peixes.
"Acabar com esta pesca é cada vez mais difícil porque trata-se de algo ilegal, um mercado negro que continua operando devido à demanda por peixes da população, que depende desse recurso", disse à Agência Efe o especialista Johannes Dirk Kotze, do grupo Stop Illegal Fishing ("Parem com a Pesca Ilegal").
Organizações internacionais, ativistas e autoridades se uniram nos últimos 20 anos contra a pesca com explosivos na Tanzânia até quase erradicá-la, mas a falta de recursos levou a um relaxamento da fiscalização a partir de 2005, e o problema ressurgiu.
Desde 2011, o programa regional SmartFish, financiado pela União Europeia (UE) e implementado pela Comissão do Oceano Índico e pela Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), ajuda o governo tanzaniano a coibir os crimes relacionados à pesca.
As operações conjuntas permitiram a detenção de suspeitos e a apreensão de centenas de quilos de explosivos e dezenas de barcos de pesca, mas colocaram em evidência sua incapacidade de desmantelar uma rede que se mostrou muito mais complexa do que se acreditava.
Após várias mudanças, agora existe uma missão formada por agências e ministérios do país que trabalha com as comunidades locais.
Uma porta-voz do SmartFish evita falar sobre este assunto "delicado na África" e alega que o programa se limita a oferecer apoio técnico à nova estrutura criada.
Já Kotze traz mais detalhes, ao explicar que essa equipe "tenta educar os pescadores para que utilizem métodos sustentáveis de pesca e deem informação para deter os traficantes de explosivos", um trabalho que é impedido - segundo ele - pela falta de meios e pela corrupção.
Em paralelo, a ONG está tentando introduzir na Tanzânia a tecnologia GPS que já foi testada nas Filipinas e que avisa as detonações ocorridas na costa sem a necessidade do uso de patrulhas.
Mas, por mais que aumente a fiscalização e as punições fiquem mais severas, a falta de alternativas é o que leva cada vez mais os pescadores a lançarem dinamite ao mar.
"A única coisa que funciona é fazer com que os próprios pescadores vejam (essa prática) como algo contrário a seus interesses", opinou o especialista da FAO, Pedro Barros, ao acrescentar que, nessas regiões, a pesca em pequena escala representa "a última rede social de segurança para os pobres".
Sem terras para cultivar nem outros recursos, a única coisa que lhes resta é entrar nas águas para pescar e sobreviver, como fazem muitos dos 7,4 milhões de pequenos pescadores que vivem na África.
Uma cifra que pode aumentar devido ao crescimento esperado da população nesse continente e no sudeste da Ásia, que absorverão a maior parte dos jovens que existirão no mundo até 2050.
Frente à pressão demográfica, Barros insiste na necessidade de dar mais oportunidades de trabalho e destacou que, nesse contexto, os que dispõem de direitos tradicionais de pesca podem se opor a que os novos usuários destruam sua forma de vida.
"Frequentemente, em países com pesca tradicional como o Senegal, as comunidades são perfeitamente conscientes de que estão danificando seu próprio futuro, mas não veem alternativa", argumentou Barros.
Em Angola, as autoridades estão promovendo a construção de obras públicas e outras fontes de investimento para manter a população longe da tentação de destruir o meio ambiente com a pesca com dinamite, que lá recebe o nome de "muduco".
Sem informação completa sobre os lugares onde essa técnica continua sendo utilizada, os especialistas não descartam que a mesma ocorra em lugares que combinam altos índices de pobreza e desemprego, crescimento populacional, acesso fácil a materiais para fabricar bombas e sistemas com dificuldades para fazer com que as leis sejam cumpridas, criando um coquetel ainda mais explosivo.
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