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Bancos revisam para cima PIB de 2019 e 2020 após surpresa com 3T

03/12/2019 17h59

Por Paula Salati

Muitas casas elevaram hoje a sua projeção para o crescimento da economia em 2019 e 2020, depois dos números do Produto Interno Bruto (PIB) do terceiro trimestre de 2019 terem vindo um pouco acima do esperado.

O indicador cresceu 0,6% entre julho e setembro, na comparação com o segundo trimestre (na margem), enquanto a mediana das estimativas do mercado apontava alta de 0,4%.

Consumo e serviços sustentaram o crescimento, que foi beneficiado ainda pelo início da retomada da construção civil e pela recuperação das perdas da indústria extrativa, provocadas pela tragédia de Brumadinho (MG).

Economistas e instituições consultados pelo Investing.com Brasil estimam que o quarto trimestre deverá ter uma performance semelhante ao terceiro, com um resultado ligeiramente mais forte, impulsionado pela liberação do FGTS.

Diante do resultado mais positivo do terceiro trimestre, foram feitas as seguintes revisões:

  • Citibank aumentou de 1,8% para 2,2% a sua expectativa para a expansão do PIB de 2020.
  • XP Investimentos subiu de 1,0% para 1,2% a projeção de crescimento para 2019.
  • 4E Consultoria revisou de 0,6% para 0,8% a sua estimativa de PIB referente ao quarto trimestre de 2019. Para o ano fechado, houve alta de 0,9% para 1,3% na projeção, enquanto para 2020, a perspectiva é de crescimento de 2,8%.
  • O MUFG (Mitsubishi UFJ Financial Group, Inc) revisou de 1,0% para 1,2% a projeção para o PIB deste ano, uma expectativa que reforça a expansão de 2,8% esperada para 2020. A instituição informou ainda que o carregamento estatístico (carry over) de 2019 para 2020 subiu de 0,9% para 1,0%. Isso significa que, se a economia mantiver, no próximo ano, o mesmo ritmo de expansão de 2019, ela ainda assim poderá crescer 1,0%. É uma herança positiva deixada de um ano para o outro.
  • Já o Goldman Sachs elevou de 1,0% para 1,2% a sua projeção para o PIB de 2019; e de 2,2% para 2,3% o PIB de 2020. A partir dos resultados do terceiro trimestre, o banco projeta um carry over de 0,4% para o ano que vem. Porém, a instituição espera que o carregamento estatístico suba para 0,9% com os resultados do quarto trimestre.
  • Sobre o resultado do terceiro trimestre, o economista da Eleven Financial, Thomaz Sarquis, avalia que o desempenho deve ser comemorado, mas que ressalvas são necessárias, já que parte da surpresa veio de fatores "extraordinários".

    "Em termos estruturais, é bastante visível que há um protagonismo mais forte do consumo, pelo lado da demanda, e dos serviços, olhando para a oferta. Isso significa que a demanda doméstica tem ganhado robustez", diz Sarquis.

    "Nossa projeção era de crescimento de 0,4% para o período, mas creio que o que surpreendeu positivamente foram fatores extraordinários, como a recuperação da exploração do minério de ferro, depois do que ocorreu em Brumadinho", acrescenta o economista.

    Como a base de comparação é muito deprimida, tendo em vista as imensas perdas provocadas pela tragédia, qualquer recuperação, ainda que mínima, acaba gerando um efeito positivo nos números. Em relação ao segundo trimestre, a indústria extrativa mineral cresceu 12%.

    Já entre janeiro e setembro, o segmento registra queda de 2,7%. "Estamos recuperando o terreno perdido", diz Sarquis.

    A exploração de petróleo também puxou o resultado da extrativa mineral. Em setembro, houve importação de plataformas.

    O efeito base de comparação também explica o desempenho positivo da construção civil, que cresceu 1,3% na margem, puxada por reformas e obras residenciais e empresariais de menor porte. Porém, para deslanchar, o setor precisa que as grandes obras de infraestrutura sejam retomadas.

    Sarquis lembra que, apesar do crescimento visto no trimestre, a construção civil ainda está 30% abaixo do seu pico alcançado em 2014.

    Apesar disso, a recuperação do segmento conseguiu impulsionar o resultado da Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF, investimentos), na via da demanda, que avançou 2% no terceiro trimestre, contra o segundo. A produção interna de máquinas e equipamentos também contribuiu para a expansão dos investimentos.

    Tanto a construção como a indústria extrativa conseguiram garantir um crescimento de 0,8% do setor industrial como um todo, quando comparado ao segundo trimestre.

    Dentro do segmento, quem performou mal foi a indústria de transformação, que teve queda de 1,0% no período. Para o economista da Eleven Financial, isso se explica pelo enfraquecimento da demanda externa provocado pela crise na Argentina e pela guerra comercial entre a China e Estados Unidos, nossos principais parceiros comerciais.

    "É por isso que nós temos o desafio de fortalecer a nossa demanda interna, dando prosseguimento à agenda de reformas. Não dará para contar muito com os nossos parceiros externos", diz Sarquis.

    Consumo puxará PIB do quarto trimestre

    A economista da 4E Consultoria, Giulia Coelho, avalia que a liberação do FGTS fará com que o consumo das famílias e os serviços tenham uma performance ainda mais positiva do que ocorreu no terceiro trimestre.

    No período, o consumo cresceu 0,8%, enquanto os serviços avançaram 0,4%, em relação ao segundo trimestre.

    Junta-se ao cenário do FGTS, uma leve melhora na ocupação, o que significa que mais pessoas deverão receber o décimo terceiro neste final do ano, em comparação com o final de 2018. Além disso, há uma melhora do crédito para a pessoa física e avanço gradual da massa salarial.

    "Creio que a gente pode até mesmo se surpreender com o resultado do consumo e dos serviços no quarto trimestre, tendo em vista os resultados da Black Friday", diz Rodrigo Moliterno, sócio da Veedha Investimentos.

    "Grandes varejistas, como a Via Varejo (SA:VVAR3) e a Magazine Luiza (SA:MGLU3), têm reportado que as vendas foram acima das expectativas", destaca Moliterno. Para ele, esse cenário mais positivo do comércio deve recair para a indústria, elevando os pedidos do setor nos três meses finais do ano.

    Além disso, espera-se que a construção civil continue se recuperando no quarto trimestre, ao lado dos investimentos, diante de uma recuperação gradual da confiança na economia.

    Resultado do PIB na comparação anual

    Comparado a igual período de 2018, o PIB cresceu 1,2% no terceiro trimestre de 2019, o 11º resultado positivo consecutivo nesta base de comparação.

    A agropecuária cresceu 2,1%, principalmente, pelo desempenho de alguns produtos com safra relevante no terceiro trimestre, segundo o Levantamento Sistemático da Produção Agrícola (LSPA) divulgado em novembro, como milho (23,2%) e algodão herbáceo (39,7%).

    Já a indústria avançou 1,0% e a Construção, 4,4%, em sua segunda alta após vinte trimestres consecutivos de queda, nesta base de comparação. As indústrias extrativas também cresceram (4,0%), puxadas pela extração de petróleo e gás.

    A atividade de eletricidade e gás, água, esgoto, atividades de gestão de resíduos avançaram 1,6%, favorecida pelo efeito das bandeiras tarifárias.

    Por sua vez, a indústria de transformação recuou 0,5%, influenciada, principalmente, pela queda da fabricação de celulose, papel e produtos de papel; fabricação de produtos químicos; farmacêuticos e Metalurgia.

    Já os serviços cresceram 1,0% na mesma comparação, com destaque para informação e comunicação (4,2%) e comércio (2,4%). Também houve avanços em atividades imobiliárias (1,9%), atividades financeiras, de seguros e serviços relacionados (1,3%) e outras atividades de serviços (0,9%). Já os resultados negativos foram em administração, defesa, saúde e educação públicas e seguridade social (-0,6%) e transporte, armazenagem e correio (-1,0%).

    No terceiro trimestre de 2019, a despesa de consumo das famílias teve expansão 1,9%, seu décimo trimestre seguido de avanço. A alta pode ser explicada pelo comportamento dos indicadores de crédito para pessoa física e pela expansão da massa salarial real.

    A Formação Bruta de Capital Fixo, que são os investimentos, avançou 2,9% no terceiro trimestre de 2019, seu oitavo resultado positivo após quatorze trimestres de recuo. Este aumento foi puxado pela construção e pela produção de bens de capital. Já o consumo do governo caiu 1,4% nesta comparação.

    No setor externo, as exportações caíram 5,5% e as importações de bens e serviços subiram 2,2%, respectivamente, no terceiro trimestre de 2019.