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Acordo na área de Defesa é recebido com surpresa

Fernando Nakagawa, Fernando Scheller, Lu Aiko Ota e Luciana Dyniewicz, com Dow Jones Newswires

SÃO PAULO e BRASÍLIA

06/07/2018 07h40

Um dos elementos de surpresa no anúncio da parceria entre a brasileira Embraer e a americana Boeing, na quinta-feira (5), foi a criação de uma joint venture não só para a aviação comercial - o que já era esperado -, mas também uma atuação conjunta no setor de Defesa e Segurança. As duas empresas vão unir forças para a comercialização do cargueiro KC-390.

Considerado um "supercargueiro", com 35,2 metros de comprimento e capacidade para transportar até 23 toneladas, o KC-390 é o maior avião já desenvolvido no Brasil. Mais de 50 empresas brasileiras participam do projeto, que tem ainda colaboração de Argentina, Portugal e República Checa.

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O consenso do mercado é que existe um bom interesse global para o KC. A Força Aérea Brasileira (FAB) já pediu 28 aeronaves, no valor de US$ 7,2 bilhões, a serem entregues nos próximos 12 anos.

A Embraer terá participação majoritária na companhia a ser criada no setor de Defesa, embora o porcentual que a empresa cederá à Boeing ainda não esteja definido.

A exemplo do que ocorrerá na parceria de aviação comercial, a subsidiária também ficaria livre dos efeitos da "golden share", ação especial do governo que dá direito a veto - isso porque se tratará de uma subsidiária, e não da Embraer em si.

Troca

Tanto a gigante americana quanto o governo cederam ao longo das negociações que se estenderam por nove meses. Inicialmente, o interesse da Boeing era por 100% da Embraer, incluindo o segmento de Defesa, o que logo foi descartado pelo Planalto.

Durante as negociações, uma ala do governo chegou a defender que a Embraer tivesse participação maior na nova empresa. Chegaram a citar até 51% dos norte-americanos e 49% dos brasileiros. A proposta não avançou.

O Planalto, diante da avaliação de que a venda seria o melhor para a sobrevivência da Embraer no longo prazo, passou a concentrar esforços em algumas cláusulas consideradas inegociáveis: separação do braço de defesa, manutenção do poder de veto. Além disso, fez também menções a outros assuntos, como a manutenção em solo nacional da tecnologia desenvolvida no Brasil.

A avaliação geral era que os acordos fechados na quinta-feira, 5, foram suficientes para "blindar" a fabricante de aeronaves nacional.

Vantagens

Na quinta-feira, o presidente da Embraer, Paulo Cesar de Souza e Silva, disse que a parceria relativa ao cargueiro vai explorar oportunidades por meio da rede de clientes da Boeing.

O executivo afirma que a parceria poderá dar à brasileira acesso a novos mercados. "Então, para a Embraer, isso (o acordo) é ótimo, porque vai significar mais exportação, mais empregos e mais vendas", disse o executivo ao jornal O Estado de S. Paulo.

Dependendo do país que adquirir a aeronave, explicou o executivo, será necessária uma certa customização do avião. "Quem vai fazer a customização será a joint venture. Mas isso já é um detalhe que faz parte de uma discussão que ainda será feita para detalhar exatamente como a joint venture vai funcionar", destacou o presidente da Embraer.

A joint venture em Defesa poderá aumentar seu escopo para englobar os caças Gripen, fabricados pela Saab, de acordo com analistas. A avaliação é que a americana poderia utilizar a força de sua cadeia de suprimentos para ajudar a empresa sueca e a Embraer na construção dos Gripen. "Se a Boeing conseguisse diminuir o preço do Gripen, ele se tornaria um produto incrível para venda", disse Richard Aboulafia, consultor da indústria aeroespacial. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.