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'A mensagem é de continuidade institucional', diz Ilan

Fabrício de Castro, Adriana Fernandes e Silvia Araújo

Brasília

14/02/2019 11h02

O presidente do Banco Central, Ilan Goldfajn, diz que o seu sucessor, Roberto Campos Neto, está "alinhado" com a atual gestão tanto em medidas para baratear o crédito quanto na condução da taxa básica de juros (Selic) para manter a inflação baixa. A sabatina de Campos Neto foi marcada para o dia 26 deste mês na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado. No mesmo dia, serão sabatinados João Manoel Pinho de Mello e Bruno Serra Fernandes para os cargos de diretores de Organização do Sistema Financeiro e Política Monetária.

Sempre criticado pelo descompasso entre a queda da taxa básica e os juros cobrados aos consumidores, o presidente do Banco Central disse que houve um recuo no custo do crédito, mas que o movimento tem de seguir "porque nossas mazelas continuam". "Vamos chegar lá", promete Ilan sobre taxas mais baixas para os clientes.

O que esperar da sua transição para a gestão de Roberto Campos Neto à frente do BC?

A mensagem é de continuidade institucional. Tanto na Agenda BC+ (medidas para baratear o custo do crédito) quanto na política monetária. Temos um corpo técnico que permanece e vai continuar subsidiando uma diretoria que permanece. Eu vejo uma visão do Roberto Campos alinhada com essa continuidade.

O senhor deu algum conselho para ele?

Ele não precisa de conselhos. Ele tem uma experiência muito grande do mercado financeiro e tem acompanhado a política monetária de vários países. Roberto Campos traz uma experiência muito boa. O caso é de conversas. Ele está se preparando para a sabatina (no Senado).

O Brasil tem uma grande concentração bancária. Como enfrentar o problema?

Temos de trabalhar em medidas estruturais. A Agenda BC+ fez exatamente isso e tem muito mais a fazer. O que estamos querendo enfatizar é que o custo do crédito das pessoas e os serviços melhorem. Demos bastante força para as fintechs (empresas de tecnologia que atuam na área financeira), as contas digitais. Os entrantes estão tendo forças. Isso está vivo.

O brasileiro comum e as empresas não sentem a queda dos juros.

É preciso olhar os dados. De maio de 2016 para dezembro de 2018, a taxa de juros total era 32% e caiu para 23% ao ano, uma queda de quase 10 pontos porcentuais. Tem de continuar. O Indicador de Custo de Crédito (ICC) estava em 38% e caiu para 31% ao ano. Estamos com queda em quase todos os indicadores. Aí, você pode dizer: 'eu quero mais queda'. A minha resposta é: 'vamos chegar lá'. Mas não podemos chegar lá (juros mais baixos para o consumidor) com atitudes voluntariosas. Temos de chegar lá mudando os fundamentos. E os fundamentos são melhorar as garantias.

Chegar lá é ofertar juros mais baixos ao consumidor?

Sim, para o consumidor. Vamos chegar a juros menores do que temos hoje. Mas queria que vocês reconhecessem que, nos últimos anos, houve queda em quase todos os grupos e subgrupos. Aí, podemos dizer que a agenda derrubou o custo do crédito, sim. Ela tem de continuar porque os juros continuam altos, porque nossas mazelas continuam. Enquanto tivermos um custo Brasil do jeito que está, vamos enfrentar o custo de crédito. Temos de trabalhar com o custo Brasil.

No caso do cheque especial, a autorregulamentação da Febraban não funcionou para reduzir os juros. O BC vai precisar fazer o mesmo que fez nos cartões?

O BC continua olhando e avaliando. Isso foi sempre a nossa visão. Sempre a autorregulamentação. São sempre bem-vindas as iniciativas próprias. (A iniciativa) deu certo resultado, mas o BC vai continuar olhando, porque ainda temos taxas altas nessa modalidade. Então, vamos continuar olhando e não descartamos nenhum caminho.

Como serão as mudanças no crédito agrícola?

Há um grupo de trabalho, com os Ministérios da Economia, da Agricultura e o BC. O BC entra porque tem o crédito agrícola e o direcionamento, e tem a meia-entrada (subsídios). Tudo isso, temos de trabalhar juntos para construirmos um novo modelo. É preciso olhar essas questões de uma forma tranquila, com transição, e avançar para o novo modelo que a gente quer, um modelo acertado com todo mundo.

Por que é tão difícil aprovar o cadastro de bons pagadores no Congresso?

Porque estamos numa democracia. O que nos parece óbvio, às vezes, não parece óbvio para todo mundo. Para nós, o cadastro positivo é uma medida que tem pouco custo, muito benefício e que já deveria ter saído. Acho que estamos no caminho. Se observar bem, no cadastro positivo o texto principal passou e estamos apenas nos destaques. Confio que vai passar.