Haddad diz que nunca discutiu sobre mudança em meta de inflação
Haddad disse que, na sua avaliação, o "cronograma ideal" era resolver primeiro a questão envolvendo a política fiscal. Após esgotar essa discussão, segundo ele, haverá uma abertura para debater a política monetária de forma mais "leve".
Ele também disse que sua pasta e os Ministérios do Planejamento e da Casa Civil precisam ajustar a redação do novo arcabouço fiscal para que o texto seja apresentado. Ele evitou comentar quando será enviado.
"Essa semana nem tem sessão no Congresso Nacional. Até falei 'vamos aproveitar que não tem sessão e fazer um negócio bem pensado'. Inclusive, ouvindo essas dúvidas, que eu acho legal isso", disse Haddad.
Sensibilidade de BCs
O ministro da Fazenda afirmou que, hoje, os bancos centrais no mundo têm sensibilidade no objetivo de atingir a meta de inflação, mas entendem que deve haver um caminho de razoabilidade a ser seguido. "Você vai ser exigente, vai buscar resultado, mas vai olhar para os lados. Quantos bancos vão quebrar? Quantas empresas vão quebrar? Como é que vai acontecer com a economia real? Por isso é uma pergunta que nem se faz", disse.
Haddad reagiu à uma declaração do presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, dada na semana passada, em que diz que se fosse atingir a meta de inflação em 2023, a taxa de juros teria de ser de 26,5%. Na ocasião, ele reforçou que, no entanto, isso seria impossível de ser aplicado.
"Se você perguntar para o Banco Central Europeu qual a taxa de juros que a autoridade monetária do euro deveria pagar para a taxa de inflação da Europa cair de 8,5% para 2%, é uma pergunta que ninguém vai responder para você, porque ela é tão absurda que ninguém responderia", retrucou Haddad.
O ministro reforçou que não há nos Estados Unidos ou na Europa uma pressão por subida de juros para que a inflação atinja a meta.
Gatilho
O ministro da Fazenda afirmou que, no novo arcabouço fiscal, está previsto um gatilho de que a receita sempre crescerá à frente da despesa. Ele declarou que se forem tomadas as medidas prometidas para aumentar a arrecadação no País, haverá liberdade para falar de espaço para corte na taxa de juros.
"A penalidade (prevista no arcabouço) por não estar dentro da banda da projeção de resultado primário é suficientemente dura para fazer com que a autoridade econômica busque estar dentro da banda do resultado primário", comentou o ministro na entrevista à GloboNews.
Haddad disse acreditar que os parâmetros da proposta estão calibrados para que a meta seja buscada. "Não é tão difícil buscar esse resultado", defendeu.
Segundo ele, com as medidas previstas para aumentar arrecadação, que representam algo entre 1% e 1,5% do PIB, a pauta sobre fiscal estará resolvida e haverá mais liberdade para reduzir juros.
Diretores do BC
O ministro da Fazenda afirmou ter levado ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva cinco sugestões de nomes para ocupar as diretorias de Política Monetária e Fiscalização do Banco Central, mas negou que o chefe do Executivo tenha batido o martelo sobre os escolhidos.
"Eu levei cinco nomes para o presidente Lula. E não tive uma reunião com ele depois para saber se ele tomou alguma decisão, até porque, conhecendo o presidente como conheço, ele certamente vai me chamar para discutir os nomes", disse Haddad, na entrevista à GloboNews. "Acho que ele comentou para mais de uma pessoa, não apenas para o ministro da Casa Civil Rui Costa, ministro da Casa Civil, que gostou de algumas pessoas que eu levei. Mas primeiro que ele não me disse quais eram as duas das cinco, e segundo que ele não disse 'pode convidar e encaminhar para o Senado'", continuou Haddad.
Dois nomes foram vazados à imprensa como definidos por Lula para ocupar as diretorias do BC: Rodolfo Fróes para a Diretoria de Política Monetária e Rodrigo Monteiro para Fiscalização.
O vazamento irritou Haddad, que chegou inclusive a atribuí-lo a Costa. Horas antes da exposição dos nomes, o ministro da Casa Civil havia afirmado à GloboNews que Lula já tinha escolhido os novos diretores.
Petróleo
O ministro da Fazenda classificou como exagerada a reação de preços no mercado internacional ao anúncio de redução da oferta de petróleo pela Opep+, que reúne a Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) e aliados.
"Teve um overshooting. Um milhão de barris não é para dar 8,0% de aumento do preço do barril", disse ele em entrevista à GloboNews. "A Opep sinalizou que pode cortar mais, que vai administrar o preço, e pode ser que ela queira manter o petróleo em um patamar mínimo, para não deixar ocorrer o que aconteceu em outros tempos, quando caiu a US$ 60, US$ 50, US$ 40."
No domingo, a Arábia Saudita e outros países da Opep+ anunciaram que vão reduzir sua oferta em 1,66 milhão de bpd a partir de maio até o fim de 2023. A informação foi confirmada nesta segunda-feira. A Opep diz que a decisão é uma medida preventiva com o "objetivo de sustentar a estabilidade do mercado de petróleo".
Crédito
O ministro da Fazenda afirmou há pouco que tem a impressão de que o que está acontecendo no mercado de crédito brasileiro, sobretudo no mercado de capitais, não está chegando com inteireza ao Banco Central. "Não faço parte do BC, mas é uma tema recorrente em nossas conversas: 'será que vocês estão considerando o que parece estar acontecendo no mercado de capitais?'", disse, em entrevista à GloboNews. "Houve uma retração bem mais forte do que se supunha até o episódio das Americanas. Não vou dizer que o mercado externo afetou muito, mas afetou de alguma maneira - os spreads subiram, as emissões caíram e teve gente que não conseguiu se financiar no mercado de capitais e está recorrendo ao sistema bancário", emendou.
Haddad afirmou em seguida que há sinais que precisam ser observados e que o BC não pode deixar de considerar medidas macroprudenciais. "Não no que diz respeito ao sistema bancário, mas o que vai acontecer com a economia real se a situação estiver um tom acima do que parece."
Ao longo da entrevista, Haddad argumentou que os em outros bancos centrais do mundo a combinação entre política monetária e prudencial é maior do que no Brasil, ao falar sobre o "sinal amarelo" aceso com os eventos do Silicon Valley Bank e do Credit Suisse.
Estoques reguladores
Os estoques reguladores são fundamentais para corrigir o ciclo de preços dos alimentos, declarou o ministro da Fazenda em entrevista à GloboNews. "Quando você tem estoque não deixa a inflação fora de controle", disse o ministro.
Durante a entrevista, Haddad afirmou também que desde o início do novo governo foram restituídos programas federais de alimentação. "Houve o aumento do per capita da merenda para R$ 0,50 por dia, por aluno, e o relançamento do programa de aquisição de alimentos, garantido pela PEC de Transição."
O ministro destacou em seguida que a inflação de alimentos tem caído nesse início de ano. "Primeiro pela safra boa e depois pela chuva", disse. "Estamos em um momento em que vamos colher frutos da sorte, porque chover é sorte, mas também da supersafra e de programas que estão sendo reativados."
ID: {{comments.info.id}}
URL: {{comments.info.url}}
Ocorreu um erro ao carregar os comentários.
Por favor, tente novamente mais tarde.
{{comments.total}} Comentário
{{comments.total}} Comentários
Seja o primeiro a comentar
Essa discussão está encerrada
Não é possivel enviar novos comentários.
Essa área é exclusiva para você, assinante, ler e comentar.
Só assinantes do UOL podem comentar
Ainda não é assinante? Assine já.
Se você já é assinante do UOL, faça seu login.
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Reserve um tempo para ler as Regras de Uso para comentários.