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Boracay, nas Filipinas, vai reabrir após 6 meses fechada para turistas

19/10/2018 10h03

Sara Gómez Armas.

Boracay (Filipinas), 19 out (EFE).- A água cristalina e a areia branca recuperaram seu esplendor na paradisíaca ilha de Boracay, nas Filipinas, destino turístico vetado ao público por seis meses na tentativa de frear a expansão hoteleira descontrolada e a poluição em todos os seus aspectos.

Conhecida por suas grandes festas, a lotação da ilha chegou a atingir no ano passado a marca de 2 milhões de turistas em pouco mais de mil hectares de território, o que levou o presidente Rodrigo Duterte a determinar no dia 26 de abril o fechamento da região.

Depois de meses de uma ilha deserta, sem turistas e com estabelecimentos fechados, nesta semana começou uma abertura-teste com a chegada de mais de 1.000 visitantes filipinos para ensaiar o que deve ser feito antes da inauguração oficial da nova Boracay, marcada para a sexta-feira da semana que vem, 26 de outubro.

"O presidente ficou furioso com as condições da água. Agora está limpa e transparente. Também trabalhamos para conscientizar a população sobre a importância de cuidar do ambiente", explicou à Agência Efe o subsecretário do Departamento de Meio Ambiente, Benny Antiporda.

A ideia é transformar Boracay em um exemplo de turismo sustentável para o mundo e para outros destinos em alta no país, como El Nido, na Ilha de Palawan, e Panglao, de acordo com Antiporda.

A situação era especialmente grave na praia de Bulabog - muito conhecida pela prática de esportes aquáticos de dia e festas badaladas à noite - onde vários hotéis construíram encanamentos ilegais para jogar o esgoto diretamente no mar.

As novas regras agora são rígidas: é proibido fumar, consumir bebidas alcoólicas na praia, colocar redes ou barracas. Também não é permitida a circulação de ambulantes e os esportes aquáticos só poderão ser praticados a uma distância de mais de 100 metros da margem.

Para alguns, as medidas são excessivas, mas as autoridades garantiram que serão implacáveis na aplicação da lei e criaram inclusive um grupo de observadores civis para supervisionar a limpeza das praias e que terá aval para repreender os infratores.

Jogar lixo fora do lugar, por exemplo, poderá ser punido com prisão na nova versão de Boracay, que também terá a capacidade turística limitada a 19.200 visitantes por dia.

"Estamos felizes por finalmente conseguirmos reabrir a ilha. Sacrificamos muito, mas acho que é melhor fazer isso agora, por seis meses, do que depois ter que fazer para sempre", defendeu Junthir Flores, que agora treina com sua equipe de frisbee na praia sem medo de se cortar com um vidro.

Junthir nasceu em Boracay e participou como voluntário dos trabalhos de limpeza durante o fechamento. Segundo ele, as praias voltaram a ser como eram nos anos 90, quando ainda era criança e antes da invasão de turistas.

Angela Rodríguez é recepcionista em um hotel e ficou sem trabalhar por seis meses. Mesmo assim, disse estar convencida de que era preciso agir contra o turismo desenfreado.

"Comiam e bebiam no mar e atiravam latas de cerveja na água. Agora, está mais limpa e até maior, já que antes era tomada por barracas e redes", lembrou ela, que recebeu uma compensação de 15 mil pesos filipinos (cerca de R$ 1.000) concedidos pelo governo aos que ficaram temporariamente sem trabalho.

Os hotéis que cumprem os novos requisitos em matéria de meio ambiente, como um sistema adequado de drenagem e tratamento de resíduos, já conseguiram autorização do governo e começaram a aceitar reservas.

Porém, dos mais de 600 estabelecimentos hoteleiros que operavam em Boracay até abril, apenas cem contam com a permissão atualmente.

De acordo com o Departamento de Turismo, até o dia 26, todos os que cumprirem as novas normas estarão funcionado. Contudo, as autoridades advertiram que a abertura será gradual.

A orientação é para que os hotéis "moderem as expectativas" dos hóspedes porque a reconstrução de Boracay só estará completa no ano que vem e dar um passeio além das praias é impossível: as obras para ampliar a única estrada que atravessa a ilha estão atrasadas e o trânsito é quase inviável, as calçadas estão levantadas e a maioria dos estabelecimentos ainda está realizando trabalhos de reconstrução.

Os hotéis e restaurantes da orla, por exemplo, tiveram que diminuir o tamanho, já que a nova regulação só permite construções a partir de 30 metros da margem para respeitar a vegetação natural.

"Se no final vão continuar os trabalhos de reconstrução depois da abertura, era necessário fechar a ilha por seis meses?", lamentou a proprietária de um hotel que preferiu não se identificar.