Odebrecht recorre a prazo de carência e não paga dívida de R$ 500 milhões
A Odebrecht Engenharia e Construção (OEC) anunciou nessa terça-feira (24), que não pagará no prazo a dívida de R$ 500 milhões que vence nesta quarta-feira (25) com credores internacionais. A empresa afirmou, em nota, que vai usar parte dos 30 dias de carência a que teria direito antes de ser considerada inadimplente para concluir negociações de novo empréstimo com bancos, de até R$ 2,5 bilhões. O valor seria usado para pagar a dívida e honrar outros compromissos do grupo Odebrecht - que enfrenta grave crise desde que foi envolvido na Lava Jato.
Se não conseguir chegar a um acordo dentro do período de carência, a empresa entrará oficialmente em processo de default (calote). Na prática, isso permitiria que outros credores solicitassem a antecipação do pagamento da dívida e a Odebrecht não teria como pagar a todos - a empreiteira deve quase R$ 11 bilhões na praça. Segundo fontes, isso a levaria a buscar uma recuperação extrajudicial (e não judicial, como vem sendo aventado pelo mercado) para não quebrar.
- Empresário confessa fraude contra ex e tenta voltar à Marabraz
- Corrupção pode ser mais importante que economia nas eleições, diz banco
- Opinião: Loteamento das agências reguladoras é convite à corrupção
Há interpretações, no entanto, que apontam que essa antecipação já poderia ocorrer agora, uma vez que o contrato não prevê período de cura (os 30 dias de carência). Uma fonte ligada à Odebrecht diz que, por causa dessa incerteza, ao não honrar o pagamento de hoje, a empreiteira assumiu grande risco. A Odebrecht conta com a dificuldade dos detentores dessa dívida de se articularem rapidamente - os títulos estão nas mãos de diversos investidores estrangeiros.
A aposta da empreiteira é fechar o acordo com os bancos nos próximos dias. Dos cerca de R$ 2,5 bilhões, R$ 500 milhões seriam usados para pagar a dívida vencida nesta quarta, outros cerca de R$ 500 milhões para reforçar o caixa da empreiteira e o restante ficará com a holding, que tem débitos em atraso e outros a vencer até o fim do ano. As negociações estão em andamento desde o início de 2018, mas emperraram por causa das garantias.
Itaú e Bradesco, que já são credores da Odebrecht, aceitam liberar novos empréstimos, desde que tenham prioridade nas garantias - ou seja, receberiam primeiro no caso de um default da empresa. Do outro lado, no entanto, estão instituições, como Banco do Brasil, Caixa e Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), que não querem abrir mão desse benefício.
Até a noite dessa terça, as negociações tinham avançado. Fontes envolvidas nas discussões afirmaram que o BNDES estava prestes a fechar o acordo. Mas o Banco do Brasil, um dos mais arredios nas tratativas, ainda impõe empecilhos à operação. O banco estatal não aceita ceder nas garantias, mas agora sinaliza com outros tipos de flexibilização. Uma fonte que participa das conversas afirma, contudo, que o desfecho ainda é imprevisível.
A Odebrecht conta com a chegada dos recursos para pagar os credores internacionais, mas ninguém espera que o dinheiro novo chegue ao caixa do grupo antes do fim da semana que vem. Se um impasse inviabilizar o empréstimo, o mais provável hoje é que a empresa parta para um processo de recuperação extrajudicial.
Na terça-feira, após divulgar o comunicado ao mercado de que não pagaria a dívida nesta quarta, a empresa fez uma série de reuniões com as agências de classificação de risco e com o principal credor (ou bondholder, no termo em inglês), detentor de cerca de metade do vencimento de hoje. O objetivo era tentar tranquilizar o mercado. Para convencê-los, a empresa mostrou que a disponibilidade de caixa da construtora está na casa de US$ 700 milhões e que, se nenhum acordo for fechado, a holding honrará o compromisso.
Cenário
Mas a situação é complicada, dizem fontes. Desde que foi envolvida na Operação Lava Jato, a carteira de obras da construtora despencou para menos da metade, de R$ 33 bilhões para R$ 14 bilhões. Com a reputação machucada no Brasil e no exterior e sem obras de peso no mercado interno, a empresa não tem conseguido repor o seu portfólio - responsável por 21% das receitas do grupo.
No meio da turbulência, até a reunião do conselho de administração que marcaria a saída de Emílio Odebrecht da presidência foi adiada de terça para sexta-feira. Após essa data, o conselho terá novo comando e novos conselheiros.
Fontes afirmam que Newton de Souza será o presidente e Ruy Sampaio e Sergio Foguel conselheiros pelo lado da Odebrecht. Outros nomes do mercado serão indicados como conselheiros independentes, sendo duas mulheres. O Estado apurou que uma delas será Ieda Gomes, ex-presidente da Comgás e ex-vice-presidente da BP.
Procurados, Itaú, Bradesco e BNDES não comentaram. Ieda Gomes não respondeu os pedidos de entrevista.
ID: {{comments.info.id}}
URL: {{comments.info.url}}
Ocorreu um erro ao carregar os comentários.
Por favor, tente novamente mais tarde.
{{comments.total}} Comentário
{{comments.total}} Comentários
Seja o primeiro a comentar
Essa discussão está encerrada
Não é possivel enviar novos comentários.
Essa área é exclusiva para você, assinante, ler e comentar.
Só assinantes do UOL podem comentar
Ainda não é assinante? Assine já.
Se você já é assinante do UOL, faça seu login.
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Reserve um tempo para ler as Regras de Uso para comentários.