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Especialistas alertam que Brasil deve revisar gastos públicos em profundidade

24/04/2019 16h43

São Paulo, 24 abr (EFE).- Uma ampla revisão dos gastos públicos para equilibrar as contas da União e enfrentar o rápido envelhecimento da população deve ser realizada pelo governo federal para tirar o país da crise que segue atrapalhando a economia, recomendaram analistas que participaram nesta quarta-feira de um seminário organizado pela Câmara Espanhola de Comércio no Brasil.

"Temos um gasto público elevado em relação a outros países que contam com um nível de desenvolvimento similar", disse à Agência Efe Ana Paula Vescovi, economista e ex-secretária-executiva do antigo Ministério da Fazenda, transformado em Ministério da Economia.

Ex-secretária do Tesouro durante o governo de Michel Temer, Vescovi disse que as contas do governo federal não são "distribuitivas" e não atingem de maneira satisfatória áreas básicas de atenção à sociedade, como os programas sociais.

"É preciso escolher prioridades. Temos que revisar subsídios e o conjunto de programas que foram concedidos a grupos específicos", recomendou a economista ao governo de Jair Bolsonaro.

Um dos principais problemas que impactam negativamente os cofres públicos é a transição demográfica, segundo a especialista. Com taxas menores de natalidade e de mortalidade, o país passa a ter uma população envelhecida, que dependerá financeiramente do governo.

"Essa transição demográfica no Brasil é muito acelerada e isso afeta fortemente as contas públicas. Expõe, além disso, as injustiças e as desigualdades que estão dentro do modelo atual de previdência", ressaltou Vescovi.

A ex-secretária do Tesouro considerou como fundamental a agenda de reformas proposta pelo governo federal, sobretudo a da previdência, em discussão na Câmara dos Deputados e carro-chefe do projeto liderado pelo ministro da Economia, Paulo Guedes.

A proposta passou ontem pela Comissão de Constituição e Justiça da Câmara e agora será avaliada em uma comissão especial, que discutirá detalhes do projeto enviado por Bolsonaro.

A reforma da previdência é a principal aposta do governo para que o Brasil volte a receber investimentos e, assim, retomar de maneira consistente o crescimento econômico perdido durante a crise.

O Brasil registrou em 2018 uma expansão de 1,1% do Produto Interno Bruto (PIB), resultado similar ao de 2017. No entanto, os economistas alertam que a lenta recuperação deve continuar nos próximos anos, já que, segundo as últimas projeções do mercado financeiro, esse ritmo pode até desacelerar neste ano.

Além de fatores do ambiente doméstico, há também elementos externos que dificultam a economia brasileira, como as severas crises enfrentadas por Argentina e Venezuela.

No debate, moderado pelo diretor da Agência Efe no Brasil, Antonio Torres, a responsável pela área de macroeconomia da consultoria Tendências, Alessandra Ribeiro, disse que a "constante tensão" entre as pessoas mais próximas a Bolsonaro coloca os investidores em "estado de cautela".

"Há algumas revisões mais pessimistas para o crescimento. No ano passado, a Tendências tinha previsto um crescimento de 2% do PIB (para 2019), mas estamos revisando agora para 1,5%", afirmou.

A economista avaliou que os embates entre as diferentes alas do governo não ajudam na adoção de uma agenda econômica promissora.

"É um ambiente tenso, que acaba dificultando a construção de pontes e, consequentemente, o desenvolvimento das reformas", concluiu Ribeiro. EFE