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Fed vê longo caminho para EUA atingirem metas para emprego e inflação

Gabriel Caldeira e Gabriel Bueno da Costa

São Paulo

27/01/2021 18h15

O presidente do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano), Jerome Powell, afirmou em coletiva de imprensa que se seguiu à decisão de política monetária da instituição que a economia ainda tem um longo caminho a percorrer até que as metas de emprego e inflação sejam atingidas. Segundo ele, diante deste cenário, a posição acomodatícia do Fed é "altamente recomendável".

Powell reiterou nesta quarta que a entidade vai manter a sua política monetária acomodatícia, incluindo a taxa de juro e as compras de bônus atuais, de forma a continuar dando "apoio importante" para direcionar a economia dos Estados Unidos à recuperação.

O dirigente também reafirmou que a entidade segue "muito comprometida" com as suas metas de máximo emprego e inflação acima de 2%.

De acordo com Powell, a economia americana tem se mostrado mais resiliente do que o esperado em meio à crise do coronavírus, e "vários elementos", como a distribuição de vacinas para a covid-19, apontam para uma melhora da perspectiva no segundo semestre de 2021. Ele alerta, porém, para os impactos ainda vigentes da pandemia na economia.

A autoridade citou os baixos gastos com serviços, especialmente nos setores de viagem e hoteleiro, e um nível geral da atividade contraído em meio à alta incerteza por conta da covid-19. Powell ainda apontou para a perda "significativa" de empregos em setores como o de lazer e hospitalidade.

Sem esperar mudança significativa

O presidente do Federal Reserve afirmou também que se seguiu à decisão de política monetária da instituição que os dirigentes do banco não esperam uma "mudança significativa" a curto prazo no quadro para a inflação dos Estados Unidos.

O Fed tem por objetivo manter a inflação dos Estados Unidos pouco acima de 2% por algum tempo, disse Powell, reiterando o conteúdo do comunicado divulgado pela entidade. Segundo ele, uma recuperação não sustentada do nível de preços é mais preocupante do que uma inflação mais alta. "Seremos pacientes, não vamos reagir a aumentos modestos na inflação", prometeu Powell.

De acordo com o dirigente, o Fed tem lutado contra "forças desinflacionárias" vindas de outras economias ao redor do mundo. Mudanças estruturais na economia, o envelhecimento da população e o avanço de novas tecnologias também têm segurado o nível de preços nos últimos tempos, segundo Powell.

Política fiscal

A política fiscal tem tido papel "forte" e "crucial" de forma sustentada na resposta econômica à pandemia do novo coronavírus, afirmou Jerome Powell. O dirigente, porém, disse que não cabe ao Fed falar sobre questões específicas relacionadas à política fiscal.

O foco da autoridade monetária, diz Powell, está em apoiar a economia e levar as pessoas ao trabalho o mais rápido possível.

O dirigente alertou para os 9 milhões de trabalhadores desempregados nos Estados Unidos e para o fato de que empresas ainda estão sob dificuldades por conta da pandemia, além dos riscos à estabilidade financeira, que ele enxerga como "moderados" neste momento.

Para Powell, há ainda "consideráveis riscos de baixa" à perspectiva econômica, entre eles as novas cepas do coronavírus e um possível atraso no ritmo de vacinação para a covid-19.

Ele considera, a partir de especialistas de saúde, que ainda levará "um bom tempo" até que a imunidade de rebanho seja atingida nos EUA. O dirigente também afirmou que, junto ao apoio fiscal em discussão no país, expectativas com as vacinas foram o que impulsionaram as altas nos preços de ativos em meses recentes.

Questionado, Powell informou que já recebeu a primeira dose do imunizante, e espera receber a segunda "em breve". Segundo ele, a melhor política para apoiar a economia agora é controlar a pandemia de coronavírus.

Compra de ativos

O presidente do Federal Reserve disse em coletiva de imprensa que se seguiu à decisão de política monetária da instituição que a redução do nível de compras de bônus pela entidade deve ser "bastante gradual", quando ocorrer. Para ele, ainda é prematuro especular sobre o momento em que isso deve acontecer.

O Fed irá agir quando houver de fato mudança na economia, e não apenas nas perspectivas, afirmou Powell. Entre os objetivos da entidade durante a crise sanitária, o dirigente cita evitar danos de longo prazo à economia dos Estados Unidos. Segundo ele, o país caminha para um cenário econômico "diferente", e será necessário seguir com o foco nas pessoas afetadas pela crise mesmo após a retomada das atividades.

Apesar da preocupação futura que reflete as dificuldades atuais impostas pela pandemia, Powell destacou que o sistema bancário tem se sustentando bem no contexto atual, e as empresas têm conseguido se financiar durante a crise, o que ele considerou "positivo".

Janet Yellen

Jerome Powell afirmou ainda que tem o "mais alto respeito e admiração" por Janet Yellen e disse que ele terá uma boa relação com a nova secretária do Tesouro americano durante o seu período integrando o gabinete do presidente dos Estados Unidos, Joe Biden.

Durante coletiva de imprensa que se seguiu à decisão de política monetária do Fed, Powell disse que ainda não conversou com Yellen ou Biden após a posse de ambos.

O dirigente ainda ressaltou seu desejo de retomar "em breve" contatos semanais com a secretária do Tesouro.