Dúvidas fiscais, inflação e juros no Brasil limitam alta do Ibovespa por NY

A extensão do bom humor da véspera nos mercados internacionais nesta sexta-feira é insuficiente para animar o Ibovespa a recuperar parte da queda de 1,00% de ontem, quando fechou aos 128.188,34 pontos, na esteira da preocupação com a política monetária interna à frente.

Na avaliação de Diego Faust, operador de renda variável da Manchester Investimentos, o Índice Bovespa encontra dificuldades em subir de forma firme, dadas as incertezas internas e externas, em meio a dúvidas com juros em ambos os casos.

"Não teve nada de motivador aqui. Nova York não tem nada de ruim por lá e aqui os Dis estão querendo subir e a Bolsa, tentando corrigir a queda de ontem. Ainda pode ser um dia de acomodação dos ativos diante das incertezas relacionadas a como o Banco Central brasileiro irá se comportar", diz Faust.

Ainda persistem incertezas quanto à nova gestão do Banco Central (BC) a partir de 2025, após o placar dividido nos votos do Comitê de Política Monetária (Copom) esta semana. Ao mesmo tempo, fica no radar o avanço do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) em abril, a 0,38%, perto do teto das projeções (0,40%), enquanto os mercados esperam detalhes na ata do Copom, na terça, depois que o Banco Central cortou a Selic de 10,75% para 10,50% ao ano, na quarta.

"Vale lembrar que o comunicado do Copom aumentou o peso da inflação para as próximas decisões, que ficaram em aberto", alerta Silvio Campos Neto, sócio da Tendências Consultoria, em nota.

Apesar do avanço do IPCA em abril, o operador de renda variável da Manchester observa que a inflação brasileira está um pouco mais controlada, mas será preciso acompanhar a ata do Copom, na terça, e o índice de preços ao consumidor americano, que sairá na quarta. A tendência, segundo Faust é de volatilidade dos mercados domésticos até que se tenha um sinal firme sobre a política monetária do Brasil e dos Estados Unidos.

A safra de balanços corporativos também merece atenção, com resultados de empresas como CSN, Magazine Luiza e Suzano, por exemplo.

Além do exterior, um outro foco de alívio é o acordo entre a Fazenda e o Congresso sobre a desoneração da folha de pagamento das empresas. Pelo acerto, a tributação não será alterada neste ano, e um escalonamento da cobrança começará a valer em 2025 e se estenderá até 2028. A taxação sobre a folha de pagamentos do 13.º salário só ocorrerá no último ano.

No entanto, gera algum desconforto no mercado o fato de que a equipe econômica precisará enviar ao Congresso uma proposta para compensar a perda de receita com a desoneração este ano, em respeito à Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF). O impacto da medida é de cerca de R$ 10 bilhões, totalizando R$ 22 bilhões se for contabilizada a desoneração da folha dos municípios.

Enquanto a dúvida no Brasil é se a próxima diretoria aceitará um pouco mais de inflação, nos Estados Unidos prevalece a ideia que voltou ontem após um dado de emprego, de que ainda há espaço para o Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) começar a afrouxar suas taxas básicas de juros ainda este ano. Além disso, é bem visto o fato de o Reino Unido ter superado uma breve recessão no primeiro trimestre.

O foco externo fica em falas de diretores do Fed e na divulgação das expectativas de inflação dos EUA nesta sexta.

Ontem, o Ibovespa fechou com queda de 1,00%, aos 128.188,34 pontos, voltando a ceder levemente na semana (-0,25%), após duas altas semanais seguidas.

Às 11h13, subia 0,12%, aos 128.336,11 pontos, ante abertura aos 128.188,34 pontos, com variação zero, máxima aos 129.021,93 pontos, quando avançou 0,65%, e mínima aos 128.141,95 pontos (-0,04%).

Apesar da alta do minério e do petróleo, Vale ON caía 0,05% e Petrobras ON cedia 0,65%. Petrobrás PN subia 0,02%.