Com histórico de perdas e dívida de R$ 1,2 bilhão, Jari Celulose busca sócio
Idealizado pelo americano Daniel Keith Ludwig, o projeto Jari começou a sair do papel no fim dos anos 1960. O bilionário mandou construir uma fábrica de celulose no Japão, transportada por meio de barcaças até as margens do rio Jari. Instalada em uma área de mais de 1 milhão de hectares, a fábrica inclui uma ferrovia, um terminal portuário e florestas de eucaliptos. Por causa da localização, no entanto, a viabilidade econômica do projeto é questionada. O empresário deixou o País no início dos anos 1980, após vender a Jari com prejuízo.
O projeto mudou de mãos algumas vezes antes de ser adquirida por Sérgio Amoroso, que era dono do grupo Orsa, no início dos anos 2000. O empresário comprou a empresa por um valor simbólico e assumiu as dívidas, que à época já eram de US$ 400 milhões.
Agora, com o aumento do preço da celulose no mercado internacional e o movimento de consolidação do setor - que ganhou força após a fusão entre Suzano e Fibria -, os acionistas da Jari Celulose começaram a se articular para buscar um sócio para o negócio e evitar uma recuperação judicial, afirmaram fontes próximas às negociações.
No fim de 2018, a empresa contratou os bancos BTG Pactual e o Bradesco BBI para procurar investidores. Os donos - Amoroso tem 75% e o empresário Jorge Henriques, os outros 25% - estão abertos à entrada de um sócio ou à venda de todo o projeto industrial.
Pessoas próximas às negociações afirmaram que grupos asiáticos estariam interessados, entre eles a RGE (Royal Golden Eagle), que já tem uma unidade de celulose solúvel no Brasil. Procurada, a RGE informou que sempre analisa oportunidades, mas não comenta rumores de mercado. Em janeiro, os bancos começaram a receber propostas não vinculantes. As propostas firmes deverão ser analisadas nos próximos 90 dias.
A expectativa dos sócios, segundo pessoas par do assunto, é levantar entre R$ 1,4 bilhão e R$ 1,5 bilhão com a venda da Jari.
O presidente da companhia, Patrick Nogueira, confirmou ao jornal O Estado de S. Paulo que os controladores estão em conversas para a entrada de um investidor, mas não deu detalhes do negócio.
Segundo ele, a planta da Jari produz 250 mil toneladas por ano de celulose solúvel e fatura cerca de R$ 700 milhões. As dívidas estão nas mãos do BNDES, Banco do Brasil e bancos privados, entre eles o Bradesco. O atual projeto comporta um aumento de 20% da produção e há possibilidade de criação de uma nova linha de celulose para outras 750 mil toneladas.
Entrave
Uma das maiores dificuldades para a entrada de um sócio é a localização em plena floresta amazônica. A venda do pacote completo do projeto Jari é considerada complexa. Instalada no meio da floresta, a área agrícola e florestal da companhia não pode ser repassada a investidores estrangeiros, uma vez que o País impõe restrições para aquisição de terras por grupos internacionais.
Fontes ouvidas pelo jornal O Estado de S. Paulo afirmaram que há na mesa discussões para a venda da área industrial e de ativos florestais, sem incluir as terras. Os atuais controladores ficariam como proprietários da área florestal e poderiam diluir suas participações. Do total de 1 milhão de hectares sob a gestão do grupo, somente 120 mil hectares são ocupadas por florestas de eucalipto que viram matéria-prima para o projeto industrial.
Em 2016, após novos investimentos, a Jari converteu a unidade de celulose tradicional para solúvel, que é destinado para a produção de tecido (viscose) e toda a produção voltada 100% para exportação, sobretudo mercado chinês. No entanto, os acionistas acumularam mais dívidas desde então e precisam de capital para que a empresa não tenha de recorrer à recuperação judicial.
Em 2012, Amoroso, que já era dono do grupo Orsa, vendeu a Jari Celulose e Papel, de embalagens, para o grupo International Paper. O valor do negócio foi de R$ 1,27 bilhão. A companhia, porém, tinha seis fábricas, não estando concentrada na região amazônica. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
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