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Tiro no pé? Decisão do BC é vista como compreensível, mas só Planalto e PT comemoram

20/01/2016 21h56

SÃO PAULO - Da última reunião de 2015 do Copom (Comitê de Política Monetária) à primeira de 2016, em que a Selic foi mantida em 14,25% ao ano, muita coisa aconteceu.

E os comunicados do Banco Central destacando a decisão ao longo destes pouco menos de dois meses formam uma ponte bastante interessante entre a intenção da autoridade monetária em ser "hawkish" em novembro em meio à resiliência da inflação, o que foi seguido pela continuidade de uma abordagem altista para a Selic precificada pelo mercado mas que, quando a reunião aconteceu, mostrou um BC "dovish", que passou a olhar para os dados da atividade econômica e que está gerando temores no mercado sobre quais seriam as "influências externas".

A decisão do BC foi comemorada pelo Palácio do Planalto e a cúpula do PT, segundo informações da Agência Estado.   Nos bastidores, auxiliares da presidente Dilma Rousseff disseram que o momento, agora, é de "travessia" para a retomada do crescimento, a partir do segundo semestre.  Na avaliação do governo, a alta dos juros aprofundaria a recessão e o desemprego. Dirigentes do PT chegaram a dizer que, se a Selic aumentasse, o presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, perderia as condições de permanecer no cargo.

Porém, a visão majoritária sobre a atitude do BC foi de desagrado. Discordando ou não da manutenção da Selic, o que mais gerou preocupação aos economistas foi a forma como a comunicação da autoridade monetária foi feita. Após dois meses sinalizando que iria elevar as taxas de juros, o BC mudou drasticamente a sua sinalização, o que levou a questionamentos sobre a credibilidade dele e levando até a diagnósticos de que o BC está sendo pressionado politicamente e que pode ser até a um tiro no pé pois desancora ainda mais as expectativas para a inflação. 

Confira abaixo as avaliações de economistas sobre a decisão do BC:

Credit Suisse
E, conforme ressalta a equipe econômica do Credit Suisse, "a decisão vem em um momento de um aumento significativo na incerteza sobre o processo de sinalização da autoridade monetária". O BC destacou em seu comunicado: "a valiando o cenário macroeconômico, as perspectivas para a inflação e o atual balanço de riscos, e considerando a elevação das incertezas domésticas e, principalmente, externas, o Copom decidiu manter a taxa Selic em 14,25% a.a., sem viés, por seis votos a favor e dois votos pela elevação da taxa Selic em 0,50 p.p".

"Em nossa opinião, a mudança nas projeções do FMI, embora significativa, não é uma explicação razoável para o Copom mudar sua leitura sobre o balanço de riscos para a inflação, dado que a leitura de mercado do Banco Central já vinha refletindo uma deterioração significativa das expectativas do mercado (ou seja, uma maior contração da atividade econômica e maior inflação ao consumidor em 2016)".

Assim, tendo em vista a decisão do Copom, o Credit voltou à previsão anterior de que o Copom vai manter a Selic em 14,25% até o final de 2016. "Temos de admitir que a nossa dificuldade em interpretar a sinalização do BC de forma consistente faz com que nossas previsões para a trajetória da taxa Selic sejam bastante frágeis e, portanto, sujeitas a mudanças muito mais do que teria sido razoavelmente esperado no passado. Independentemente da decisão, acreditamos que o processo de sinalização orquestrada pela autoridade monetária tenha perdido algum do seu poder de coordenar as expectativas do mercado e, portanto, pensamos que será ainda mais difícil de conseguir uma redução significativa da inflação ao consumidor no próximos trimestres", conclui o banco.

Goldman Sachs
Os ruídos da comunicação do BC continuam, levando a divergências sobre os próximos passos do BC. Enquanto o Credit espera manutenção dos juros, o economista do Goldman Sachs, Alberto Goldman, destacou em entrevista para a Bloomberg, que não será surpresa se o BC passar a discutir corte na Selic, ressaltando que a decisão "abala um pouco a credibilidade" da autoridade monetária e contraria o consenso estabelecido 24 horas antes.

Em relatório, Ramos destacou que  a estratégia escolhida pelo BC pode levar a uma pressão adicional sobre o real e mais desancoragem das expectativas de inflação, o que pode, eventualmente, exigir um ciclo mais profundo e longo de elevação da Selic assumindo que a autoridade monetária continuará empenhada em conduzir a inflação abaixo do limite de 6,50% em 2016 e realinhamento com o centro da meta no ano que vem. 

Para Ramos, a alta moderada nas taxas no curto prazo seria necessário para o Copom para manter a coerência com a sua própria orientação recente de convergir a inflação para a meta em 2017 e também ajudaria a reafirmar a autonomia da autoridade monetária em meio às preocupações sobre potenciais pressões externas (políticas) para a postura mais branda.

"Além disso, caminhadas moderadas no início de 2016 teriam acrescentado um seguro valioso contra potenciais choques na conta de capital e da taxa de câmbio. Finalmente, e talvez mais importante do que todos os itens acima, o benefício de uma resposta monetária mais decisiva de curto prazo teria sido a de aumentar espaço para cortar taxas mais cedo, em comparação com a alternativa  mais arriscada de ficar esperando uma melhoria das perspectivas de inflação", ressalta Ramos.

Barclays
O economista do Barclays, Bruno Rovai, destaca o comunicado do BC, ressaltando que as "maiores incertezas do ambiente internacional não foram destacadas nos discursos anteriores de membros do Copom e pode estar relacionada com a queda nos preços das commodities e volatilidade de mercado dos mercados asiáticos, sublinhadas pela desaceleração da economia chinesa".

E, em meio à deterioração das condições domésticas, o aprofundamento da recessão, o ajuste do mercado de trabalho em plena aceleração e agora a percebida desvantagem material de riscos provenientes do ambiente internacional, o Barclays manteve o cenário base de que o Copom vai começar a flexibilização da política monetária em agosto deste ano, levando a taxa Selic até 13,00% no final de 2016.

"As mãos do Banco Central continuam amarradas", destaca o Barclays, ressaltando que a eficácia da política monetária para controlar a inflação está sendo minada. 

Capital Economics
O economista Neil Shearing, da Capital Economics, afirmou que o BC deu um tiro no próprio pé. "A c onclusão óbvia é que o BC se curvou à pressão do governo para não aumentar a taxa de juros apesar do aumento da inflação.  Ao correr o risco de desencadear um sell-off no mercado de títulos, o BC pode acabar por entregar um aumento na taxa de juros na economia real". 

Shearing ressaltou que a d ecisão não foi completa surpresa após a nota de Tombini ontem e que as q uestões sobre a autonomia do Banco Central vão inevitavelmente surgir. "O  BC já está com pouca credibilidade com relação a metas de inflação e a decisão do Copom é mais um golpe".   

Nomura
Embora a decisão de manter a Selic possa ser defendida pelas condições econômicas do País, “a forma como o BC pareceu mudar sua posição pode acabar custando em termos de credibilidade”, segundo relatório assinado por  João Pedro Ribeiro, da equipe de pesquisa da  Nomura .

Esta decisão p oderá aumentar os custos necessários para se estabilizar as expectativas de inflação à frente. A N omura vê Selic inalterada em 14,25% pelo restante de 2016; previsão anterior era de aperto “modesto” de 100 pontos.

Banco Fibra
Em entrevista para a agência Bloomberg, o economista do Banco Fibra, Cristiano Oliveira, ressalta que a decisão do BC foi tecnicamente correta, mas que o mercado terá volatilidade por ruído causado com a nota comentando as revisões das projeções do FMI. Para o economista, um corte de juros pode ocorrer no ano que vem. E, agora, o mercado tenderá mais a olhar para o comportamento dos ativos externos. 

Azimut
Para o InfoMoney, o economista-chefe da  Azimut Brasil Wealth Management, Paulo Gomes,  destacou que a  forma como a decisão do BC ocorreu tirou a credibilidade da autoridade monetária e ressalta  que a interpretação que fica é que o Banco Central está sendo pressionado por fatores externos (políticos, principalmente), e que mostrou ter cedido a esta pressão.

Gomes acredita que o mercado passará a precificar agora um cenário de inflação mais alta, principalmente se o dólar realmente disparar após a decisão. Por outro lado, apesar de ser o mais lógico, o economista projeta o BC deixando em aberto a possibilidade de voltar a subir juros na próxima reunião. "Parece que o ciclo de alta acabou, mas não tem como descartar este cenário ainda", completou.

Banco Fator
"Acho que houve uma inflexão ontem, então veio no que eu esperava. De ontem para hoje eu baixei (a expectativa de alta) de 50 pontos básicos para zero, porque entendi que eles não enxergavam 50 como adequado por conta da preocupação com a atividade doméstica e externa", ressaltou o economista-chefe do banco Fator, José Francisco de Lima Gonçalves.

"Daqui pra frente a tendência é não subir mais, porque eu entendo que se o argumento deles é principalmente as incertezas externas, as incertezas externas vão se manter."

Santander
"A preocupação com a atividade econômica ganhou importância e também muito provavelmente o BC deve ter reavaliado a expectativa de crescimento econômico em relação ao que ele tinha no relatório de inflação publicado no final de dezembro", destaca Tatiana Pinheiro, economista do Santander.

Para a economista, "a inflação vai desacelerar este ano porque a inflação de (preços) regulados vai desacelerar."

"A resposta do mercado vai ser desprecificar o ciclo inteiro, ou seja, a parte curta fecha (cai) um pouco mais. A parte longa deve sofrer (subir) um pouco, deve ter um sentido de inclinação maior da curva."

Segundo o Santander, a decisão do BC torna mais provável a materialização da previsão do banco de 13% para a Selic no fim do ano, segundo relatório.  Além disso, ata do encontro deve trazer revisão significativa em baixa do prognóstico do BC para o PIB, uma vez que da última vez que a autoridade monetária apresentou seus modelos, no Relatório Trimestral de Inflacão, a previsão estava em -1,9%

4E Consultoria
"Diante das sinalizações do Banco Central não foi uma boa decisão. Aparentemente tem a digital do Planalto, isso já aconteceu outras vezes no gestão Dilma 1 e volta a ocorrer", afirma Juan Jensen, sócio da 4E Consultoria.

"É uma decisão ruim e que afeta bastante a credibilidade do Banco Central. Quem está decidindo? O mercado e os analistas estão se questionando. É a presidenta que toma decisão ou a diretoria colegiada?”

Rosenberg
A decisão é tecnicamente defensável, dada a grande recessão em que se encontra o país, afirma a equipe da Rosenberg. "A questão é o modo como foi feita a condução das expectativas: desde a última reunião, as comunicações do BC apenas vieram sancionar as expectativas do mercado de que haveria o início de um ciclo de ajuste da Selic a partir desta reunião de janeiro, com uma alteração da comunicação aos últimos minutos do segundo tempo".

A consultoria ressalta que o comunicado pós-reunião aponta para as incertezas do cenário externo, que de fato se ampliaram nos últimos dias. "Todavia, inevitavelmente esta decisão acabará por arranhar a já combalida credibilidade do BC: por mais que os argumentos técnicos existam, as suspeitas de que a decisão tenha sido tomada por pressões políticas acabará por se refletir no risco país e consequentemente no câmbio. À mulher de César não basta ser virtuosa, há de parecê-lo".

Segundo a consultoria, quanto às próximas decisões, dificilmente o BC subirá juros nas próximas duas reuniões, embora os votos pela alta deixem a janela entreaberta. "Aguardaremos a ata para desenhar os próximos passos do Copom, mas imaginamos que concentrem fogo na evolução recente do mercado internacional, conforme o comunicado, para explicar as razões da sua cautela. 2016 já mostra a que veio - e o recesso parlamentar ainda nem terminou. Os tambores já estão rufando".

Bradesco
O diretor de pesquisas econômicas do Bradesco, Octávio de Barros, destaca que a piora das expectativas dos agentes foi acentuada nas últimas semanas, tomando como referência o comportamento dos preços dos principais ativos globais e que, respondendo às dúvidas em relação ao cenário doméstico e mundial, o Banco Central optou pela manutenção da Selic.

Assim, o Copom levou em conta não só o “cenário macroeconômico, as perspectivas para a inflação e o atual balanço de riscos”, como também “a elevação das incertezas domésticas e, principalmente, externas”.

"De fato, como temos defendido, atualmente, qualquer aumento de juros se mostra desnecessário diante da gravidade da recessão econômica em curso no País e que tende a se manter ao longo deste ano, levando a uma retração significativa da demanda por crédito. Entendemos que não há ancoragem das expectativas de inflação mais efetiva do que a brutalidade da crise econômica atual. Tampouco consideramos que haja qualquer risco de dominância fiscal sobre a política monetária. Não vemos qualquer benefício relevante do aumento dos juros sobre as expectativas e sobre a própria trajetória da inflação no Brasil na fase atual. Vale ainda chamar atenção para a dissidência da decisão, uma vez que dois membros votaram pela elevação de 0,50 ponto percentual".

Dessa forma, o Bradesco destaca aguardar divulgação da Ata do Copom, na próxima quinta-feira, quando teremos os fundamentos dessa decisão, que acabou contrariando a expectativa de parte importante do mercado. De todo modo, mantemos nossa visão de que a taxa Selic   –   à luz das condições enfraquecidas da demanda interna e da falta de locomotivas na economia mundial   – seguirá estável em 14,25% neste ano. 

LCA Consultores
Conforme destaca a LCA Consultores, de fato,  há incertezas de sobra nas conjunturas interna e externa para justificar a manutenção da Selic. Porém, o eventual aumento da taxa básica de juros teria relevante significância reputacional – de conferir maior credibilidade à política monetária; e de sugerir que a troca da equipe econômica no final do ano passado não representaria um retrocesso na disposição do governo como um todo de manter controle sobre a inflação e de reequilibrar as contas públicas.

" A decisão do Banco Central de desarmar o aumento de juros, portanto, tende a desarmar também o eventual ganho reputacional que um ajuste monetário poderia ensejar neste momento; e, com isso, tende a tornar mais difícil a reversão da deterioração recente das expectativas inflacionárias (e econômicas)", afirmam os economistas da consultoria.

Safra
No horizonte das duas próximas reuniões, o mais provável é a manutenção dos juros, disse Carlos Kawall, economista-chefe do Banco Safra, ao comentar a decisão do Copom para a Bloomberg.

"Muita gente de respeito já tinha dito que o BC não deveria subir os juros, apesar de que, no relatório de inflação, os sinais foram pela elevação. A mudança de visão pode ter sido baseada no cenário internacional, Tombini participou recentemente da reunião do BIS", afirmou Kawall.

"Não acredito em decisão baseada em pressão política do governo ou de Dilma, há uma motivação técnica e o comunicado faz referência à cena global. Com a volta do Congresso em fevereiro, toda essa confusão do Brasil vai se somar ao quadro internacional", destacou.  O economista ainda afirmou ser prematuro dizer que o próximo movimento do BC será o de cortar juros.

BTG Pactual
Após a decisão cheia de ruídos do BC, o BTG Pactual destaca que a autoridade monetária deve manter a Selic em 14,25% indefinidamente, apesar das evidências de que a autoridade monetária pode mover seus juros para uma decisão ou outra.

(Com Reuters e Bloomberg)