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Alta da Selic é desaprovada por maioria das transportadoras, mostra CNT

Amanda Pupo

Brasília

07/04/2021 15h17

A decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) tomada em março de ajustar a Selic de 2% para 2,75% ao ano não foi bem avaliada por grande parte do setor de transportes no Brasil. Segundo a 6ª Pesquisa do Impacto da Covid no Transporte, produzida pela Confederação Nacional do Transporte (CNT), 56% das transportadoras entrevistadas discordaram do aumento, o primeiro desde julho de 2015.

Das empresas consultadas, 27,9% concordaram com a posição da autoridade monetária, e 16% não souberam ou preferiram não responder. O receio da maioria das transportadoras está relacionado com o custo do crédito, ferramenta a qual essas empresas ainda continuam com dificuldade de acesso. O temor é de que a Selic mais alta piore a situação.

De acordo com a pesquisa, entre as transportadoras que solicitaram crédito, quase metade (46,4%) tiveram o acesso negado. "O que evidencia ainda não terem sido solucionados os problemas enfrentados pelo setor", apontou a CNT.

No detalhamento do tipo de crédito negado, a entidade destaca que mais da metade dos entrevistados (55,6%) apontaram negativas na solicitação de crédito para capital de giro de suas empresas, e 16,2% para atender a questões salariais. A capacidade de pagamento comprometida desses negócios é a principal (34,2%) motivação para a não concessão do crédito.

"O comprometimento da capacidade de pagamento e as restrições de crédito em nome da empresa foram os principais motivos das negativas de acesso ao crédito às transportadoras solicitantes. O aumento da taxa Selic pode dificultar ainda mais esse acesso", apontou a CNT.

Enquanto que 60,8% apontaram acreditar que o aumento da Selic pode levar a uma elevação no custo do crédito, por outro lado, 52,2% afirmaram que a política será benéfica para controlar a inflação.

Empregos

A pesquisa da CNT apontou também que a persistência da crise também tem mexido com o quadro de funcionários das transportadoras. Mais de 40% dessas empresas não conseguiram evitar demissões em 2021 em virtude da pandemia. Entre as que demitiram, 57,3% o fizeram com até 9 empregados; 23,1%, entre 10 e 49 empregados; 4,3%, de 50 a 99 empregados; 6,4%, 100 ou mais empregados e 9% não souberam ou não responderam. Além disso, grande parte dos transportadores (57,3%) que precisaram demitir respondeu que a expectativa é de continuar com o desligamento de empregados nos próximos três meses.

O programa de redução de jornada ou suspensão de contrato de trabalho que vigorou no ano passado e é ensaiado para 2021 gera expectativa entre as empresas. Segundo a CNT, 39,1% dos empresários do setor de transportes tem perspectiva de adotar a redução de jornada e salários nos próximos 60 dias, e 36% pensa na suspensão temporária dos contratos dentro desse período.

A maior fatia dos entrevistados (54,5%) avaliou como ruim ou péssima a atuação do governo no apoio às transportadoras durante a pandemia, contra 22,4% que consideram regular, 16% como boa e apenas 4,8% a entendem como ótima. "O acesso a crédito, que se torna fundamental para que as empresas de transporte atravessem a crise sem terem de fechar as portas, foi repetidamente apontado como uma dificuldade do setor nas diversas rodadas da pesquisa, realizadas desde o início da pandemia", disse a CNT.

O apelo pela vacinação em massa também é forte no setor de transportes. A ação foi a mais votada pelas empresas entrevistadas pela CNT entre as principais medidas que devem ser priorizadas pelo governo, com 73,4%. Em seguida veio a disponibilização de linhas especiais de crédito e a isenção de tributos federais até o fim da pandemia.