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ONU abre reserva de combustível atômico para garantir fornecimento

28/08/2017 21h12

Antonio Sánchez Solís.

Viena, 28 ago (EFE).- Garantir o fornecimento de combustível nuclear em caso de interrupção por problemas políticos ou do mercado é o objetivo do banco de urânio que a Organização Internacional de Energia Atômica (OIEA) abre nesta terça-feira no Cazaquistão.

Esta reserva armazenará 90 toneladas de urânio de baixo enriquecimento (LEU, na sigla em inglês), ingrediente essencial para fabricar o combustível que alimenta os reatores atômicos de água leve para gerar eletricidade.

Este material é adquirido habitualmente no mercado aberto ou por acordos bilaterais entre países, um circuito que este novo banco não quer entorpecer.

Assim, a OIEA insiste que esta reserva é um "mecanismo de último recurso" para situações nas quais um país membro deste órgão da ONU não possa ter acesso ao combustível pelas vias habituais.

De fato, essas 90 toneladas representam uma quantidade discreta em relação ao consumo mundial, servindo para uma carga completa de um reator tipo de água leve, capaz de fornecer eletricidade a uma grande cidade durante três anos.

A OIEA, que administra esta reserva, estabeleceu uma série de critérios restritos para que um país membro possa solicitar e comprar urânio deste banco. Para começar, tem que haver uma interrupção de fornecimento "devido a circunstâncias extraordinárias" que façam com que o país em questão não possa obter o combustível pelos meios habituais.

Além disso, a OIEA tem que ter garantia de que não houve no passado desvio de material nuclear e que o país cumpre todas as medidas de segurança.

O país comprador deve se comprometer a usar o urânio apenas para produzir combustível, nunca para armas, e a não voltar a processá-lo ou transferí-lo para terceiros sem expresso consentimento da OIEA.

Caso sejam cumpridas essas condições, o material será colocado em cilindros especiais que seriam levados do norte do Cazaquistão, onde fica o banco, a uma instalação onde o LEU possa ser transformado em combustível.

Para garantir o transporte, a OIEA assinou em 2015 um acordo com a Rússia para permitir o trânsito do material pelo território deste país.

O banco fica na usina metalúrgica de Ulba, no norte do Cazaquistão, cujas autoridades são responsáveis pela segurança da instalação, apesar de a gestão ser diretamente de responsabilidade da OIEA.

"O banco de combustível é uma excelente ideia", afirmou à Efe Heinz Gärtner, professor de Ciências Políticas na Universidade de Viena e assessor do Ministério de Defesa da Áustria.

De acordo com ele, o banco garante aos países o uso pacífico da energia atômica sem necessidade de desenvolver um caro programa de enriquecimento. Além disso, reduz a dependência que os países sem armas nucleares têm do mercado.

Sobre a situação no Cazaquistão, Gärtner lembrou que este país é o principal membro da Zona Livre de Armas Nucleares da Ásia Central, o que reduz o risco de um ataque nuclear, e pode contribuir para que países como a Mongólia e o Irã se unam também a esse acordo.

Segundo a OIEA, a usina de Ulba "é uma instalação nuclear com operações em escala comercial e a infra-estrutura completa para armazenar, transportar e processar o LEU de forma segura".

Os US$ 150 milhões orçados para o funcionamento do banco durante seus primeiros dez anos provêm de contribuições voluntárias. As principais são do empresário Warren Buffett (US$ 50 milhões), do governo dos Estados Unidos (US$ 49 milhões) e da União Europeia, que contribuiu com US$ 25 milhões.

A OIEA também administra uma reserva de 123 toneladas de urânio na cidade de Angarsk, na Rússia, por meio de um acordo com o governo do país, e participa de um mecanismo liderado pelo Reino Unido para assegurar que não seja interrompido o fornecimento entre países produtores e receptores de combustível nuclear.

Já os Estados Unidos dispõem de sua própria reserva de combustível nuclear.