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Em dia de grande tensão no mercado, dólar e risco disparam na Argentina

24/04/2019 20h26

Rodrigo García.

Buenos Aires, 24 abr (EFE).- A economia da Argentina viveu mais uma jornada de grande tensão nesta quarta-feira, dia em que o risco-país e o dólar dispararam, ampliando as dúvidas sobre o futuro.

Pela primeira vez desde março de 2014, o nível do risco-país se aproximou dos 1.000 pontos. O índice é calculado pelo banco americano JP Morgan e usado para avaliar a capacidade de o governo da Argentina pagar a dívida soberana do país.

Para piorar, a moeda local despencou no mercado de câmbio em relação ao dólar. Apesar de acompanhar um movimento global de queda de outras divisas de países emergentes, como a lira turca, que atingiu o menor valor em seis meses, o peso argentino caiu 3,47%.

Desde abril do ano passado, quando a alta dos juros promovida pelo Federal Reserve (Fed), o banco central dos Estados Unidos, começou a atrair capitais de investidores que querem fugir do risco de países em desenvolvimento, o dólar subiu 119% em relação ao peso.

As incertezas se refletiram no mercado financeiro. Na Bolsa de Comércio de Buenos Aires, o índice Merval, de referência do país, registrou queda de 3,82%. Os papéis de empresas argentinas nos Estados Unidos também sofreram forte desvalorização, assim como a rentabilidade dos bônus soberanos emitidos pelo governo.

Analistas colocam parte da culpa na corrida eleitoral que começa a esquentar, faltando seis meses para o pleito presidencial. Pesquisas divulgadas nesta segunda-feira mostram a ex-presidente Cristina Kirchner, investigada em uma série de casos de corrupção, 8% na frente de Mauricio Macri, que deve ser candidato à reeleição.

"O mundo dúvida que os argentinos querem voltar atrás e isso dá muito medo. Então, sobe o risco-país, (os investidores) tomam posições mais defensivas. Mas acredito que estejam equivocados", afirmou Macri, que vê sua popularidade despencar e acompanhar o desempenho ruim da economia da Argentina.

Para o presidente, a desconfiança dos investidores se deve ao medo de que o peronismo, especialmente a corrente liderada por Cristina, volte à Casa Rosada. No entanto, a ex-presidente, hoje senadora, ainda não confirmou se disputará as próximas eleições.

"A dúvida é infundada porque não vamos voltar atrás. Os argentinos entenderam que não existe mágica, que os messianismos levam à destruição da sociedade", disse o presidente da Argentina.

Macri é um dos principais críticos da política econômica adotada por Cristina, especialmente pelo afastamento da diplomacia kirchnerista dos Estados Unidos, pelas proibições de compra de moedas estrangeiras e pelo aumento do histórico déficit fiscal.

Mas o presidente enfrenta há um ano uma grave crise que reduziu praticamente a zero uma sequência de cinco trimestres consecutivos de expansão do Produto Interno Bruto (PIB) do país.

O período também é marcado por uma grande alta da inflação, que em março subiu 4,7% em relação a fevereiro, chegando a 54,7% no acumulado de 12 meses.

A desvalorização do peso, combatida pelo governo com a elevação dos juros e leilões programados de dólares, levaram Macri a pedir um empréstimo de US$ 57 bilhões ao Fundo Monetário Internacional (FMI).

O plano de resgate veio acompanhado de fortes ajustes para sanar parte dos problemas fiscais do país ainda em 2019, meta que Macri considera essencial para deixar de depender de investimentos.

Apesar das tentativas do presidente e da ajuda do FMI, o país segue sem recuperar a confiança dos investidores. A oposição alerta que, independentemente de quem seja o próximo presidente, ele terá grandes dificuldades para quitar os títulos da dívida emitidos pelo atual governo, estimados em cerca de US$ 190 bilhões.

"Não basta a explicação do presidente Macri que se Cristina ganhar as eleições, o risco-país subirá. Os argentinos estão sofrendo diariamente com essa política econômica", criticou o deputado kirchnerista Agustín Rossi em discurso.

"Ninguém sabe com toda certeza o que vai ocorrer amanhã com a economia da Argentina", lamentou o parlamentar, que já se lançou como pré-candidato à presidência do país.

A quarta-feira para se esquecer ocorre uma semana depois de o governo lançar um pacote de medidas para conter a inflação, que inclui o congelamento de preços de uma série de produtos da cesta básica e a revogação de reajustes nas tarifas de gás e luz.

Sete dias depois, as dúvidas sobre o pacote de Macri e como o governo conseguirá manter os preços no patamar prometido geram ainda mais incertezas, propagando o medo entre economistas, investidores e os cidadãos, os mais afetados pela crise. EFE