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País vê "boom" de gestoras de recursos

Karla Spotorno

Em São Paulo

15/05/2021 13h15

Em plena pandemia, a indústria de fundos vive um "boom", induzido por fatores que envolvem desde o baixo custo de oportunidade até o aumento de reservas de investidores. O cenário favoreceu profissionais que, em meio a questões pessoais, deixaram tesourarias e assets para empreender mesmo diante da piora nas projeções de PIB e confiança dos empresários, além de turbulências políticas.

Somente neste ano até março, a Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima) já registrou 27 novas gestoras, ou quase a metade do resultado de um 2020 bastante profícuo, com 59 novas casas.

"O Brasil está passando por uma revolução na área de investimentos em que as pessoas buscam assets independentes, bancos digitais, e que entendemos como um caminho sem volta", diz Roberto Reis, ex-Bram, sócio e CIO da Meraki Capital Asset Management. A asset nasceu com R$ 1,3 bilhão sob gestão.

As gestoras independentes crescem de forma acelerada desde 2017. Em três anos, o ranking da Anbima ganhou cem novos nomes, o mesmo número de assets que surgiram em cinco anos, entre 2011 e 2016. Segundo o diretor da associação, Pedro Rudge, a quantidade de investidores em busca de novas de estratégias e diversificação de investimentos, em meio a juros baixos, favorece a expansão.

No meio da pandemia, a migração para plataformas ganhou um impulso, em meio à familiarização com aplicativos e bancos digitais forçada pela exigência do isolamento social contra a covid-19. As restrições, aliás, impediram gastos na mesma proporção que a de costume pela parcela mais endinheirada da sociedade como, por exemplo, serviços. A sobra de dinheiro foi, então, desviada para investimentos, como sugere a captação líquida da indústria de fundos crescente nos primeiros meses deste ano depois do resultado do ano passado, quando a Anbima registrou o terceiro maior saldo líquido (captações menos resgates) da série histórica, iniciada em 2002.

Especialização

"O que diferencia uma gestora da outra é a estratégia e a execução, feitas por pessoas. E o investidor busca mais especialização e conhecimento do que propriamente uma placa (com o nome de uma grande empresa)", ressalta o diretor da Anbima. "Nesse mundo de fácil acesso à informação, fica mais fácil de o gestor expor o que faz. Se o investidor gostar, investir é igualmente fácil. Basta ele apertar um botão na plataforma (de investimentos) e comprar uma cota", emenda Rudge, que não contava com a facilidade da atual forma de distribuição de produtos financeiros - via supermercados e canais digitais - quando montou a Leblon Equities, em 2008.

Em alguns casos, as condições externas somaram-se a questões pessoais. Sócio-fundador da Grimper, Sylvio Castro, ex-Credit Suisse, conta que, por anos, atuou como alocador, selecionando fundos para a prateleira do private banking do banco suíço e também como diretor de investimentos. "Sonhava há muito tempo em montar minha gestora. Minha questão não era 'se', mas 'quando' tomar essa decisão." Ele saiu do Credit no ano passado.

O isolamento social também gerou um resultado interessante. Gustavo Brotto, ex-Santander, sócio-fundador e gestor da Greenbay, cujo fundo começou em 30 de abril, lembra que a infraestrutura de tecnologia e segurança da informação foi toda pensada para o trabalho remoto. "Na gestora, todo mundo tem notebook. O servidor na 'nuvem'. Temos VPN, acesso à rede remotamente" diz.

Em março e abril, quando os números da pandemia pioraram, quase 100% da equipe da gestora ficou em home office. "Foi interessante até para testarmos toda essa estrutura. Percebemos que estamos preparados para qualquer contingência", diz Brotto, que deve manter pouco mais da metade da equipe em casa nos próximos meses.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.