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'Associações não nos representam', diz caminhoneiro na rodovia Presidente Dutra

Roberta Pennafort

Rio

29/05/2018 15h15

Caminhoneiros concentrados nesta terça-feira, 29, no km 204 da rodovia Presidente Dutra, na altura do município de Seropédica, disseram que não se sentem representados por associações que negociaram o fim da greve com o governo federal, e que não deixarão a estrada até o preço dos combustíveis não baixar na bomba. Eles afirmaram que querem ser recebidos pessoalmente pelo governo em Brasília, e que a mobilização continua a ganhar força por mensagens de WhatsApp.

"Os sindicatos só representam os patrões. O (presidente Michel) Temer não recebeu o bandido da JBS de noite? Por que não a gente? Não vamos sair daqui. Não saiu no Diário oficial a redução do combustível, não baixou na bomba. Temos 500 caminhões desse lado da Dutra e 500 do outro. Aqui temos famílias, crianças, mas somos tratados como criminosos. A pista e o acostamento estão liberados, e estamos numa área particular, cedida, então eles não podem multar ninguém", disse Marcos Santos, uma das lideranças do grupo. Ele está na Dutra há nove dias. A Polícia Rodoviária Federal informou que só são multados os veículos em vias e acostamentos.

Já outros caminhoneiros ouvidos pela reportagem demonstraram cansaço. Eles contabilizam perdas pelos dias parados. "Todo mundo quer voltar a trabalhar. O prejuízo é enorme. Se eu achasse que ficar uma semana baixaria mais o combustível, até ficava. Mas o governo não vai recuar mais", lamentou José Carvalho, dono de dois caminhões de transporte de ferro. Um está parado na Dutra, outro na Rio-Santos. Ele se reveza com um funcionário na vigília. Nesta terça, pediu escolta policial para voltar para a capital, com medo de ataques aos veículos - nesta madrugada, chegaram relatos de caminhões apedrejados.

Na Dutra há sete dias, o caminhoneiro Edmilson da Silva, de 47 anos, em atividade já 30 e atualmente transportando produtos para as Lojas Americanas, se disse "exausto". "Já mandamos nosso recado. Não aguento mais. Não estamos satisfeitos mas não conseguiremos mais nada. O governo achou que não teríamos fôlego para mais de dois ou três dias, e aqui estamos nós. Só que estamos perdendo muito dinheiro. Tem gente que recebe R$ 150 por dia e agora recebeu zero. É uma vida muito difícil, que agora o Brasil todo conhece".