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BC diz que tem atuado no câmbio e que pode, a qualquer momento, atuar mais forte

Fabrício de Castro e Eduardo Rodrigues

Brasília

08/04/2020 13h33

O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, afirmou nesta quarta-feira, 8, que a instituição tem atuado no mercado de câmbio brasileiro e, se for necessário, a qualquer momento, poderá "atuar muito mais forte do que temos feito até então". O comentário foi feito durante evento virtual com executivos do banco Credit Suisse, entre eles o ex-presidente do BC e atual presidente do conselho da instituição financeira, Ilan Goldfajn.

"Acreditamos e enfatizamos muito o princípio da separação. A diretoria anterior (do BC) acreditava e nós acreditamos também: câmbio é flutuante e existe política para evitar excessos. Política monetária nós fazemos com juros", disse Campos Neto.

O presidente do BC pontuou ainda que parte do mercado financeiro advogava programas mais agressivos no mercado de câmbio. Campos Neto, no entanto, disse que o entendimento é de que é importante dar liquidez ao câmbio, sem influenciar os preços.

"O real se desvalorizou muito, mais que outras divisas", reconheceu o presidente do BC. "Nos últimos meses, o Brasil teve depreciação cambial um pouco maior", acrescentou, reforçando que o BC está preparado para "fazer algo maior" se necessário.

Campos Neto também citou, na conversa com o Credit Suisse, as operações de over hedge como um fato que elevava a compra de dólares no Brasil.

Em 31 de março, o governo encaminhou ao Congresso uma medida provisória (MP) para dar fim ao over hedge (ou hedge excedente).

Pela MP, o BC atuou para eliminar a distorção tributária relacionada a investimentos feitos por instituições financeiras brasileiras em outras sociedades no exterior. O objetivo é eliminar a necessidade do hedge excedente nestas operações, o que pode contribuir para reduzir a volatilidade nos mercados de dólar futuro e cupom cambial no Brasil.

Contratos

O presidente do Banco Central enfatizou que o cumprimento dos contratos é muito importante agora para se evitar uma crise mais profunda. "Do ponto de vista do governo, é melhor ter um resultado fiscal um pouco pior, mas com a garantia de cumprimento dos contratos, com segurança jurídica", afirmou.

Campos Neto avaliou que a crise gerada pela pandemia do novo coronavírus deve levar a mudanças geopolíticas importantes, com impacto para as econômicas emergentes. "Temos hoje um modelo de especialização de cadeia de produção de valor que permitiu que alguns insumos e bens médicos se concentrassem em apenas alguns países como China e Índia", detalhou.

O presidente do BC considerou que essa mudança pode levar a um crescimento menor da economia mundial por mais tempo. "Estudos mostram que concentração de produção em alguns países foi capaz de melhorar vida das pessoas, mas a cadeia global de valor pode sair da crise com situação diferente", completou.

Campos Neto participou pela manhã do evento virtual "Conversa com Campos Neto", promovido pelo Credit Suisse.