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O que mais está em jogo na tão aguardada reunião da Opep e como lucrar com isso?

30/11/2016 08h33

SÃO PAULO - Um dos momentos mais aguardados para quem acompanha o mercado de commodities poderá ocorrer nesta quarta-feira, quando os líderes dos principais países produtores de petróleo, em Viena, discutem novamente a possibilidade de um congelamento de produção, que poderia provocar uma valorização da matéria-prima no mercado internacional. Não se sabe ao certo quais seriam as chances de a Opep (Organização dos Países Exportadores de Petróleo) conseguir alcançar um consenso em meio aos difusos interesses entre as partes envolvidas, mas a leitura majoritária no mercado é que o cumprimento de ações que podem culminar na alta dos preços é difícil de ser confirmado.

LEIA TAMBÉM: Os "pozinhos" de Petrobras que podem explodir com a reunião da Opep

"Nossas análises sugerem que, com base no fechamento de segunda-feira, os contratos futuros do petróleo tipo brent refletiam uma probabilidade de 30% de um acordo ser firmado", escreveram os analistas do Goldman Sachs em relatório a clientes. Eles acreditam que a sessão desta quarta-feira poderá contar com movimento volátil em até US$ 6 o barril, o que corresponde a cerca de 12% em relação aos atuais patamares e mais de cinco vezes acima das oscilações médias dos papéis no mercado internacional.

Às 8h23 (horário de Brasília), os barris tipo brent e WTI acumulavam respectivos ganhos de 5,13% e 4,62%, cotados a US$ 48,76 e US$ 47,32, com o mercado apostando no tom mais otimista de os membros da Opep conseguirem fechar as negociações para reduzir a oferta da commodity no mercado.

Projeções de preço
Em setembro a Opep concordou em estabelecer uma meta que se traduziria em cortes de produção de 200 mil a 700 mil barris por dia. Para analistas citados pelo portal norte-americano CNBC, em caso de fracasso, os preços poderiam mergulhar para US$ 35 o barril, tendo em vista a demonstração de fraqueza com a incapacidade em reduzir a oferta da commodity no mercado.

Em entrevista ao InfoMoney, o diretor executivo e economista sênior do CME Group, Erik Norland, mostrou-se mais cauteloso com relação aos riscos de downside, embora também não acredite em um acordo entre as partes. " O ponto de equilíbrio não está muito distante do que o mercado está negociando atualmente; seria provavelmente algo entre US$ 45 e 50. O principal risco de downside é que há enormes estoques de petróleo. Um excesso tem potencial de evitar que os preços subam demasiadamente, mas também podem ser responsáveis por eventuais declínios", disse.

No outro cenário, caso haja uma aprovação, o especialista acredita que os preços do petróleo poderiam subir a US$ 65 o barril, evidentemente dependendo da dimensão do acordo construído e seu cumprimento pelas partes. "Se isso ocorrer, parte dos estoques passará a ser liquidada -- o que fará com que pessoas tirem vantagem dos preços [mais altos] e levem os preços de volta para baixo. Talvez US$ 65 o barril seja a meta realística máxima de upside, a menos que ocorra uma crise maior em um país produtor", avaliou Norland em conversa por telefone.

Impactos nas economias
As  consequências podem ser enormes. Se o preço do petróleo subir, gigantes como a Exxon Mobil poderão se ver com caixa suficiente para retomar projetos abandonados. Países em dificuldades financeiras, como México e Rússia, podem ter alívio no orçamento. Se a cotação não subir, é provável que a recente tendência de alta se desmanche.

"Se a Opep não apresentar um acordo com credibilidade para cortar a produção na quarta-feira, os preços do petróleo vão terminar o ano abaixo de US$ 40 por barril e vão buscar US$ 30 no começo do ano que vem", disse David Hufton, presidente da corretora PVM Group, de Londres.

Por outro lado, em caso de êxito, as economias mais afetadas seriam aquelas não muito abastadas e que importam a maior parte da energia que consomem. Para Norland, este seria o caso de países do leste africano, sudeste asiático, Europa de um modo geral -- com destaque para a porção leste e excluindo Inglaterra e Noruega.

Interesses difusos, acordo improvável
Na leitura do economista do CME Group, os interesses difusos entre os membros da Opep dificulta que um consenso seja alcançado. Segundo ele, nem todos os países estão comprometidos com isso, ao passo que outros podem não inspirar tal confiança de pôr em prática o que for decidido.

Essa percepção é compartilhada por Amrita Sen, analista de petróleo da Energy Aspects Ltd. "Irã e Iraque presumiram que a Arábia Saudita fará o corte unilateralmente por desejar preços maiores e pensaram que poderiam colocar os sauditas contra a parede", afirmou em entrevista à Bloomberg. "Riad afirmou efetivamente que não está contra a parede e que não fará acordo a menos que todos os demais contribuam".

Erik Norland também chama atenção para a posição saudita nessa negociação: "Uma das razões pelas quais a Arábia Saudita concorda em cortar sua produção poderia estar relacionada às próximas vendas de títulos do governo. O outro ponto é que os sauditas poderiam cortar sua produção, mas depois começar a vender seus substanciais estoques, e isso realmente não mudaria tanto o volume de petróleo vendido no mercado".

Conta o especialista que o governo local estaria passando por déficits orçamentários elevados e tentava provocar alta nos preços para garantir um montante mais substancial de recursos captados na próxima oferta de bonds. "E les provavelmente querem elevar os preços do petróleo antes da venda de bons para tornar a situação fiscal um pouco melhor e tornar esses títulos mais interessantes", afirmou.

Os efeitos em outros mercados
Existe uma forte correlação entre os preços do petróleo no mercado internacional e o desempenho do índice S&P 500 em Wall Street. Para Norland, as ações do setor de energia certamente estariam atreladas ao movimento da commodity, mas não seriam a principal causa do fenômeno observado, uma vez que correspondem a algo em torno de 10% da carteira do benchmark norte-americano.

" A principal razão se deve, na verdade, às ações dos bancos. O setor está emprestando grandes volumes de recursos ao setor energético. Se os preços de energia caírem muito, esses credores temem que algumas companhias não conseguirão honrar com os compromissos. Com US$ 50 o barril, a maioria das companhias de energia conseguem horar suas dívidas, embora possam não ser tão lucrativas. Por outro lado, uma alta nos preços representaria um tremendo alívio para os investidores", observou.

Sendo assim, não apenas os investidores do setor de energia torcem por um petróleo mais valorizado, mas os bancos também podem estar fazendo figas. Resta saber se os dois setores sairão bem na foto após esta quarta-feira.

Como ganhar dinheiro com o evento?
Não está fácil encontrar "pozinhos" na BM&FBovespa nesses dias, devido à forte volatilidade do mercado, mas ainda assim o trader e professor do InfoMoney Luiz Fernando Roxo, sócio da ZenEconomics, acredita que não dá para deixar passar em branco um  dos eventos mais esperados pelo mercado desta semana, a reunião da Opep (Organização dos Países Exportadores de Petróleo).

Foi se posicionando antes de um evento de magnitude ainda maior - a eleição dos Estados Unidos -, que ele conseguiu ganhos de 4.500% em 4 dias na Bovespa durante o mês de novembro, com opções que valiam antes entre R$ 0,01 e R$ 0,02 (para ter acesso à "Estratégia do Pozinho", clique aqui).

Segundo ele, como não é possível prever o desfecho da reunião, o ideal seria adotar posição nas duas pontas: tanto em opções de compra quanto em opções de venda de Petrobras. Assim, se a ação explodir para um dos lados, o investidor conseguirá capturar o movimento. Nesse sentido, ele acredita os melhores "pozinhos" de Petrobras são PETRX17 (opção de venda) e PETRL43 (opção de compra), pensando em quem quer se expor à reunião da Opep. Ambos os contratos são negociados bem "fora do dinheiro". Isto é, bem distantes do preço atual da ação preferencial da Petrobras.

Mas atenção: por conta da forte volatilidade, Roxo explica que quem aplicar nesses contratos têm um risco de perder até 50% do dinheiro investido.