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CEO da Natura &Co diz que crise causada por Covid-19 está "longe de terminar"

13/11/2020 17h50

Alba Santandreu, São Paulo, 13 nov (EFE).- O CEO da Natura &Co, Roberto Marques, disse em entrevista à Agência Efe que o aumento de 31,7% no faturamento da holding brasileira no terceiro trimestre de 2020, com uma receita líquida de R$ 10,4 bilhões, se deve principalmente às vendas por e-commerce e redes sociais.

O executivo, porém, pediu cautela diante da crise causada pela pandemia de Covid-19, que ele acredita estar "longe de terminar".

"A gente tem visto no mundo, na Europa, por exemplo, vários países voltando aos 'lockdowns', a fecharem lojas, como é o caso da Inglaterra e da França, além do aumento de casos também nos Estados Unidos. Então a gente obviamente celebra esse terceiro trimestre, mas ainda estamos com bastante atenção, monitorando, porque essa crise ainda está longe de terminar e o quarto trimestre é o mais importante que nós temos por causa dos feriados de final de ano", argumentou.

O quarto maior grupo do mundo no setor de cosméticos, que concluiu em janeiro deste ano a compra da americana Avon e agora conta com um total de quatro marcas, mostrou uma "resiliência muito grande e um poder de ajuste bastante forte" diante dos desafios trazidos pelo novo coronavírus.

Nesse sentido, Marques explicou que a pandemia acelerou uma mudança que já estava em curso, relacionada aos conceitos de "social selling" e de "omnicanalidade", estratégia que busca integrar todos os canais de venda.

"A venda direta ou venda por relação, que antes era chamada de porta-a-porta, tem se transformado numa venda que a gente chama de 'social selling', que se dá através da relação feita pelas plataformas digitais, seja por Instagram, Facebok, Whatsapp, e o que aconteceu durante essa pandemia foi que adoção dessas ferramentas digitais por parte das consultoras e revendedoras explodiu (...) e a gente vê isso de uma maneira muito positiva", explicou.

Os números comprovam essa tendência, já que as vendas através do e-commerce e das redes sociais aumentaram 115% no terceiro trimestre, conforme destacou Marques.

A adaptação digital em meio à crise do coronavírus e a progressiva reabertura das lojas, segundo o executivo, foram uma combinação crucial para que Natura, The Body Shop, Aesop e Avon, que oferecem maquiagens, produtos para o corpo e higiene pessoal, cosméticos e perfumes, entre outros, conseguissem resultados tão positivos no terceiro trimestre.

MAIOR INTEGRAÇÃO NA AMÉRICA LATINA.

Apesar da crise sanitária e econômica gerada pela Covid-19, o grupo empresarial identificou "muitas possibilidades" de expansão "orgânica" e espera acelerar o processo de integração da Avon e o crescimento de todas as suas marcas em âmbito mundial, "começando pela América Latina".

"Temos várias oportunidades ainda de expansão das marcas alavancado a infraestrutura que a gente já tem. Estamos presentes em 100 países, mas não temos todas as marcas em todos esses eles", acrescentou o executivo, que revelou a intenção de utilizar a rede já existente da Avon para lançar a Natura em mais países latino-americanos.

Marques também lembrou que já foram recrutadas mais de 4.000 consultoras nos 50 estados americanos para a The Body Shop at Home, que está entrando agora nos EUA.

Além disso, o grupo vê "muitas oportunidades" na Ásia para a chegada de marcas como a australiana Aesop e a britânica The Body Shop, principalmente na China, mercado que a Natura &Co levou em consideração ao fortalecer sua estrutura de capital com o fechamento da oferta pública de US$ 1 bilhão em ações.

Além da expansão geográfica, Marques destacou que a capitalização - a maior operação desse tipo em produtos de consumo na América Latina - vai melhorar o balanço do grupo, acelerando o processo de redução de dívidas.

"A gente já usou parte desses recursos pra pagar um bônus que existia da Avon com vencimento em 2022, e eram juros ainda muito altos, incompatíveis com a estrutura do grupo. Então (a capitalização) muda muito o perfil, deixa o grupo muito mais forte do ponto de vista de capital, de caixa", ressaltou.

A capitalização, segundo o CEO, também vai facilitar os investimentos para a digitalização da holding, que deu mais um passo nesse sentido com o lançamento de uma plataforma própria de serviços financeiros no Brasil, a &Co Pay, que tem como público-alvo as consulturas e revendedoras das marcas da empresa.

"Hoje quase 30% das consultoras no Brasil não são bancarizadas. Então nos estamos laçando um sistema financeiro para que elas façam pagamentos, para que elas possam pagar os boletos, para que elas tenham acesso a crédito, para que elas se insiram dentro desse sistema financeiro. A gente está começando esse sistema no Brasil mas quer expandir para a América Latina e depois para o mundo, então vai se tornar uma unidade de negócio da Natura & Co", detalhou.

AGENDA SUSTENTÁVEL.

Marques destacou que um dos pilares estratégicos do grupo, "como desafio e como compromisso" é a sua agenda da sustentabilidade, que, segundo ele, estabelece "objetivos super ambiciosos" e "metas bastante agressivas" que envolverão "investimentos importantes".

Um dos objetivos é chegar à emissão zero de carbono até 2030, duas décadas antes do limite estabelecido pela própria ONU.

"A Natura já é carbono neutro desde 2017, mas a gente quer chegar em emissão zero de carbono em 2030 para o grupo como um todo, então esse é um desafio muito grande (...) porque engloba a cadeia toda do ponto de vista de emissão", afirmou.

Para cumprir com os compromissos com o meio ambiente, o executivo defendeu a importância de estabelecer um diálogo e até mesmo parcerias com "atores importantes no processo", tanto do setor privado quando do público, incluindo o próprio governo.