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FED/Bostic: Política monetária será conduzida usando "sistema de piso"

AE

São Paulo

23/03/2019 08h44

O presidente do Federal Reserve de Atlanta, Raphael Bostic, disse que a política monetária daqui para frente será conduzida usando um "sistema de piso", no qual o Comitê Federal de Mercado Aberto (Fomc, na sigla em inglês) controla as taxas por meio de taxas de juros administradas, em vez de manipular a oferta de reservas escassas. Bostic discursou na Conferência de Macroeconomia e Política Monetária do Fed de São Francisco sobre as recentes decisões do Fomc de administrar os últimos estágios da normalização das políticas aplicadas após a deflagração da crise financeira global.

Ele lembrou que há pouco mais de 10 anos, o Fomc reduziu a taxa de juros para quase zero e ainda recorreu a dois novos instrumentos para promover a recuperação da recessão. Um deles foi a compra em larga escala de títulos de longo prazo, que ficou conhecida como flexibilização quantitativa, ou QE. Tal política ampliou substancialmente o balanço patrimonial do Fed, de cerca de 6% do Produto Interno Bruto (PIB) americano em 2006 para quase 25% do PIB em 2014. A outra ferramenta "inovadora" foi a orientação futura ou a comunicação sobre a trajetória futura das taxas de juros.

"Desde o início, o Comitê considerou esses movimentos como medidas extraordinárias a serem desenroladas ou 'normalizadas', quando apropriado. A normalização do balanço começou há 17 meses", disse Bostic, acrescentando que em janeiro e no início desta semana, o Fomc anunciou "decisões importantes" sobre sua abordagem para gerenciar os últimos estágios desse processo.

Em janeiro, o Fomc informou ter decidido continuar com uma estrutura operacional na qual as reservas bancárias sejam "amplas". A decisão foi acompanhada na última semana pela decisão de estabilizar o tamanho do balanço, pelo menos por um tempo, a partir de outubro. "Em suma, a política monetária daqui para frente será conduzida usando o que é comumente conhecido como "sistema de piso", em que o Comitê controla as taxas por meio de alíquotas de juros administradas, em vez de manipular o fornecimento de reservas escassas", declarou Bostic em São Francisco.

"O Fomc não retornará à estrutura operacional pré-crise", disse o presidente do Fed de Atlanta na conferência em São Francisco. "É importante ter clareza sobre a razão para essa decisão." Conforme Bostic, as mudanças nas regulamentações bancárias, nos modelos de negócios das instituições financeiras e na administração de tesouraria em suas contas no Fed após o início da crise financeira, em 2008, implicam que "a demanda por reservas hoje provavelmente será muito maior (e talvez mais volátil) do que estava no mundo pré-crise", explicou. "As estimativas da demanda média de reservas variam, mas algo em torno de US$ 1 trilhão não parece desarrazoado para mim."

Bostic destacou, nesta linha, que o balanço do Fed continuará sendo grande em relação à norma pré-crise, independentemente da decisão de implementar a política monetária em uma estrutura com reservas amplas. Com relação à transmissão de ações de política para taxas de juros de curto prazo, o presidente do Fed de Atlanta avaliou que não houve, até o momento, "distinção perceptível entre a antiga estrutura operacional e a nova estrutura operacional". "Como uma questão prática, todas as evidências apontam para a pouca diferença na eficácia da política monetária quando o banco central opera em um sistema com reservas amplas", declarou.

Bostic afirmou também que o Fomc continua a ver a meta de taxa de fundos federais como a principal ferramenta para ajustar a postura da política monetária.

Ele advertiu ainda contra a má interpretação do que o Fomc quer dizer com "paciência". "Surgiram alguns comentários sugerindo que a intenção do Comitê de ser paciente em ajustar o alcance da meta é um sinal definitivo de que não há circunstâncias sob as quais aumentaríamos a taxa de juros para o restante do ano. Essa não é uma conclusão precisa", afirmou Bostic. "Não vejo essa abordagem 'paciente' como restringindo as opções do Comitê. Nós podemos subir, podemos nos mover; estou aberto a todas as possibilidades, pois visamos apoiar a expansão econômica sustentada, as condições fortes do mercado de trabalho e a inflação perto do objetivo simétrico de 2% do Comitê", acrescentou. (Clarice Couto - Clarice.couto@estadao.com)