Próximo presidente peruano herdará economia esgotada e elevado desemprego
Lima, 8 abr (EFE).- O estado da economia é a grande preocupação dos eleitores que vão definir o novo governo do Peru nas urnas no próximo domingo (11), e esse temor é mais do que justificado: a pandemia de covid-19 fez o Produto Interno Bruto (PIB) do país despencar 11% e jogou 2 milhões de pessoas no desemprego em 2020.
A reação inicial do governo peruano ao surgimento da covid-19 foi de encerrar a atividade produtiva para minimizar os danos causados pelo avanço do novo coronavírus, já que o sistema de saúde sofria de deficiências históricas.
Entretanto, a quarentena de mais de três meses em 2020 gerou desemprego, devido ao fechamento temporário ou definitivo de empresas, e uma urgência para repassar US$ 16,2 bilhões de fundos públicos para créditos a empresas e auxílios emergenciais a milhões de famílias vulneráveis.
MILHÕES DE EMPREGOS PERDIDOS.
"O pior momento que o Peru viveu na perda de empregos foi no segundo trimestre de 2020. Naquele período houve uma redução de quase 6,7 milhões, foi o momento mais crítico", afirmou à Agência Efe o oficial de Políticas de Emprego e Mercado Laboral da Organização Internacional do Trabalho (OIT), Julio Pérez Coaguila.
"Entretanto, com o passar dos meses, as atividades econômicas voltaram, as empresas começaram a reabrir, e no final de 2020, em comparação com 2019, 'apenas' 2,2 milhões de empregos foram perdidos", acrescentou.
A crise sanitária foi agravada pela instabilidade política no Congresso, que provocou duas mudanças de governo em menos de um ano e aprovou medidas econômicas controversas, envolvendo milhões de dólares para os cofres públicos.
75% DA FORÇA DE TRABALHO NO SETOR INFORMAL.
Além disso, a pandemia agravou a informalidade no mercado de trabalho: sete em cada dez trabalhadores não têm um contrato ou benefícios sociais.
Em um ano, a informalidade, que já era um problema endêmico no país, cresceu três pontos percentuais e passou de 72% em 2019 para 75% em 2020.
Segundo Coaguila, 75% da informalidade se refere a autônomos, e o restante a micro e pequenas empresas.
PEDIDOS DA INDÚSTRIA.
As associações de indústrias têm grandes expectativas em relação ao governo que será eleito no domingo e que terá que reativar atividades produtivas que foram paralisadas mesmo antes da pandemia devido a escândalos de corrupção e ao esfriamento da economia.
"O novo governo deve ter em mente que um dos setores mais importantes é a mineração", disse Ricardo Márquez, presidente da Sociedade Nacional das Indústrias (SNI).
Márquez falou sobre a maior indústria do país, que dela obtém a maior parte de suas receitas e exportações. Por outro lado, ela não está isenta de críticas econômicas, sociais e ambientais.
Alguns especialistas apontam que a mineração legal é o motor dos investimentos e deve ser melhor explorada, enquanto outros criticam os benefícios fiscais desfrutados pelas empresas extrativistas e a baixa contribuição que oferecem às comunidades vizinhas e seus enormes passivos ambientais e sociais.
Márquez acrescentou que o novo governo deveria "ter uma equipe especializada com a experiência para resolver conflitos de mineração e produção".
O setor também espera que o investimento privado seja priorizado com uma estratégia macroeconômica que restabeleça o "equilíbrio fiscal".
Entretanto, a situação de desastre econômico não parece ser fácil de reverter sem um maior envolvimento das autoridades públicas na economia, como fazem potências como Estados Unidos e União Europeia.
RECUPERAÇÃO DOS EMPREGOS.
Os candidatos que disputam a sucessão do atual presidente, Francisco Sagasti, são claros em apontar como prioridade a recuperação dos recursos gastos para lidar com a emergência sanitária e promover a criação de empregos.
O favorito nas pesquisas, Yohny Lescano, promete criar 5 milhões de empregos - sob o lema "trabalhar e deixar trabalhar" - e reduzir a informalidade trabalhista para 30%, enquanto a candidata de esquerda Verónika Mendoza propõe recuperar 3 milhões de empregos em seus dois primeiros anos de mandato.
Já o ex-goleiro da seleção peruana de futebol e ex-prefeito George Forsyth propôs a criação de 2 milhões de empregos, juntamente com um aumento de 5,1% nos investimentos privados e de 4,8% nos investimentos públicos.
Candidato da ala mais à direita no espectro político peruano, Rafael López Aliaga também acena com 2 milhões de novos empregos, como resultado de um aparato produtivo mais industrializado e de um aumento anual de 2% do PIB.
Por sua vez, o economista Hernando de Soto promete reduzir a pobreza para 10% e incorporar os imigrantes à força de trabalho formal, enquanto a ex-congressista Keiko Fujimori - filha do ex-ditador Alberto Fujimori - argumenta que os empregos virão com um aumento de 6% no PIB e uma elevação da renda per capita. Nenhum dos dois explicou bem como pretendem conseguir tudo isso.
EMPRESAS PRIVADAS COMO GERADORAS DE EMPREGOS.
Entretanto, o presidente do SNI está preocupado que algumas propostas "considerem o Estado como o principal e único agente que pode resolver problemas tais como a geração de emprego e a luta contra a pandemia".
Por sua vez, o funcionário da OIT destacou algumas recomendações para o Peru, a curto prazo, como o investimento em programas de emprego público temporário e a formulação de estratégias para subsidiar a contratação de jovens. EFE
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