Dólar a R$ 5 em 2017, PIB caindo 3,5% em 2016: o que um banco espera do Brasil
SÃO PAULO - Em relatório, a equipe econômica do banco Credit Suisse traçou um cenário bastante assustador para a economia brasileira e que deve se prolongar até 2017.
Se 2015 promete ser desolador (os economistas preveem uma queda do PIB de 3,6% para este ano), 2016 não deve ser muito diferente. O banco prevê que a economia caia 3,5% em 2016 e 0,5% em 2017, o que deve tornar a contração provavelmente a mais longa e de maior magnitude desde a década passada.
Como em 2015, o declínio do PIB em 2016 será devido à contração global da demanda interna, com uma acentuada redução nos investimentos e no consumo das famílias.
Além disso, a queda de 12,6% dos investimentos prevista para 2016 vai continuar refletindo a elevada incerteza na economia, a baixa confiança dos investidores, as condições desfavoráveis do mercado de crédito, a menor demanda doméstica e a redução dos investimentos públicos.
2017: desemprego em 12,6% e dólar a R$ 5
O decréscimo de 4,4% no consumo das famílias em 2016, por sua vez, deve acontecer por causa do aumento na incerteza dos consumidores, da redução dos empréstimos bancários e, especialmente, das condições adversas no mercado de trabalho.
A equipe do Credit também vê redução de 4,7% do salário real em 2016, e de 1,5% em 2017. A taxa de desemprego, segundo o banco suíço, deve atingir 8,3% neste ano, 11,2% no ano que vem e 12,6% em 2017.
Enquanto isso, o real deve seguir bem desvalorizado, segundo a equipe econômica do banco. Para eles, o dólar deve fechar este ano a R$ 4, chegar a R$ 4,70 no ano que vem e terminar 2017 a impressionantes R$ 5.
"A depreciação adicional da moeda local será uma conseqüência da deterioração dos fundamentos domésticos, com saldos fiscais desfavoráveis, a inflação doméstica muito maior do que a média global e a apreciação do dólar americano contra a maioria das outro moedas globais", afirma o relatório do Credit Suisse.
Inflação na meta só em 2017 e juros em 14,25%
A inflação medida pelo IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) deve ficar bem acima da meta nos próximos anos. Se, em 2015, a projeção é de um IPCA de 10,7%, no próximo ano deve diminuir, mas atingir os 8% e chegar ao teto da meta em 2017, a 6,5%.
De acordo com o banco, a desvalorização significativa do real e a crescente persistência da inflação deverão mitigar a desinflação em 2016, apesar da recessão e da deterioração no mercado de trabalho.
Eles preveem uma redução da inflação de serviços de 8,1% em 2015 para 7,4% em 2016, enquanto a inflação dos preços controlados pelo governo (como gasolina e conta de luz) deve desacelerar de alta de 18,2% para 10,9% no período, como resultado do menor aumento das tarifas de energia elétrica, tarifas de transportes públicos e de taxas de água e esgoto.
Em relação à política monetária, os economistas do banco esperam que a Selic continuará onde está, em 14,25%, até o final de 2017, na sequência da estratégia do Banco Central de realizar a convergência gradual da inflação para a meta, supondo maior influência do canal da demanda doméstica, menor influência da desvalorização do real para a inflação e uma persistência da inflação mais reduzida em um cenário de recessão.
Contas públicas no vermelho até 2017
A contração da atividade e a queda real da massa salarial irá reduzir as receitas do setor público, em termos reais, em 2016, nas previsões do Credit. Por isso, o cenário para as contas públicas nos próximos dois anos continua sendo desafiador.
Enquanto a expectativa é de que haja um rombo de 1,6% neste ano, a queda será apenas moderada no ano que vem, para 1,4%, e de 1% em 2017.
A baixa aprovação do governo e a base de apoio mais fraca no Congresso não devem levar a qualquer mudança significativa, afirmam os economistas. Algumas medidas podem passar, mas o Congresso não deve passar outras, como a reinstituição da CPMF (Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira) ou mudanças na seguridade social.
O pagamento significativo de juros da dívida pública e o deficit primário recorrente provavelmente devem manter o deficit nominal em um nível muito mais elevado do que a média vista desde a implementação da LRF (Lei de Responsabilidade Fiscal).
A melhoria esperada no deficit nominal é lenta, passando de 10,5% do PIB em 2015 para 8% e para 7%, respectivamente, em 2016 e 2017.
Balança comercial deve crescer
Por outro lado, a expectativa é de que a balança comercial cresça significativamente nos próximos anos por causa da dura recessão e da forte depreciação do real. A expectativa é de uma balança positiva em US$ 17 bilhões neste ano, US$ 50 bilhões em 2016 e US$ 65 bilhões em 2017.
O aumento do saldo comercial em 2016 deve ser impulsionado principalmente por uma nova redução das importações, afirma o banco, enquanto as exportações provavelmente permanecerão estáveis em 2016 e terão uma ligeira melhora em 2017.
A expansão das exportações em 2016 e 2017 provavelmente será menor do que nos anos seguintes em meio à forte depreciação da moeda local.
"A mudança de composição das exportações do país, com maior peso dos produtos de base, o fortalecimento e expansão dos concorrentes internacionais no segmento de produtos manufaturados, a ausência de novos acordos comerciais, desde 2000, e o crescimento mais lento dos principais parceiros comerciais do país são razões suscetíveis para que exportação não tenha uma guinada nos próximos anos", avalia o banco.
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