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Guedes responde a críticas ambientais dizendo que os EUA 'mataram índios'

Guedes foi preparado para responder sobre economia, mas foi questionado também sobre outros temas - Pedro Ladeira - 12.ago.19/Folhapress
Guedes foi preparado para responder sobre economia, mas foi questionado também sobre outros temas Imagem: Pedro Ladeira - 12.ago.19/Folhapress

Eduardo Rodrigues e Lorenna Rodrigues

07/08/2020 07h07

O ministro da Economia, Paulo Guedes, subiu o tom ao ser questionado sobre a política ambiental do governo do presidente Jair Bolsonaro.

"Entendemos a preocupação de vocês (norte-americanos), porque vocês desmataram suas florestas. Vocês querem nos poupar de desmatar a floresta, como vocês desmataram as suas. Sabemos que vocês tiveram guerras civis, também tiveram escravidão, e só pedimos para que vocês sejam amáveis como somos amáveis. Vocês mataram seus índios, não miscigenaram", afirmou, no evento Aspen Security Forum, organizado pelo Aspen Institute, um think tank (centro de estudos) de Washington.

O think thank americano é conhecido por reunir personalidades de todo o mundo em eventos como o que teve a participação de Guedes, tendo como público investidores, empresários, diplomatas e acadêmicos.

Guedes foi preparado para responder sobre economia, mas foi questionado sobre o combate à corrupção no governo Bolsonaro, sobre a condução da crise sanitária e sobre o desmatamento nas florestas brasileiras.

O ministro respondeu calmamente a uma das primeiras perguntas. Começou, porém, a perder o controle quando questionado pelo repórter da revista The Atlantic sobre a saída do ex-ministro Sérgio Moro do governo e suas declarações de que Bolsonaro não combate a corrupção.

Chegou a ser cortado em sua resposta final, quando lançou o argumento da soberania nacional para dizer que a Amazônia é um assunto que diz respeito ao Brasil: "Os militares estão dizendo, obrigado pela preocupação, mas essa é nossa terra. Não precisamos desmatar a Amazônia para produzir produtos agrícolas."

O ministro chegou a citar o general norte-americano George Armstrong Custer, que morreu enfrentando índios nativos nos EUA.

"O presidente Bolsonaro, o vice-presidente, o ministro da Defesa... O treinamento deles é ir para a floresta e ficar três, quatro, cinco anos. Eles adoram a selva. Não são como o general Custer, que foi remover os índios do Black Hill (região montanhosa isolada, localizada no interior das Grandes Planícies americanas, no Estado de Dakota do Sul) e foi morto em Little Bighorn (batalha que ocorreu em 1876 e se tornou o mais famoso incidente e a maior derrota do exército americano nas guerras indígenas nos EUA). Isso não aconteceu aqui. Somos um povo gentil. As grandes histórias de como matamos nossos índios são falsas."

Pressão

O Brasil vem sendo pressionado por investidores internacionais e grandes empresas a tocar uma agenda ambiental e enfrentar o desmatamento, uma demanda que também vem de uma sociedade cada vez mais consciente.

Em outro evento, mais cedo, Guedes reclamou de críticas de países europeus à política ambiental de Bolsonaro. "França, Holanda e Bélgica usam desculpa ambiental para impedir o Brasil na Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). É como acusarmos a França de queimar catedrais góticas, foi um acidente", afirmou, em referência ao incêndio da Catedral de Notre-Dame, no ano passado.

No evento organizado pelo Aspen, com a voz elevada, Guedes citou o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e disse que ele estava "apertando as mãos do Obama" e navegando em águas tranquilas porque havia corrupção e "compra" de pessoas no Brasil. A alteração de Guedes fez a moderadora interromper a conversa e convidar o ex-embaixador dos EUA no Brasil Clifford Sobel a fazer uma pergunta sobre a China. O tema, porém, não foi suficiente para apaziguar os ânimos.

O ministro disse que os EUA gastaram demais financiados pelas bolhas da China e vêm dançando "bochecha com bochecha" com os chineses. "Nem um brasileiro bêbado ousaria alavancar o sistema bancário 36 vezes como os EUA", completou, em referência à crise bancária de 2008.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.