Ipea revisa projeção de alta do PIB agropecuário em 2020 de 3,8% para 2,4%
"A crise causada pela pandemia da Covid-19 pode estar causando impactos negativos para o mercado de carne bovina, que é a proteína de maior preço, e para a cana-de-açúcar, em função da redução forte do preço do petróleo, que afeta o preço do álcool", diz um trecho do boletim, ressaltando em seguida que o ajuste em relação "à previsão de produção de soja, por sua vez, nada tem a ver com a pandemia".
Os pesquisadores do Ipea destacam ainda que, mesmo com a revisão, "o desempenho do setor destaca-se positivamente nesta conjuntura recessiva atual". Mesmo o ajuste na produção de soja aponta apenas para um crescimento menor, mas a previsão ainda é de safra recorde.
O Ipea ajustou suas previsões após o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgar os dados de março do Levantamento Sistemático da Produção Agrícola (LSPA).
"A revisão para baixo na estimativa de produção de soja do LSPA decorre principalmente de uma queda da colheita do grão no Rio Grande do Sul. Na comparação do LSPA divulgada em abril com a divulgada em março deste ano, houve um recuo de 30,6% na previsão da safra 2019/2020 para o Estado - o que representa uma queda de 27,7% em relação à safra 2018/2019", diz o Boletim Agro do Ipea.
Mesmo com a queda na produção de soja no Rio Grande do Sul, a LSPA aponta para uma estimativa de alta de 6,4% na safra 2019/2020 de soja ante a safra 2018/2019, cenário praticamente confirmado. "Não é esperada uma nova grande revisão nas estimativas do LSPA para safra recorde do grão, tendo em vista que a colheita está praticamente concluída na maior parte das regiões produtoras", diz o boletim.
Já a produção de bovinos ainda está sujeita aos rumos da pandemia de covid-19 e tende a ter impacto negativo. Só que a substituição por outros tipos de carne, como suínos e aves, ainda garantirá crescimento de 2,0% no PIB da pecuária.
"O maior risco continua sendo uma queda na produção de carne bovina, por ser a proteína mais cara. No entanto, as proteínas substitutas mais baratas, como carne de frango e ovos, tendem a ser favorecidas em situações de queda de renda, como a atual", diz o boletim do Ipea.
Os pesquisadores do Ipea citam dados do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA, na sigla em inglês) e do Sistema de Inspeção Federal (SIF) brasileiro para mostrar que já há impactos negativos no primeiro trimestre. Segundo o USDA, a previsão de crescimento da carne bovina foi reduzida de 3,5% para 1,1%.
Já os dados do SIF "indicam um recuo de 10,2% dos abates de bovinos no primeiro trimestre em comparação com o mesmo período do ano de 2019", enquanto os abates de suínos e aves "apresentam crescimento de 2,4% e 5,5%" na mesma base de comparação.
Mesmo assim, o cenário-base do Ipea considera uma recuperação na produção de bovinos no segundo trimestre.
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