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'Desarmamos a caminhada rumo ao suicídio'

Altamiro Silva Junior

São Paulo

13/07/2017 07h33

O Brasil desarmou a "caminhada rumo ao suicídio" ao mudar a condução da política econômica no ano passado, com o começo do governo de Michel Temer.

Agora, é preciso preservar o que já foi conquistado e evitar voltar a velhos erros, avalia o economista e ex-diretor de Política Internacional do Banco Central, Beny Parnes, sócio da gestora SPX Capital.

No momento em que se discute se o Brasil pode ter um terceiro presidente em pouco mais de um ano, o executivo avalia que a agenda de reformas estruturais não deve ser pauta de um ou outro governo, mas do Estado, da nação. Leia a seguir trechos da entrevista.

A economia tem mostrado certa resistência à piora da política. A crise em Brasília pode afetar a atividade?

Quanto mais a incerteza se prolongar, pior. Aumentos de incerteza afetam especialmente as decisões de investimento, e tivemos um aumento enorme. Isso nos fez rever a previsão de crescimento para este ano. Começamos projetando 0,5% de expansão, revisamos para 0,6%, porque os dados do primeiro trimestre vieram um pouco melhores que o esperado, mas agora fizemos nova revisão, para crescimento de 0,2% em 2017. Em 2018, a previsão é de alta de 2%. Chegamos a prever 2,7%, mas temos de levar em conta que em torno dessa projeção há incerteza muito grande. Vai ser um ano de eleições e não é uma eleição fácil de prever.

Há risco de o país voltar a ter recessão?

Riscos sempre existem, mas esse ano acho difícil, porque a economia já fez um ajuste grande, estava com base muito deprimida. Tem coisas que incomodam, como o gap do produto, que é a diferença entre o que o Brasil pode produzir e está produzindo. Esse gap está em torno de 5% do Produto Interno Bruto (PIB) e, pelos nossos modelos, deveria estar em 3%. O Brasil está produzindo muito menos do que poderia produzir e isto está persistindo, como se tivesse uma força da gravidade atraindo para baixo a economia brasileira, que é a incerteza política, o choque fiscal, as despesas reais dos Estados, as empresas endividadas, o consumidor está ressabiado.

Como vê a possibilidade de o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, assumir a presidência da República?

Vejo um certo consenso em torno da necessidade de aprovar as reformas. Queria também destacar a qualidade da condução da política fiscal e monetária. Você compara com o que fazíamos há dois anos, estávamos jogando roleta russa e botando a cada dia uma bala a mais no tambor. Desarmamos essa rota em termos de política econômica, essa caminhada rumo ao suicídio. Agora é preservar esses valores. Isso é um patrimônio da nação, não é uma coisa de governo, é coisa de Estado.

Como avalia a resistência do setor privado à nova taxa de juros de longo prazo, a TLP?

É urgente e importante aprovar a TLP, que vai acabar com subsídios que geram má alocação de recursos, que geram uma renda indevida, no sentido econômico. É uma distribuição perversa de renda e, como é um crédito subsidiado, gera inevitavelmente má alocação de recursos e obviamente também impede o desenvolvimento do mercado privado. A taxa atual (a TJLP) tem duplo efeito perverso. Além de custar subsídios ao Tesouro, que todos nós pagamos, no equilíbrio ela resulta em taxa de juros maior, diminui a potência da política monetária. Não aprovar a TLP seria regredir, um sinal péssimo para o mercado. Claro que tem resistência, todo mundo que recebe um subsídio, um dinheiro abaixo do custo de mercado vai reclamar, porque quer continuar recebendo. É uma transferência de renda que tem que cessar.

A reforma trabalhista pode ajudar a gerar emprego?

O Brasil concentra mais de 90% das ações trabalhistas no mundo e precisamos modernizar o País. Não há dúvida que a reforma tem impacto positivo na geração de emprego. A economia tem alguns resultados que são meio incontestáveis, esse é um deles. Quanto mais flexível a economia, mais rápido ela caminha para o pleno emprego.

Qual a perspectiva para aprovar a reforma da Previdência?

Também é uma questão urgente e importante, mas sou realista. Acho que essa discussão hoje, infelizmente, vai ficar um pouco para depois, mas espero que seja retomada o quanto antes. A reforma é a única maneira de reequilibrar as contas públicas. É uma condição necessária, mas não suficiente. É óbvio que do jeito que foi proposta, e não estou criticando, estou elogiando, ela só faria efeitos em dois anos, aproximadamente. Mas antes tarde do que nunca.

O Brasil pode ficar insolvente?

Estamos longe disso. A situação fiscal do Brasil é apertada, o País certamente está em uma trajetória de dívida que, no médio prazo, não é sustentável. Mas não quer dizer que a economia brasileira está condenada a ter uma dívida insustentável e nem a baixas taxas de crescimento. É fazer as reformas, manter a política econômica sendo bem conduzida, da maneira que está sendo conduzida agora, com pessoas competentes. Não estamos condenados à estagnação.

O BC vai conseguir reduzir os juros até que patamar?

Achamos que tem até espaço para cair abaixo de 8%. Nos nossos exercícios, com uma Selic de 8% vigente até o fim do ano que vem, geraríamos uma inflação de 3,2% este ano e 4% em 2018, com uma taxa de câmbio de R$ 3,40 este ano e R$ 3,50 no próximo. Cair abaixo de 8% vai depender das condições da economia (hiato do produto, inflação, que se correlaciona ao câmbio) e, mais importante, das expectativas.

Os estrangeiros estão mais otimistas que os investidores brasileiros?

Isso é normal. Para eles, o Brasil é apenas mais um país. Para nós, isso aqui é nossa vida.

As informações são do jornal "O Estado de S. Paulo".