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Macri entregará Argentina mais pobre do que pegou

O presidente da república Argentina, Mauricio Macri - WALTERSON ROSA -16.jan.2019 /ESTADÃO CONTEÚDO
O presidente da república Argentina, Mauricio Macri Imagem: WALTERSON ROSA -16.jan.2019 /ESTADÃO CONTEÚDO

Luciana Dyniewicz

São Paulo

20/01/2019 09h07

Uma das promessas de campanha de Mauricio Macri na corrida eleitoral argentina de 2015 foi "pobreza zero". A nove meses da próxima eleição presidencial, os números estão mais distantes da meta do que antes de ele chegar à Casa Rosada. A parcela da população do país classificada como pobre passou de 29,2%, no terceiro trimestre de 2015, para 33,6% no mesmo período de 2018.

A economia argentina começou a degringolar há pouco mais de um ano, com barbeiragens na condução da política monetária, e se acentuou com o aumento da taxa básica de juros nos Estados Unidos, que tornou os títulos americanos mais atraentes para os investidores e os papéis de países emergentes, menos interessantes.

O efeito acabou sendo sentido em toda Argentina e, na comunidade de Los Piletones, uma da mais pobres de Buenos Aires, o resultado foi um aumento de 20% na demanda por comida no restaurante popular e uma redução de 30% nas doações que o sustentam. O estabelecimento oferece almoço e jantar de graça. É só entrar na fila.

Margarita Barrientos, responsável pelo restaurante de Los Piletones, é uma das ativistas sociais mais conhecidas da Argentina, principalmente por ser uma grande apoiadora do presidente Macri. Quando era prefeito de Buenos Aires, ele costumava doar parte de seu salário para o restaurante.

Apesar da proximidade e de afirmar que votará em Macri na próxima eleição, Margarita admite perceber no seu dia a dia o aumento da pobreza no país. Até junho do ano passado ela servia 2,1 mil refeições diárias. No segundo semestre teve de aumentar para 2,5 mil.

"Na época de (Raúl) Alfonsín (presidente entre 1983 e 1989) e de Fernando de la Rúa (presidente entre 1999 e 2001) também foi difícil. Ainda pior", afirma quando questionada sobre a última vez em que passou por situação semelhante. "Mas, em 2012 (no governo de Cristina Kirchner), chegamos a 2,7 mil refeições por dia", acrescenta. "A pobreza vem de anos, mas antes escondiam os índices enquanto as pessoas passavam fome", diz.

O sociólogo Juan Ignacio Bonfiglio, da Universidade Católica da Argentina, responsável pelos indicadores de pobreza, afirma que o número de pobres no país possivelmente cresceu ainda mais no fim de 2018, em decorrência da inflação acelerada e da consequente perda de poder de compra do trabalhador. Um alívio, entretanto, é esperado para os próximos meses, com os reajustes salariais. "Mas provavelmente não voltaremos à situação de 2017", diz. "O nível de incertezas é elevado, mas não há um cenário para uma melhora significativa."

Em 2017, quando o PIB avançou 2,9%, a pobreza retrocedeu 4,1 pontos porcentuais. Para este ano, porém, a projeção é de queda na economia e, ainda que haja um recuo na pobreza da mesma magnitude de 2017, ela continuará mais alta do que era antes de Macri assumir.

Segundo o economista Andrés Borenstein, do BTG na Argentina, a queda do PIB deve começar a se desacelerar nos próximos meses, sobretudo com a ajuda do setor energético e a recuperação da produção agrícola. No ano passado, uma seca recorde dizimou a colheita. A projeção para a economia neste ano ainda é de retração, de 1% a 1,5%, mas acompanhada de uma inflação mais moderada, de 25%. Em 2018, a desvalorização do peso em mais de 50% e a retirada de subsídios governamentais de serviços como transporte e energia fizeram com que a inflação chegasse a 47,6%, a maior desde 1991. Esse panorama econômico - estimativas apontam para queda de 2,6% no PIB em 2018 - levou a oposição a apelidar a recessão de "Macrisis".

Para Borenstein, no entanto, não é possível afirmar que o ajuste gradual adotado por Macri seja o grande responsável pela crise. Há economistas que apontam que o problema dos déficits fiscal e corrente (que engloba comércio internacional e movimentação de rendas) fez os investidores fugirem do país assim que a taxa de juros aumentou nos EUA. "Não havia respaldo político para ir mais rápido", diz o economista. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.