Bancos traçam cenário mais positivo para o Brasil em 2020
Por Paula Salati
Bancos e agências de classificação de risco estão mais positivos com relação ao Brasil, em maior ou menor medida. Em relatórios divulgados nas últimas semanas, muitos deles veem nas reformas econômicas implementadas nos últimos 3 anos a possibilidade de construir um solo mais sustentável para o crescimento a partir de 2020.
Apesar disso, eles não deixam de destacar alguns riscos, como a possibilidade de instabilidade política, guerra comercial entre outros países, além das eleições municipais no Brasil no ano que vem, que podem acabar atravancando a agenda de reformas.
Veja abaixo o que cada instituição está prevendo para o Brasil:
Para a UBS, o "espírito animal" do Brasil "está de volta". Em seu último relatório (21/11), o banco de investimentos observou que, após 5 anos entre recessão (2015-2016) e crescimento perto de 1% (2017, 2018, 2019), as recentes reformas e as condições macroeconômicas (juros e inflação baixa) estão tornando "o solo do País mais fértil" para uma expansão sustentável do Produto Interno Bruto (PIB) nos anos de 2020 (+2,5%), 2021 (+2,5%) e 2022 (+3,0%).
Segundo o banco, a retomada da atividade deve ocorrer tanto pela via da demanda, como pela via dos investimentos. No lado da demanda, a expansão mais forte do PIB deve ajudar a criação de postos de trabalho a ganhar tração, promovendo uma queda mais acelerada da taxa de desemprego. Já as taxas de juros reais mais baixas, somadas a uma maior competição entre os bancos digitais e tradicionais, tende a reduzir os custos dos empréstimos e aumentar as carteiras disponíveis.
Do lado dos investimentos, a UBS destaca que as reformas fiscais e a maior estabilidade política e econômica devem elevar a confiança das empresas na economia. "Diversos setores já veem as suas vendas aumentarem em dois dígitos. Com isso, as empresas estão revisando para cima os seus gastos de capital para o próximo ano", diz a UBS.
Apesar de avaliar que as reformas têm andado mais devagar do que o desejado, a UBS avalia que diversas medidas avançaram desde 2016, como o teto de gastos públicos, mudanças nas taxas do BNDES, Cadastro Positivo, novas regras para a exploração de óleo e gás, reforma da Previdência Social, entre outras.
"Todas essas reformas terão impacto positivo sobre a produtividade, embora exista uma defasagem entre a aprovação das reformas e os efeitos produtivos. "Contudo, os mercados têm antecipado esses efeitos positivos nas contas do governo. Como resultado, títulos do governo de longo prazo estão sendo negociados com uma rentabilidade historicamente mais baixa, ao passo que o prêmio de risco país está próximo do grau de investimento soberano", diz a UBS. O banco destaca ainda a importância das concessões na área de infraestrutura para aumentar produtividade.
Por outro lado, os riscos de um cenário mais positivo se concretizar está em:
- Em um crescimento da agitação social no Brasil, caso a taxa de desemprego não ceda como o esperado. Soma-se a isso, a possibilidade de contágio de outras manifestações na América do Sul
- Diante dessa agitação, o Congresso pode propor medidas mais populistas, especialmente por conta das eleições municipais em 2020
- Decisões do STF com relação à corrupção.
- Guerra comercial da China e Estados Unidos (EUA) podendo reduzir o crescimento econômico dos emergentes e dos preços de commodities, impactando as exportações brasileiras.
Já a agência de classificação de risco Moody's coloca o Brasil como uma notável exceção na América Latina, quando o assunto é risco político. Para a agência, as turbulências na região estão impedindo o avanço de reformas estruturais em diversos países, menos no Brasil.
É justamente pelo maior ímpeto reformista que a agência manteve o rating do País em Ba2, com perspectiva estável. Já a expectativa para o PIB de 2020 é de que o indicador cresça, no máximo, 2%. A Moody's ponderou ainda que o Congresso Nacional tem um calendário apertado para a aprovação das reformas. O espaço de aprovação vai até o primeiro semestre de 2020, já que no segundo, a vida política começa a deslocar para a campanha das eleições municipais.
A agência considerou ainda que a agenda de reformas está sendo tocada em meio a mudanças no plano político: como a saída do presidente Jair Bolsonaro do PSL e a criação de uma nova legenda e a soltura do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. "A mudança no cenário político pode diminuir o ímpeto da reforma fiscal, mas é provável que a reforma tributária avance em 2020, devido ao amplo apoio", disse a Moody's.
O BTG Pactual (SA:BPAC11), por sua vez, tem feito boas projeções para os movimentos do mercado financeiro e para empresas. Em relatório, o banco lembrou que, desde outubro de 2018, as taxas de juros reais caíram de 6% para 3%, o que gera perspectiva de redução dos déficits fiscais e uma relação dívida/PIB mais sustentável para o país.
"A aprovação da reforma da previdência e outras reformas que estão em debate no Congresso podem reduzir ainda mais as taxas de juros de longo prazo. E taxas de juros reais no longo prazo significam menor custo do capital", diz o BTG (SA:BPAC11).
A instituição também espera que a B3 possa alcançar 131 mil pontos no próximo ano, o que representaria um crescimento de 23,4% com relação a este ano.
Para se chegar a esta projeção, o BTG (SA:BPAC11) levou em conta um ROE de 16% (em linha com a média de 2018-19); um prêmio de risco de capital de 3,0% (contra 4,5% hoje e média histórica de 2,2%), taxas de juros reais de 3,0% (como está hoje) e crescimento real do PIB de 2,0%.
Neste cenário, o preço por lucro das ações da B3 chegaria a 16,4x (sem considerar Vale e Petrobras), contra 13,3x do que é atualmente, levando o Ibovespa a 131 mil pontos.
Em simulações mais otimistas, com a taxa de juro real caindo para 2,5% e crescimento do PIB a 3,0%, o preço por lucro da ação poderia subir para 24,7x e a bolsa bater 196.652 pontos.
Por outro lado, no pior cenário, com taxa de juro real aumentando para 4,5%; crescimento do PIB a 1,5% e prêmio de risco a 4,0%, o preço das ações poderiam cair a 9,2, enquanto a B3 desceria para 73.099 pontos.
Já o Credit Suisse manteve a recomendação overweight (desempenho acima da média) para as ações dos países emergentes, recomendando aos seus clientes, portanto, o aumento das suas posições neste mercado.
O Brasil é um dos destaques dessa história. Para o banco, o Brasil, dentre todas as nações analisadas, vive a melhor combinação entre elevada capacidade ociosa e forte impulso econômico. "É o único país onde o crescimento está sendo revisado para cima, e a inflação, para baixo", disse o Credit Suisse, em relatório.
O banco afirma ainda que as taxas de juros, quando ajustadas pela inflação, não estão tão baixas quando comparadas com os EUA, por exemplo, apesar de os spreads nominais baterem mínimas históricas. "Assim, esse cenário deve atrair capital ao Brasil".
Quanto ao real, o Credit Suisse afirma que a moeda parece barata, quando se leva em conta o volume de exportações brasileiras e o superávit quase recorde na balança de pagamentos.
O banco de investimentos recomenda as ações brasileiras, com destaque papéis do setor financeiro.
Por fim, o Goldman Sachs espera que o PIB do Brasil volte a crescer por volta de 2% em 2020, após sete anos, sustentado por um cenário macroeconômico e financeiro mais firme, apesar dos desafios políticos.
A projeção do banco é de melhora modesta no mercado de trabalho, redução da taxa básica de juros (Selic), inflação baixa e sob controle, além de uma boa performance da balança de pagamentos.
Contudo, a consolidação deste cenário dependerá do andamento das políticas de controle fiscal e das reformas microeconômicas para estimular os investimentos. O Goldman destaca que o encaminhamento das medidas tem sido "devagar" e "errático", por conta, muitas vezes, de falta de articulação política.
Para o banco, o aprofundamento das reformas dependerá da capacidade do atual governo de conseguir manter o seu capital político e as condições de governabilidade. Turbulências sociais, forte polarização política e Congresso fragmentado podem impedir a continuidade de mudanças na economia.
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