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"Herói do rio Hudson" critica Boeing e órgão regulador por negligência

15.jan.2009 - O piloto Chesley "Sully" Sullenberg, da US Airways, teve de fazer um pouso forçado no rio Hudson, em Nova York, após o avião apresentar falha. Todos os 150 passageiros e cinco tripulantes foram resgatados com vida - Brendan McDermid/Reuters
15.jan.2009 - O piloto Chesley "Sully" Sullenberg, da US Airways, teve de fazer um pouso forçado no rio Hudson, em Nova York, após o avião apresentar falha. Todos os 150 passageiros e cinco tripulantes foram resgatados com vida Imagem: Brendan McDermid/Reuters

19/03/2019 17h50Atualizada em 20/03/2019 18h26

Nova York, 19 mar (EFE).- O herói do chamado "milagre do Hudson", o capitão Chesley "Sully" Sullenberg, criticou nesta terça-feira (19) em um artigo a Administração Federal de Aviação dos Estados Unidos (FAA, em inglês) e a Boeing, questionando a falta de recursos destinados a evitar acidentes como os da Indonésia e da Etiópia.

Sully, que em 2009 conseguiu aterrissar um Airbus A320 sobre o rio Hudson em Nova York, afirmou no portal econômico "Marketwatch" que cortes no orçamento da agência federal impediram uma supervisão necessária das aeronaves comerciais, o que se agravou pela pressão que a Boeing sentiu diante dos avanços do seu competidor europeu.

"Há muitos anos, a FAA não recebeu o orçamento suficiente para assegurar uma supervisão adequada da crescente indústria global de aviação", assegurou Sully, vivido no cinema por Tom Hanks em um filme de 2016 dirigido por Clint Eastwood.

O veterano piloto, que durante 30 anos trabalhou para a companhia aérea US Airways, denunciou também a falta de pessoal do órgão supervisor, o que impede uma revisão correta dos modelos, assim como a relação "relaxada demais" entre a indústria e os reguladores.

"Em muitos casos, os funcionários da FAA que, com direito, pediram o cumprimento dos padrões de segurança de maneira mais estrita e a escolha de designs de maneira mais rigorosa foram desautorizados por seus superiores, que frequentemente se encontram sob pressões políticas ou corporativas", destacou o piloto.

"A supervisão tem que significar prestação de contas ou não significa nada", ressaltou Sully no artigo.

A FAA, por sua parte, respondeu através de um porta-voz, afirmando que "os processos de certificação de aeronaves da FAA estão bem estabelecidos e produziram de formas consistentes designs de aviões seguros. O programa de certificação do 737 MAX seguiu os padrões da FAA".

Piloto critica pressa em lançar avião

Para Sully, a Boeing não está isenta de críticas, já que a concorrência da Airbus fez com que quisesse lançar seu novo modelo de aeronave ao mercado o mais rápido possível e, quando detectaram erros nos padrões de certificação, se limitaram a criar um software para regulá-lo sem avisar aos pilotos: "Ao diminuir um risco, parece que criaram outro ainda maior", lamentou.

"A Boeing se focou em tentar proteger seu produto e defender sua posição, mas a melhor maneira, de fato a única maneira, de proteger a marca é defender as pessoas que a utilizam. Não devemos esquecer que a base do negócio, o que torna este negócio possível, é a confiança", completou o veterano piloto.